terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Godofredo Alcântara Bispo (Godôr), 20 de novembro de 1913 a 28 de Outubro de 1991


           Godôr, nasceu na zona rural de Pombal, era filho do casal Severino de Alcântara Bispo e Joana Tereza de Paiva(tinham propriedade em Serra dos Martins-RN, mas como nunca foram atrás perdeu-se pelo uso capiau), tinha quatro irmãos: Olivia, Ninir, Amaro e Margarida. Um fato interessante sucedeu  com este casal, antes da união, pois Severino foi caçar no sítio Barra e Antônio Raimundo(que era uma criança na data), puxou o gatilho da espingarda que estava escostada numa árvore, e ao declinar feriu o jovem caçador. Estavam próximos do local o marido de Nenem, filha de João Facundo(carcereiro velho da cadeia antiga, in memória),  e Zé Menandro (pai da popular Lapa, ambos in memória), que o socorreram no sítio uma vez que o único recurso, era a farmácia de manipulação de seu João Queiroga(in memória). Ficou  o morimbundo sob os cuidados de Joana( moça donzela e mais velha do que ele uns quatro anos), e quando ficou recuperado, perguntaram qual seria o pagamento que daria a jovem pela atenção dedicada. Ele então disse:  -`` Casando com ela !`` Como ele era bem de posses, casaram-se em 1912, e dos cinco anos de união foram cinco filhos. Godôr era pequeno quando perdeu o seu pai que residia no sítio Forquilha ao lado do sítio Cambôa. Sempre contava aos filhos que ficava junto de um banco grande de madeira no alpendre de casa e gritava para o pai ao sair para fazer a feira aos sábados:  ``Traga pão Papai!``
Se sentindo distante dos familiares, dona Joana, trouxe a sua família para morar na Rua do Comércio(uma das principais na data),  hoje é chamada Rua, Cel. João Leite. Chegando em Pombal-PB, Godor, não quiz aplicar-se aos estudos, como a maioria dos jovens, se entregou ao trabalho braçal, para sustentar com a mãe a família. Esta experiência rendeu a ele sabedoria e pratica para diversas atividades, era polivalente.
Quando homem formado, conheceu a senhorita Enedina Cardoso Cruz e no dia 12 de fevereiro de 1936, na presença do Padre Valeriano Pereira, na matriz desta cidade casaram-se, e formaram uma família de sete filhos, sendo eles: Severino, Maria da Salete(viúva de Negro Benigno), José de Arimatéia, Francisco Cardoso , Elenita e o casal de gêmeos Francisco e Francisca de Assis.   Assim que casou construiu sua casa na Rua de Baixo, e nunca saiu de lá.  Jerdivan Nóbrega, um filho de Pombal também morador daquela rua, quando criança e escritor, em um artigo que escreveu sobre o amigo Godôr esclarece seu grau de parentesco com a família :  -``Dona Enedina era prima legitima da minha avó, mãe Lourdes e filha de Onofre Benigno Cardoso, irmão de Ana Benigno, minha bisavó, ambos filhos de Benigno Cardoso. Moravam na Rua de Baixo (Rua Benigno Cardoso) numa casa, ao lado da casa de Seu Joaquim e, mais à frente a casa de dona Noca, Chico de Lourdes, Cessinha de Cabine. Do outro lado, dona Porcina e Zé Vicente. Do lado esquerdo, a casa de Maurício Alves, seguindo pela de Zé da Viúva, João Rapadura e a nossa, e por fim, na outra esquina, a casa de Dona Maloura e o campinho onde  armavam os Circos``. Continuou dizendo`` Sua casa era de sapê, sempre à espera do acabamento que nunca veio. À frente, o curral dos jumentos e das mulas . Na parede na parede ... e o retrato do Sagrado Coração de Jesus .``
Lembrou ainda Jerdivan`` Na Rua de Baixo, Godôr era o faz tudo: Barbeiro, aguador (vendia água) tinha uma tropa de jumentos, acho que única herança que deixou para os filhos, além da casa e dos estudos.`` Na realidade Godofredo era também pedreiro, sapateiro, carpinteiro ( pois fazia caixão de "anjo", na época em que não vendiam nas movelarias), "encanava" braço de pessoas e patas de animais com tala de papelão e folha de bananeira ( Ele brincava dizendo que o trabalho dele era melhor do que o do médico, que nem se quer ficava torto), matava animais (marchante), era agricultor, pois tinha uma vazante por trás da Rua de Baixo, e batia tijolos(queimava caieira ), o que garantia o sustento da família, com mais folga. Era uma família feliz, não eram ricos, mas com a sua simplicidade cativava a  todos, do mais rico ao mais pobre!
 ``Comprava de duas, e as vezes até três pernas de animal, para o tempero. Comprava sacas de batata e peixe, que comiámos a semana toda.`` Lembrou Tana, filho de Godôr.
Iam para auxiliar na queima da caieira, os senhores Adamastor e Manoel de Donária, que faziam a maior farra, pois era galinha e todos os tipos de comida possível,e desse modo viravam a noite em alegria! Já o dinheiro do tijolo ele não dava aos filhos, mas quando iam para as festas nos clubes, filhos e amigos, ninguém pagava nada tudo era por sua conta.
Quando era época da política, o ponto do comício era em frente a sua casa escolhido por Dr Avelino Elias de Queiroga(Médico dos pobres). Em sua casa vinham com frequencia Dr. Valdemar, Edmilson Benigno(Negão), Curinha que gostavam de jogar, Felipe, Neri e Bocagem.
O amigo Jerdi comentou :  -``Uma vez ele estava cortando o cabelo de meu irmão João Neto, estilo alemão, o que era muita maldade, pois só oferecia estes dois tipos de corte para os cabelos encaracolados! Ele perguntava a meu pai se era alemão ou pelado, mas na realidade havia pouca diferença. Bom estava no corte do cabelo de João, aí nisso, chegou um camarada dizendo que havia topado por Roxinho, o seu jumento preferido e o mais famoso da cidade (era louco pelo animal), subindo no caminho das Caraíbas, ele deixou o pobre do meu irmão sentado no tamborete com a lata de sardinha na cabeça e a metade do cabelo rapado! Quando foi a tardinha ele retornou com Roxinho depois que amarrou o animal foi que veio  terminar corte do outro lado!
