segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Raimundo Gomes de Lacerda (Raimundo Sacristão), 15 de fevereiro de 1926 a 31de julho de 1995


    
             Nascido em Cajazeiras-PB, Raimundo Sacristão era filho de Manoel Gomes de Lacerda e Isabel Gomes de Albuquerque, tendo por irmão Benedito Lacerda (in memória), estudou em Cajazeiras, e ainda adolescente foi morar no Rio de Janeiro, quando retornou, Raimundo, bem jovem ainda, a convite do Mons. Vicente de Freitas (grande visionário e bem feitor desta cidade), veio morar em Pombal, e aqui chegando ficou trabalhando como Sacristão na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Ele exerceu a função de sacristão, trabalhando desde o tempo do Monsenhor Vicente de Freitas, estendendo-se até o período do Monsenhor Oriel Antônio Fernandes (ambos in memória, Cônego Oriel , está lembrado neste blog).

Raimundo Sacristão, contraiu núpcias com Maria das Dores de Medeiros, filha de Inácio Adauto de Medeiros e Liliosa Nóbrega de Medeiros, em 10 de fevereiro de 1950, perante o Pe. Vicente Freitas, e a escrivã Guiomar Tavares Formiga (casamento este com efeito civil), e desta união nasceram quatro filhos: Fatima, Marcos, Lucia e Raimundo Filho.


No ano de 1958, Raimundo Sacristão cria o serviço de Alto-Falantes de Pombal, ao mesmo passo que foi adquirido pelo Cong`Oriel, o som da igreja matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso (segundo Dulce, sua amiga particular, as cornetas eram seu chodó, ficava feliz quando alguém elogiava o sistema de som da nova matriz, e uma arara quando diziam um tantinho assim delas!). Raimundo denominou o seu empreendimento de Rádio Difusora Maringá. Tinha uma visão de futuro alargada, e o nome não poderia ser melhor, como Pombal é também conhecida por Terra de Maringá (por causa da lenda da Cabocla), caiu como uma luva! A difusora foi de fato um sucesso, uma inovação para esta nossa pequena cidade em todos os aspectos possíveis.
A Difusora Rádio Maringá revelou nomes como José Geraldo, Zeilto Trajano(in memrória, lembrado neste blog), e o pequeno Clemildo Brunet, que estreava com apenas 12 anos de idade, já demonstrando sua forte tendência para o rádio. Ela marcou época em Pombal, através dos seus “cabaços” – o termo é de Genival Severo, dado aos autofalantes colocados sempre nos lugares mais altos e movimentados da cidade, tais como a Coluna da Hora e de fronte ao açougue. Raimundo sacristão e sua equipe, que envolvia apenas Zeilto Trajano e ele, a priori, faziam as coberturas externas, com o sistema de som, como era o caso da festa da Padroeira Nossa Senhora do Bom Sucesso, quando eram realizadas, a parte social ao lado da praça Getúlio Vargas, e a do Rosário(Festa de Setembro e Festa de Outubro, antigamente).
Soube por Genival Severo que  no ano de 1958, o