Maria Salete, sua filha lembrou:  -``Papai uma vez saiu dizendo a mamãe que ia comprar uma pareia nova de roupa, passou um tempão no centro, e quando chegou em casa, no lugar da roupa ele chegou foi com duas carradas de pinha, que distribuiu com a vizinhança, foi uma festa só para os meninos da rua! Ele tinha dessas coisas, gostava de partilhar com todo mundo, o que tinha! Sim, eu recordo também, que ele tinha o costume de dizer aos filhos ainda pequenos:  -Vá fazer tal coisa, olhe eu vou cuspir no chão, e é prá estar em casa antes que seque,viu?!.``
Godôr, não era de facil compreensão, era um sujeito teimoso, duvidava até que a homem havia ido a lua. Mais a Pegada de ar foi no dia que Edvaldo Carneiro Filho(Boró), chegou da escola e comentou :  -`` Tio Godôr, eu hoje vi na escola, o professor dizer que a terra girava!`` Aí ele gritou na lata: `` A terra não gira!`` E continuou, quando indagado:  -`` Nedina tá aonde? Não é em Fortaleza-CE? Se a terra girasse, quando fosse de manhã, Nedina passava por aqui e dizia bom dia Godôr, e eu, bom dia Nedina! E a boca da noite dizia, boa noite Godôr, boa noite! Agora seu burro, filho de uma égua, se Nedina quis ir para lá, ela foi de trem não foi com esse negócio de terra gira não, viu! É Por isso que os meus filhos estão tudo cheirando bufa de jumento, ir para escola e escutar uma besteira dessas, num vai não!
Boró lembrou:  -`` Ele tinha uma preguiçosa, que quando ele sentava, parecia um rei, e a gente ficava tudo ao redor dele. Quando foi uma noite chegou uma menina e foi dizendo: - Seu Godôr, mãe mandou dizer, que o senhor fosse lá em casa, porque tem uma porca que botou um bacurinho para fora e não quer botar o resto! Nisso ele se inflou e foi exclamando: -Tão vendo aí seus égua, vocês não sabem de nada! Eu sou pedreiro, enfermeiro, faço parto em jumenta, carpinteiro, e agora vou fazer o parto dessa poica e vou salvar essa pobre dessa poica! Godôr saiu para lá depois de uma meia hora, chega ele e a gente começa a perguntar sobre o parto da porca, ele afirma que tudo estava tranquilo e havia puxado doze bacurinhos. Vinte minutos depois do episódio, chega a menina com um novo recado: -Seu Godôr, mãe mandou dizer que a porca que o senhor fez o parto, morreu! Motivou risos e fazimentos de pouco, pela vantagem contada! O que mais intrigou foi a forma do parto que realizou! Como a porca não conseguia colocar os filhotes para fora de maneira normal, impaciente, ele puxou os doze bacurinhos de dentro da porca enfiando o braço, era vuco, vuco, pegando e tirando!  Não tem criatura mundo que resista a isso não meu irmão!``
 Era um apostador no seu momento de folga, ele gostava de jogar baralho, ludo, jogo do bicho e outros tipos de jogos!
Gostava tanto de jogo do bicho que certa vez sonhou, com o carneiro(ainda é comum os populares apostarem mediante sonhos revelados na noite anterior), e mandou Nedina jogar na banca de João de Doca(avó de Jerdi), quando foi  as 11h00Min, Parrela passou pela casa de Godôr e disse que havia dado Carneiro. Nedina correu na olaria e contou o resultado do bicho para o marido. Ele terminou o serviço e correu para a banca, e já foi dizendo :  -`` Seu João, eu peguei o carneiro, não foi?`` - ``E foi no carneiro?! - Pegou não!`` E continuou :  -`` Você jogou foi na vaca! Com essa resposta Godôr se expritou,    -``Vaca?  Vaca é sua mãe, seu filho de uma égua!``. Bom a realidade, é que seu João nunca levou a sério as coisas de Godôr e tudo se acalmava rapidamente.
Certa feita pediu a dona Nedina (sua esposa), para ir a missa, mas se intreteu na casa de Zé  Arruda(in memória), jogando ludo. Segundo Tana seu filho, o bozó sempre tira as pedras do lugar ao bater no tablado, e acontece que ele se preparava para entra na casa pelo pio. Daí o bozó deu pio, e ele ganha o jogo! Zé muito esperto disse que ele estava pelo dois, e na teima, de pio por dois, Zé Arruda gritou para a mulher que estava lá na cozinha torrando o café, dizendo, -`` ô Maricô, Godôr não tava armado pelo 2 ? Ela respondeu, -`` Tava sim José!`` E bruto Gogôr foi logo gritando, -`` Pelo dois o quê sinha safada?! Você torrando café lá na cozinha lá sabe de nada!`` E foi grande a confusão, que dava para ouvir, os gritos de Godôr lá na sua casa! Eles chegaram até a arrastar facas, depois de muita zoada tudo se resolveu.
Boró citou outro fato de Godôr num jogo de ludo com Adamastor(in memória), ele jogava o bozó que só dava pio, daí quando isso acontecia, ele puxava a pedra para trás, puxou, puxou, quando saiu da entrada Adamastor mata sua pedra! Ele retomou o jogo novamente e o bozo só castigando ele, era pio, pio, e pio! Então ele  foi pro corroló, balançou o copo e disse: -``Filho de uma égua eu quero ver você dá pio de novo! Para sua surpresa o bozó deu pio novamente! Aí Godôr grita para Nedina: - Traga aí esse martelo!`` Rapaz quando ela trouxe, ele pegou o bozó e quebrou ele todinho dizendo: - ``Vai dá pio na égua da sua mãe filho de uma égua!``
Apesar de sua casa ser humilde todos que chegavam lá comiam. Uma vez Nedina preparou a janta e foi chamar o pessoal para comer(era costume preparar os pratos e já deixar colocados sobre as mesas), enquanto estava lá fora, o irmão de Manoel Pedro e Geneton, o pequeno Cirilo correu até a cozinha,e não é que o danadinho comeu todas as misturas(carnes), de todos os pratos postos sobre a mesa, ficando apens a marca do oleo sobre a comida(eles eram pobres e não era comum o luxo de um pedacinho sequer de carne seja qual fosse a qualidade, na sua mesa).
 As pessoas que vinham do banho de rio tinham que passar por lá, era uma casa atraente! Lembrou Lucemir:  -``A gente ia para o banho de rio e tinha de passar pelas terras de Godôr e Tia Nedina, daí eu entrava e tomava  a benção aos dois, pois era um prazer para os mais velhos quando um moço fazia isso(ainda o é nos dias atuais, mas pouca gente faz), na saída, era sagrada a batata que sempre estava no fogo dentro de uma lata, e todos nós  descíamos e só retornávamos no final do dia, eram muito bons os banhos no Rio Piancó!
Quando ficou viúvo e já velho, inventou de visitar o cabaré, e certa feita comprou todos os sapatos das quengas e trouxe para casa!
Boró disse : -``Quando enviuvou ele me pediu para eu arranjar uma mulher pra ele casar. Que eu conhecia muita gente! Então eu pensei, pensei. Quando foi um dia eu disse que havia arranjado uma pretendente. Aí ele perguntou quem era, eu disse que era Pirrita. Ele deu um pinote e gritou: - Vote, quero não! Pirrita já matou quatro (enviuvou de Dácio, de um filho de Antônio Maciel, um farmacêutico e outro popular),  ela vá matar satanás não eu!
Andou meio adoentado de Anemia Perniciosa e se queixou a Joaquim (vizinho e amigo): -``Àcho que não boto longe!`` Seu Joaquim havia passado pelo mesmo problema e ensinou um remédio que tomara e solucionou o problema era o ``ANCLÓ CANTAGALO``, para tomar 10 unidades de uma vez, seqüenciado eram 6 e depois aumentaria para  8 de um grande frasco contendo 120 unidades.Demorou para conseguir, mas deu certo, trouxe de Campina Grande-PB. Com Pouco tempo ficou curado, seu Joaquim partiu e ele permaneceu por muitos anos ainda.
Neuma Paiva revelou que ajeitou o casamento de Godôr com Conceição. ``Toda vez que ela vinha para Pombal perguntava por tio. Quando foi um dia, eu perguntei a ela se ela queria casar com ele e sua resposta foi: -Se ele me quiser eu caso! Como ela era gaga, temia rejeição por parte do pretendente, rejeição que nada! Quando eu falei da paquera, ele tomou um bom banho, si perfumou e esperou Conceição para conversar. Sentia-se solitário então casou novamente com a senhorita Conceição do sítio Riachão em dezembro de 1974, como não tiveram filhos, resolveram adotar uma criança cujo nome é Francisco de Assis, hoje ele reside no Estado do Rio de Janeiro, está casado e vive bem com sua família, graças a Deus!``
            No sítio Riachão não tinha noção das horas, então Conceição batia nas panelas para chamar para o almoço, porque havia começado a construiur uma pequena represa perto da sua casa(para dar água aos bichos e beber, uma vez que ia ver água de jumento com duas latas apenas), e já tinha seus 74 anos, agora enquanto desmatava sozinho para executar seu projeto, deu com a foice no galho de uma jurema e este pendendo espetou-lhe o olho direito. Segundo o Popular Boró da Rua de Baixo, um gaiato ouviu seu comentário sobre o acontecido com o espinho e foi logo sugerindo:  -`` Seu, Gôdo, aí era bom uma papinha de sal, não é?`` Não é que  por seu instinto bruto e sem arrodeios, fez a papinha de sal e segurou por quase, 30 minutos sobre o globo ocular? Boró disse: -`` Sinceramente não sei como ele suportou a dor, mas o resultado foi: Tirado para Campina Grande-PB, para fazer curativos, pois o sal comeu a parte branca do olho dele!``.
 Sua filha Elenita, contou-me que junto com a irmã Salete, tirara ele para a cidade de Sousa-PB, onde o Dr. José Vicente, extraiu o olho dele. Ela comentou: -`` Godor estava ficando louco com a dor, ele pegava faca e foice, era porque a gente não deixava, mas queria a toda custa arrancar o olho, sem anestesia mesmo! Agora depois da cirurgia ele ficou tranqüilo, voltou ao normal, Graças a Deus!``
Como era o único barbeiro da Rua de Baixo, botava os filhos para tirar o cabelo, ele colocava uma cabaça na cabeça, e a tesoura velha cega ia cortando, e quando ele ia cortando arrodeando, Chico sentado em dois tamboretes ia derreando, no que ia derreando ele aprumava uma tapa na cabeça do menino e gritava: - ``Se aprume se não eu arranco seu pé do ouvido filho de uma égua!``
``Teve um tempo que o jogo em Pombal era proibido, nisso Adamastor mais dois músicos que eram da banda vestiram a farda que parecia muito com a da policia . Então eles estavam jogando trancados dentro de casa com 4 lamparinas sobre a mesa, no pé dos jogadores, Joãozinho de Sinhô, aperuando! Nisso Adamastor chegou, bateu na porta e gritou: - É a policia e a casa está cercada! Rapaz, Godôr foi dizendo: -Taí o que foi que eu arrumei! Vocês com esse negócio de jogo aqui em casa! Agora eu vou ser preso! Adamastor disse novamente: -Cala boca velho sem vergonha, , cale essa boca e levante logo! Bota a mesa na cabeça! O dono da casa carrega a mesa e os perús carregam os tamboretes! Joãozinho de Sinhô foi dizendo: -Mais seu Godôr, eu só tava aperuando, num tava jogando! Então o dono da casa falou: - Você é o pior, esse é que deve ir na frente, pois é o tipo do peru mais chato, que eu não quero nem aqui em casa! `` (Boró da Rua de Baixo).
Era muito gozado Godôr ensinado os meninos a ler, pois certa vez chamou Chico e perguntou : - ``Que letra é Esse ô? Pobre de Chico respondeu todo satisfeito falou: -`` É um A! Aí o pai grita: -`` A, o quê filho de uma égua!`` Tome peia!
Foi preso uma vez, no bar de Tico Barro, pois Ramo Ferreira, estava bebendo junto com ele, saiu e botou a conta para que Godôr pagasse, como só estava com o dinheiro da sua bebida 10C$,  o dono do bar o mandou para a cadeia, que foi o seu maior desgosto, pois nunca havia passado por tal situação.
Godofredo Paiva enfrentou uma batalha contra a doença na próstata aos 78 anos, não resistiu muito tempo e logo partiu.
 A godôr, o nosso muito obrigado, por todos os beneficios nas profissões que assumiu, ainda pelos risos despontados nos lábios até de quem não ter conheceu, mas que por ouvir suas histíorias se sente gratificado por teres participado da hiostória desta grande e bela cidade de Pombal-PB. Que o Deus da vida te dê a recompensa  e também te conceda a paz!

         Adaptado do texto de Estela Maris, por Paulo Sérgio

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Os Cabarés de Pombal, 16 de agosto de 1699 a 31 dezembro de 1982

Este artigo, distancia-se da hipótese de levantar uma bandeira em defesa da prostituição, nem busca fazer apologia ao adultério, tão pouco a fornicação ou a desordem. Esclarecer os fatos e relatar os reais acontecimentos da Pombal antiga, apresentando o seu melhor ponto de atração turística e de entretenimento nas suas noites e madrugadas, torna-se o objetivo e foco principal desta coleta de dados.
Relembrar os cabarés e suas grandes festas, iluminados pelos sorrisos dos muitos homens e mulheres  em especial os da Rua do Sabugo/Rua da Rodagem, desta grande e bela cidade de Pombal sob a alcunha de Terra de Maringá, é vivenciar parte da historia de um povo, que sabia aproveitar das exclusões e indiferenças, o seu bem viver, mesmo não vivendo sua integridade moral, sua dignidade, tão pouco os seus sonhos. Assim foram as mulheres castigadas pelo povo e julgadas por um júri infiel e muitas vezes carrasco, que errava e não admitia erros aos seus iguais, esquecendo-se do princípio básico que fragiliza o ser humano, O Pecado, e como diz Paulo de Tarso: `` pois o que faço não o entendo, porque o que quero, isso não pratico, mas o mal que não quero``Rm 7,15
Ao certo a data da abertura da primeira casa de prostituição no antigo povoado do Piancó, e posteriormente Arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó, é um tanto duvidoso, de certo date do ano 1699, pois segundo carta enviada ao rei de Portugal por Albergaria (governador da província da Parahyba), em 16 de agosto de 1699, noticiava o bom sucesso da missão de Teodósio e a solicitação em povoar para afastar a possibilidade de reapropriação dos indígenas Coremas (os poucos que talvez tenham restado), pelo fato do aumento dos dízimos(O velho Arraial de Piranhas, pág. 141). Logo adiante vemos o cartório a registrar seus documentos em meados de 1713, quando já havia sido elevado a condição de arraial.
Era muito difícil ter registrado algum bordel, devido a moralidade da época e a força da religião predominante (catolicismo), por isso encontra-se dificuldade por tais registros. No entanto não houve um povoado, que não trouxesse na sua bagagem um padre (para catequizar as pessoas), uma igreja para rezas ou orações (de modo que o historiador Aristóteles Dimericy, revelou sobre as igrejas, nas grandes entradas no período das cruzadas, eles utilizavam a frase:  `` A espada do conquistador é seguida pela cruz de Cristo), precisava ter ainda uma bodega ou um pequeno armazém (para fornecer os mantimentos às famílias que haviam mudado para o novo povoado, bem como aos trabalhadores dos senhores das casas. E Num local escondido, um bordel, geralmente trazidos pelos senhores ricos, pois uma vez instalados no povoado, a segunda obrigação era trazer para junto de si (não muito as claras),  as suas amantes, colocadas em um caminho pouco freqüentado, a fim de justamente naquele espaço montarem as casas, algumas individuais, outras para que não ficassem sozinhas as mulheres, eles traziam também, algumas meninas para os demais visitantes, ficando a sua preferida como supervisora do local, que rapidamente era lotado, uma vez  que os homens buscavam descarregar as suas frustrações do dia a dia, ou de suas casas, nos braços leves de uma mundana desvalida.
Uma das canções mais bonitas, destinadas as mulheres da vida (as Damas da Noite), `` Meu vício é você `` de Adelino Moreira, interpretada por  Nelson Gonçalves, reprisada muitas vezes, para algum bebúm (encostado em uma mesa de canto de parede chorando ou não, suas dores reveladas), na ponta de uma fina e delicada agulha de vitrola, que  transmitia o verso em melodia, recitando o seu clamor:

``Boneca de trapo, pedaço da vida
Que vive perdida no mundo a rolar
Farrapo de gente que inconsciente
Peca só por prazer, vive para pecar
Boneca, eu te quero com todo pecado
Com todos os vícios, com tudo, afinal
Eu quero esse corpo que a plebe deseja
Embora, ele seja prenúncio do mal
Boneca noturna que gosta da lua
Que é fã das estrelas e adora o luar
Que sai pela noite e amanhece na rua
E há muito não sabe o que é luz solar
Boneca vadia de manha e artifícios
Eu quero para mim seu amor, só porque
Aceito seus erros, pecados e vícios
Pois, na minha vida, meu vício é você ``

Os cabarés de Pombal-PB, segundo informações com Creuza de Love (uma das filhas do dono da maior casa de raparigas da cidade), apontou Zé Vitalino como arrendatário do imovel antes de seu pai, no ano de 1930 e ficou até  meados de 1947, com o mesmo fim!Alguns dias depois, Love arrendou o local trabalhando até 1974.
Seu João Coremas, rei da irmandade do rosário, confidenciou-me que era ainda menino, e ouvia sua avó citar umas casas de prazeres localizadas na antiga Rua do Sol, também na Rua do Rosário, hoje Rua Manoel Cachoeira. Frisou que todas as casas eram de taipa, tendo a que era de Mulherzinha, a de Mocinha em 1932, e a de Dodóia ( que foi a primeira a construir uma casa melhor em tijolo, entre o ano de 1945 e 1950), hoje está construída uma outra casa muito bonita em seu lugar. Eram tempos que muitas mulheres casadas se recusavam a cruzar a linha férrea, para não ficar falada pela sociedade. Lembrou ainda que quando Manoel Antônio de Maria Cachoeira, chegou por aqueles lados, combinado com o padre da freguesia na época, comprou dois casebres e aos poucos destituiu as outras casas de orgias, em nome do ato santo que planejava implementar naquele ambiente. Hoje em seu lugar temos a casa do Rosário de Nossa Senhora, aonde uma vez por ano, centenas de pessoas no final do mês de setembro vêm visitar por razão de sua grande festa.

``Judá, vendo-a, julgou tratar-se de uma prostituta, porque ela tinha o rosto coberto ``Gn 38, 15.

Para datar com positiva segurança sobre esta atividade leviana requer muito estudo sobre o assunto e sua ordem cronológica, mas a citação breve do livro do Genesis, o primeiro da bíblia sagrada (Para nós cristãos), em destaque, cita a palavra `` prostituta ``, que por ser um escrito onde relata os acontecimentos dos primórdios da humanidade (as atitudes dos filhos de Deus, seu povo eleito), denunciam esta atividade como uma das mais antigas, dado o tempo dos acontecimentos.
Os ambientes, como também são chamados os cabarés, eram os lugares aonde os homens da sociedade ou não, levavam os seus filhos varões para iniciar sua atividade sexual (recebiam este presente ao completarem dezesseis ou dezoito anos), saindo eles da curiosidade a respeito do ato sexual.
Era bastante comum entre os jovens mais peraltas a prática da bestêmia, que segundo o padre Damião da diocese de Cajazeiras-PB, é o pecado apontado pela igreja católica, para quem se relacionar intimamente com animais (ainda existe essa prática doentia), eles passavam a apreciar o que a vida oferecia de melhor a um homem de verdade, ``o sexo ``!
Em um passado não muito distante, o antro da perdição (era como as senhoras de respeito influenciadas pela doutrina religiosa que viviam, apelidavam os bordéis), eram freqüentados por todas as qualidades de homens e obviamente todas as classes econômicas.`` Alguns homens preferiam ter uma esposa que cuidasse dos afazeres da casa, durante o dia, mas uma prostituta devassa na cama a noite``, disse  Maria Aline historiadora.
Realizar seus sonhos mais íntimos, tudo aquilo que as suas senhoras jamais ousariam imaginar, tão pouco fazer! Por este e por outros tantos motivos, como explicou sexóloga Regina Navarro, em entrevista ao programa de frente com Gabi, em maio deste ano (o ato sexual era meramente reprodutivo, muito restrito, orientado pela religião, e permitido até duas vezes por semana. As roupas eram longas com pequenas aberturas na altura do sexo, quem extrapolasse morreria, era a orientação dado o esforço fisico), assim sendo eles caiam na orgia, pois as prostitutas não obedeciam regras nem usavam roupas no momento desejado. E como uma espécie de marketing da sua virilidade exposta aos amigos: ``homem mulherengo, das mulheres ou das quengas,``  os levavam, aos próstibulos, e o intuito principal estava sempre atrelado as bebidas e ao ato sexual em si, pois segundo Regina Navarro, ``homem considera normal a sua traição ``.
Genival Severo disse: -`` Em 1967, quando dava as 20hs00Min, o dono do Bar Centenário fechava, tivesse o que fosse no centro . E aí em plena Festa do Rosário , eu estava com um grupo de amigos no centro da cidade, mas aos poucos cada amigo foi recebendo sua namorada, e eu fui ficando sozinho na praça. Bom eu havia terminado um namoro com uma moça de Paulista-PB, e estava ainda roendo por ela, mas namoro terminado comecei a paquerar com umas mocinhas na praça, só que eu havia extraído os dentes da frente com Darío e a prótese não havia ficado pronta a tempo para a Festa, fiquei banguela. E quando as meninas se aproximavam começavam a tirar sarro de mim(ficavam rindo), e saiam. Então eu pensei comigo mesmo, que chegando em casa em plena sexta-feira da festa do rosário antes das 22h00min, iriam dizer que eu estava doente! Foi quando eu decidi que ia para o cabaré!
Quando lá cheguei, encontrei bem apoiado no balcão, o amigo Pandeirinho, que si achava de pé tomando uma pinga, pois a meiota (tipo de cana a granel, dosada numa garrafa de refrigerante), estava encoberta pela boca da calça social que vestia. Bom ele me ofereceu o aperitivo e como estava roendo, naquele dia eu tomava qualquer coisa mesmo! Então ergueu a perna da calça e me serviu (escondia a bebida para não ser perturbado por ninguém).  Não é que ao som das radiólas Brito Brasil Central (BBC Canarinho ),representada por seu  Surza Nicácio. No calor do momento anunciei ao pandeirinho que pagaria as próximas rodadas! Nesse dia também  se fez presente no cabaré, Antônio Vaqueiro, este morava em Sousa-PB e quando vinha trazia uma caixa grande de som, acredito que fosse ela a melhor na época pois tinha muita potência(tinha amplificador e tudo),  daí a gente curtia as músicas enquanto bebia!``
`` No período dos assustados, que era uma festa comum, desenvolvida por dona Miquinha, uma senhora de respeito e casada, que  juntava os jovens daquele bairro e ao sons da radiolas festejavam a alegria de viver ``, lembrou Maria do Socorro Andrade.

``Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram`` Mt 19,12

Há relação neste texto, com o assunto abordado, uma vez que muitas mulheres da Zona, foram feitas prostitutas, e agora se observa que não há um único culpado (a), mas muitos(as)! Nessa linha de raciocínio imaginemos as jovens que foram iludidas por seus pretendentes, que por puro egoísmo, talvez, tenham ludibriado seus sonhos, e como uma boa apaixonada namorada cedeu! Acontece que recebendo suas honras, tornava-as impuras para a sociedade e aos olhos das igrejas.
Com o peso da desonra estavam elas manchadas pela culpa, e eram abandonadas como os leprosos na antiguidade. Eram desprezadas, e algumas até levadas ou arrastadas pelos cabelos por seus pais até a porta de alguma casa de mulheres perdidas, onde eram jogadas na sarjeta quase despidas pela forma brusca como eram conduzidas, tendo de vender o seu corpo para viver. Seria isto ou morrer de fome, pois ninguém daria abrigo a uma desvalida, nem mesmo como empregada doméstica, por medo de um dos filhos se engraçar por alguma delas ou ter seu marido enrabichado na desonrada ( é por isso que muitas senhoras adotavam meninas ainda pequenas para as ajudar na lida de casa, e por ato primeiro, apadrinhava com o seu esposo e as faziam filhas, para afastar tal hipótese de relações de intimidade, ou sentimental de homem e mulher). Outras mulheres, decidiam ir por livre e espontânea vontade, por inclinação ou por acharem bonita, a vida de `` liberdade ``, que viviam as prostitutas, outras ainda  por extremo desgosto no amor e na vida, pois o sentimento de ódio cega as pessoas.
``Por incrível que pareça até aquelas mulheres casadas cujos maridos as abandonavam por motivo nenhum, eram muitas vezes conduzidas para o Vai - quem- quer``(palavras reprisadas por Maria Gerlania, estudante do curso de História na Universidade Federal de Campina Grande, como resultado de sua pesquisa sobre os cabarés do final do século XX), pelos mesmos motivos revelados anteriormente. Era a famosa demarcação dos territórios familiares. Agora muitas mulheres tiveram a oportunidade de criarem os seus filhos, ou si manterem, a partir do soldo do seu trabalho, afastada a hipótese de desvirtuar a sua honra e a sua integridade.
Os desbravadores que no ano santo de 1698, aqui chegaram (reportemonos a este momento), e ao travar o duelo em parceria com os indígenas tapuias, tendo vencido a batalha, pois armas de fogo e homens treinados em guerras, contra homens com pedras e flechas, não havia como perder! Sendo assim, muitas índias entre crianças, adolescentes, idosas e adultas, tiveram algum tipo de violação nas suas vidas, pois destas, algumas foram mortas, outras escravizadas, levando em conta que as tratavam como animais selvagens (nunca como pessoas humanas que detinham dignidade), e ainda outras tantas, pois estas foram brutalmente violentadas, servindo aos prazeres sexuais dos algozes. E o que faziam os índios valentes? Os poucos que restaram foram escravizados, ou sofreram duras penas nas lavouras, até a morte, pois não são eles preparados para levar o tipo de vida do agricultor tradicional, vida que o agricultor levava.


Imaginemos uma jovem pobre de formosa aparência, ela carregava consigo uma benção e uma maldição. Benção, pois a natureza havia sido generosa com ela, e maldição, porque todos os homens a desejariam (pelo menos os que estavam ao seu redor), ao ponto de difamá-la si preciso fosse, para poder vê-la num bordel mais facilmente (muitos pais de família pobres, davam ouvidos aos falsos, por pura ignorância ou brutalidade), e como a mulher era considerada um fardo em épocas passadas, ao ponto de muitos desejarem ter apenas filhos varões, aquela situação, não tinha recurso nem dinheiro para realizar os exames desconfortáveis nas moças, o resultado era a expulsão sem direito de defesa. O caluniador por sua vez, depois iria vista-la lá na casa dos amancebados, outros perdiam o lance sobre a sua honra, pois elas sempre revelavam para as donas das casas sua real situação (dependendo da cortesã, isto valeria um leilão, aonde era apresentado a carne fresca, como chamavam muitos homens, e pagariam muito para ter o privilégio de ser o primeiro da mocinha), quando de fato eram virgens. No entanto não perdiam eles a oportunidade de tirá-las daquela casa e casar com elas, pousando de bons samaritanos!
Nestes rincões como em tantos outros, existia o abuso e a exploração daquelas jovens, que eram coagidas a ceder aos caprichos dos senhores proprietários das terras, ou dos seus filhos, onde os pais pobres moravam, e obviamente como precisavam do emprego, do contrario seriam despejados todos e morreriam de fome.  Algumas que si negaram foram violentadas, e obrigadas a calar, daí quando surgia uma barriga, era sempre de outro também morador, que deveria casar ou morreria antes de negar a sua participação. No mais viraria quenga mesmo dando o desgosto a família que defendera.
O embasamento para relatar os apelos carnais, que fragiliza a humanidade está nos relatos bíblicos como, por exemplo, o citado no livro do profeta Daniel (o da cova dos leões), capítulo 13, 1-64. Que relata a atitude de dois juízes apaixonados por Suzana, mulher temente a Deus e casada com Joaquim, um homem bom. Eles a forçam a ter relações, sob a ameaça de ter seu nome maculado. Como recebem a negativa, os dois Juízes a acusam de adultério, sendo ela julgada e condenada a morte pelo povo, pois eles tinham palavras incontestáveis na sociedade. É quando surge Daniel, que foi enviado por Deus, em defesa de Susana, ele aponta os mentirosos que si perdem por sua própria boca na mentira criada, pagando com suas vidas.
Há ainda a história de José do Egito (não o pai adotivo de Jesus), em Gn 39, 6 -22, por causa dos ciúmes dos seus irmãos mais velhos, José foi vendido para mercadores de escravos, e caiu nas mãos do chefe da guarda egípicia, que o reconheceu por justo, e entregou tudo da sua casa nas mãos. Acontece que ele era afeiçoado de corpo e de aparência, despertando na esposa do chefe da guarda egípcia, os desejos da carne, e como ele não quis pecar, ao conseguir fugir, ela ainda arrancando a sua capa gritou para os soldados: -"meu marido trouxe para dentro de casa um hebreu para nos violentar?". O egípcio, que acreditando na mulher mandou prender José, no calabouço.  Como Deus estava com ele em todos os momentos, não ficou desamparado.
José da Silva Almeida (Picaretti, recebeu esta alcunha do senhor Pedro Alves, um antigo proprietário do posto no triângulo, no ano de 1970, quando no período da emergência. E como estava com fome, Pedro olhou e perguntou si o bicho da cara de Picaretti, gostaria de comer, daí o apelido pegou), como ele mesmo diz, mora no cabaré há 41 anos, e lembrou:       -``  Quando eu cheguei aqui, o cabaré mais afamado era o de Love, pois já fazia cerca de uns vinte anos que tinha cabaré! Mas me lembro do trem de passageiros que passava, trazendo toda sexta-feira as mulheres que vinham de Campina Grande e de outras partes, para fazer a feira e as festas nessa rua, quando era no sábado a tardinha o trem fazia baldeação em Sousa e levava as mulheres para as suas freguesias. Você imagine que ali na frente tinha um cabaré com uma espécie de parada do trem, elas desciam naquele pátio grande, eram cerca de quarenta cinqüenta mulheres, cada uma delas bem trajadas e cada qual mais bonita do que a outra. Aqui era uma festa só,  não existia nada lá para o centro depois das 21: 00hs, não, tudo era aqui, na rua da Rodagem, coisa muito diferente do que a gente vê hoje, acabou!
  Acabou os movimentos, porque deixaram de vir! Aqui era muito violento. Eles começaram a matar as mulheres, muitas vezes eram os próprios gigolôs, pois eram sustentados por elas. Eram uns homenzarões afeiçoados, muitas vezes eram apaixonados, e não queriam deixar elas fazerem seus programas(como o caso de Geraldo Fogoió, hoje in memória, que pôs fim na vida de um viajante das bandas do Ceará, só porque estava sua puta sentada com o homem na mesa, ele puxou o revolver disparou no homem e fugiu tranquilamente na direção da Bulandeira), mas queriam dinheiro, então por ciúmes e até por desconfiança, empurravam a faca! Por isso foi diminuindo, diminuindo, mas também hoje os cabarés são no meio da rua, não há concorrência, só que antigamente a rua da rodagem era concorrida``
O Magro do Cassino (este viveu boa parte da sua juventude nos cabarés de Pombal, desde sua chegada no ano de 1962),disse: -``  você precisava ver uma briga de rapariga! Acredito que era a coisa mais feia do mundo, pois elas agarravam nos cabelos, era tapa, era chute, mais aí o bicho pegava, quando saia a gilete (elas guardavam as giletes em baixo da língua, sublingual, e era com tamanha prática, que bebiam e conversavam com clareza sem deixar notar que guardavam uma arma letal consigo), aí era pedaço de carne voando, porque aquilo é um negócio infeliz, quando pega, ou aonde pega faz um corte feio, e não cicatriza direito nem com a molesta! Eu mesmo tenho um corte aqui no dedo, por gilete.``
 Ele ainda descreveu com precisão a localização de cada casa, hoje no sentido Universidade Federal de Campina Grande-UFCG ao centro da cidade, pois eram quatro casas a esquerda: `` Tinha Love ( este arrendou o prédio no ano de 1947 e trabalhou até 1974, e era o maior  com dezesseis quartos, mas o prédio foi demolido por Chico Pereira), Sebastiana, esta foi uma rapariga que comprou uma faca para o seu homem, ambos de idade, pela manhã e quando foi a tardinha, ele a matou com o presente que recebera), Bina  e Tiquinha. Já a direita tinham sete casas : Chico Novo, Antonia Bento, tinha a casa do velho Cazuza (sanfoneiro que veio de Sousa,  era um que Genival roia pela mulher dele), e ele tinha um cuidado danado na mulher! Maria Anália( foi uma das mais belas e uma das mais valentes das quengas, que já apareceu ), Maria do Menino( Iniciou em 1946 sua casa , quando fugiu de São Gonçalo, após desgostar os seus pais fugiu para nossa cidade. Ela também sabia como fazer uma mulher abortar mediante remédios caseiros, mas  não repassou o invento para ninguém, felizmente),  o detalhe interessante é que Maria do Menino, era bastante respeitada por todos, uma vez que em sua casa só aceitava homens de bem, homens da sociedade, nada de vagabundos, os populares azilados, pois sempre os expulsava. Ainda a casa de  Beatriz  e Olivia Benta. No centro da cidade havia a casa de  Petronildo, que era um cabeceiro (chapeado), muito forte, que morava numa casinha no corredor do rio por trás do Grande Hotel, também conhecido por , o homem das seis mulheres, ( este foi lembrado por Tunillo moto taxi), pois no período das cheias os homens esperavam a canoa para atravessar o rio com Canoeiro, no cabaré do chapeado, em grande festa. Tinha ainda  Chico Novo, Godinha, E o um localizado no triângulo. ``
  O Magro falou que as  mulheres eram trazidas do Estado do Ceará, mais certo mesmo era do Juazeiro pelo irmão de Manasés que era casado com a irmã de Gilson Pandeiro, Manassés, filhos do pastor Daniel(que era funcionário do Departamento de correios e telégrafos e possuía uma medalha que colocava a lapela , e segundo comentários brilhava muito até mesmo nos escuros). Manassés fazia a contratação e importava os serviços das jovens damas da noite (muitas vezes eram assim chamadas), passavam cerca de dez doze dias, recebiam o soldo pelo trabalho desempenhado e seguiam direto para o Ceará. Todas as mulheres eram levadas por Zé Caetano (in memória),  no seu velho caminhão de marca americana(GMC). Depois de uns dias uma nova remessa, era trazida, como uma espécie de rodízio (os clientes gostavam de novidades), em nossa cidade.
O Cabaré do velho Love era tão afamado que fazia uma extensão/ filial do seu Brega para Poço de Zé de Moura - PB, era para lá que iam de trinta a cinqüenta mulheres, que trazia do Ceará na carroceria do caminhão ``.  E foi explicando: -``   A gente chegava lá, e havia uma grande baixa de arroz aonde espalhávamos as camas, e era ali mesmo que aconteciam os encontros amorosos. Estava sempre presente nestas viagens, Cícero de Bembem, para garantir as galinhas no almoço das raparigas, pois só era o que roubava e apenas o que nós comiámos!``
Como as mulheres eram belas, muitos homens si apaixonavam por elas a ponto de tirá-las do bordel e formarem família. Dessas, muitas já partiram e outras tantas sejam viúvas, mas senhoras de muito respeito, e que por ética permanecerão ocultas a suas identidades. Elas criaram seus filhos aqui ou fora desta cidade, instalando sua família noutros lugares deste imenso país.``
A pombalense, professora doutora Sônia Maria Medeiros( da Universidade Católica de Brasília), disse: -``Há muitos anos desenvolvi um trabalho nesse seguimento, só que foi com entrevistas. Conheci muitas delas, inclusive uma que o filho de Chico Pereira havia deflorado sua honra, e foi muito proveitoso o resultado do trabalho!  Veja só, hoje no pós-modernismo muitas belezas são fabricadas em academias, vende-se o produto não pelo conteúdo, mas pela embalagem, que em nada o define. É uma mera especulação do belo que é o atrativo dos olhos.``
O Saudoso Zé Avelino do cartório, contava a história de que Zé Caetano, um dia por pura maldade, virou o caminhão carregado de mulheres na rodagem que liga Sousa a Aparecida( na época distrito de Sousa), quando estava vindo de Poço de Zé de Moura-PB ( esta versão foi complementada pelo Magro do cassino, e por Genival Severo, pois ele planejara deitar o caminhão era em Cajazeiras- PB, mas não conseguiu, então  só para curtir começou a tomar copos transbordantes de cachaça,passado a régua como se fala(era costume seu beber dessa forma mesmo, nas paradas que dava), e  insistiu tanto que conseguiu o feito maléfico de fato no local citado por Zé Avelino. Felizmente nada fatal, apenas gravemente uma maioria ferida e uma pequena parte foram ferimentos leves.
Os cabarés de Pombal, foram espaços de festas, danças e alegrias de fato, para uma grande parte da sociedade pombalense (salvo as donas de casas que sofriam com a ausência dos seus maridos), e motivo de tristeza para muitos outros que eram envolvidos em brigas ou que iniciavam as brigas terminando sempre em tragédias e diga-se de passagem, bem violentas, como pode ser citado o José Serafim  popularmente Zé Sapo( recebera este apelido dada a sua profissão, ele era pescador), segundo o Magro, ele de fato era o homem mais valente de Pombal, para si ter uma noção de sua agilidade e destreza, estando ele num canto de parede empunhado de sua pequena faca de 2 ``( duas polegadas), empunhada invertida nas mãos( talvez para facilitar a aplicação do instrumento letal), seis ou oito homens da polícia eram pouco para ele! Contam que por este motivo dera muito trabalho para a policia, pois ele era perverso e eles só andavam com cacetetes, não tinham armas.
Zé Sapo era o tipo do valente que quando ouvia falar de alguma briga, era o primeiro a chegar no local. Um popular que não quis si identificar, disse que era viciado no cabaré, quando jovem, e uma vez estava numa meia parede daquela casa, quando ouviu o tirinete de copo pelo chão, lá no meio da briga grande, estavam um praça da policia, e por trás Zé Sapo, como expectador. Os guardas nessa época trabalhavam de quepes de plástico, cintos largos na cintura e no peito, atrelando as costas uma faca grande até 1960, conhecida por`` Saibo ``, era o nome correto, uma ilusão de defesa pessoal! No meio de tudo, os socos correndo, tamborete voado no pé do ouvido, estes dois personagens parados, o praça que esperava o momento mais oportuno para acalmar a confusão e Zé Sapo, mas Zé Sapo empurrava o guarda pelas costas para o meio da briga, e este travava os coturnos e chamava de volta,era quando recebia novo outro empurrão, talvez para por fim a briga, ou vê-lo machucado, não se sabe ao certo!
Bom, segundo sua filha Sapinha, que ouvia a sua mãe contar, tudo começou  por causa de uma surra que deram na sua cachorrinha de estimação . Ao que consta foram dois tarefeiros de Catingueira do Vale do Piancó, que trabalhavam na empresa que abria rodagens a construtora Doca Sá cujo feitor geral era Josevi cunhado do dono(estavam arranchados no Areial, mas todos os sábados desciam para o cabaré num grupo grande de homens,neste meio Antônio Fernandes e Antônio Cavalcante). Era contado o fim de semana que o grupo não colocasse fim na vida de um valente no cabaré de Pombal-PB, pois mexeu com um, mexia com todos! Entra Zé Sapo acompanhado do irmão no ano de 1958 (segundo João Raimundo, que na data estava arranchado no grupinho do roí), e fura com sua faquinha (de fabricação caseiro, como a que muitos presos frabricam no presídio hoje), um dos homens, aí desencadeou uma grande briga, o irmão saiu ferido e o oponente esfaqueado correu seguido dos amigos.
Até aí ficaria tudo tranqüilo para o Sapo, pois estava de volta a paz. Sapo ergue o irmão pondo-o nos ombros e saí, do cabaré.  Num canto qualquer lá fora, seus oponentes o esperavam, eles conheciam a sua fraqueza/valentia e um plano macabro estava elaborado, dispararam o primeiro tiro para o alto! Sabiam que não podia ouvir tiro que corria na direção de quem disparava, entrou ele num beco para alcançar o atirador, de repente um golpe de faca peixeira o transpassa, outro tiro para cima, e nova carreira na direção e mais outro golpe, somando um total de dez. Neste ultimo golpe de faca no abdômen, cai desfalecido dentro do córrego próximo da linha férrea, e partiu, já seu irmão foi socorrido e escapou.

``Guarda atua espada, pois quem vive pela espada, morre por ela.`` Mt 26,52

Tinha o Tarzan dos Américos, era assim apelidado por ser ele grande fã do filme Tarzan o rei da selva, que passava no Cine Lux de Pombal. A paixão pelo filme, sua fama de valente, e pelo fato de possuir um corpo escultural ( pois comentários até mesmo de homens relembram sua definição eclética e muscular), dão conta de que não vestia camisa, andava pela Rua do Roí nu da cintura para cima, para chamar a atenção mesmo. Genival Severo lembrou que Love costumava tirar a cota, mas o Tarzan sempre fazia que nada estava acontecendo. Daí Love falava: - ``Ei a cota!`` Para ouvir sempre do popular: -``Deixe de besteira, você sabe que eu não pago cota!`` Como não gostava Love respondia: - `` Você ainda acha marido viu!`` depois seguia.
Este Tarzan, certa vez foi desafiado por outro valente da família cocho, seu nome era Teinha, aí sai todo mundo de dentro do cabaré, batem as portas, por medo, os dois estavam armados, um fica posicionado próximo a casa de Maria do Menino e o outro do lado oposto da rua, e começam os insultos verbais do tipo``Sou homem para entrar em você e sair pela boca!`` tudo mera especulação pois segundo o dito popular: ``dois bicudos não se beijam!`` Não houve nada de tão grave nesse dia, mais anos depois, o Tarzan cometeu um crime, matando um conterrâneo, e fugiu tomando rumo ignorado.``
Carlos Galhardo, um dos mais renomados interpretes da boa música popular brasileira, retrata na canção de Sinhô, ``Gosto que me Enrosco ``, o retrato fiel dos fatos e situações entre homens e mulheres, independente do tipo de vida que elas levavam:

` `Não se deve amar sem ser amado

  É melhor morrer crucificado

  Deus nos livre das mulheres de hoje em dia

 Despresam o homem só por causa da orgia

  Gosto que me enrosco de ouvir dizer

 Que a parte mais fraca é a mulher

  Mas o homem, com toda fortaleza

 Desce da nobreza e faz o que ela quer

   Dizem que a mulher

É parte fraca

  Nisto é que não posso acreditar

Entre beijos e abraços e carinhos

   O homem não tendo é bem capaz de roubar  ``

 

A grande verdade é que a mulher sempre foi o objeto de desejo e cobiça dos homens, ao longo da história e evolução da humanidade, e para conseguir seus objetivos eles eram capazes de tudo.
 Apesar de sua pouca força muscular, pois esta dividida com candura e docilidade (nem todas claro), são elas quem ditam o curso da vida sentimental, e as grandes responsáveis pela sanidade deles(basta apaixonar-se para deixar visível, o fundamento deste argumento), por causa dos sentimentos, e os mais variados possíveis, uma vez que nem sempre o amor ou a paixão tomavam ou ainda tomam, lugar no dispositivo, mas sim, a obsessão ,o ciúmes ou  a possessão. Em muitos casos o individuo é levado a tentar contra a própria vida, por não obter resposta da figura amada, e objeto de profundo desejo. Onde podemos refletir,

`` O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;Tudo sofre, tudo crer, tudo espera, tudo suporta. ``1 Cor 13,4-7

A nossa nova sociedade, a sociedade da era da internet, das comunicações sociais e mentes abertas, veste a moralidade em cores variadas, pois para cada eventualidade, um colorido diferenciado, principalmente quando o assunto é particular (críticas afastadas).
Há uma dívida aberta para com centenas de milhares de pessoas do sexo feminino, as mulheres prostituídas, que referenciadas foram por séculos, como: desvalidas, impróprias, imorais, perdidas, incultas, da ralé, amaldiçoadas, ladras de maridos e destruidoras de lares (mesmo quando eles eram os principais na culpa, pois não havia um encanto ou ameaça que justificasse a sua permanência nos cabarés), tendo seus predicados negativos atribuídos muitas vezes a sua prole, que em nada tinha a ver com as dificuldades de suas mães. 
A sociedade e as Igrejas (com credos variados), talvez até inconscientemente, frustraram sonhos, e contribuíram para o avanço das plebes (mesmo exercendo papel doutrinador), ao apontar apenas erros, jogando pedras, como si não possuíssem faltas graves, ``Aquele que não tiver pecado seja o primeiro a atirar uma pedra `` Jo 8,7. Muitos caminhos existiam e poderiam ter sido apontados com um pouco mais de carinho e atenção ( é obvio que quando isso foi feito, algumas pessoas tornaram a se perder)`, exigindo certa tolerância. O que vemos nos dias atuais, é que a moralidade reside em poucas casas, se submete nos batentes de algumas outras, e não entra em terceiras opções, pois criam-se domesticados, prostitutas(os), no quarto ao lado dos pais (medida adotada, por ser mais seguro ou mais fácil de controlar a localização dos herdeiros, salvo quando das uniões ilícitas), uma verdadeira frustração para aqueles conservadores do passado, caso presentes se fizessem por um dia apenas na nossa realidade.
Desponta-se sob esta óptica uma abertura para as desculpas pelas muitas dezenas de calúnias proferidas as mulheres alfabetizadas pela escola da vida. Um pedido de perdão desta atual sociedade, que nem de longe se assemelha com a do passado, porém não está isenta dos seus erros com estas semelhantes de eras diferentes, pois em todas as épocas o erro carnal se faz presente.
As casas e salões comemorativos, da Rua da rodagem, as mulheres pelas festas e alegrias que elas proporcionaram a esta terra de Maringá, em um período de escassez de manifestações sociais, fica registrado o mais profundo agradecimento, independente das situações com as quais foram proporcionadas. Fizeram as alegrias dos filhos desta terra, cidade abençoada, que Deus conceda a todas elas a felicidade, a paz e a recompensa devida, conforme Seu Julgamento Justo.

                                                                                                                                          Texto Paulo Sérgio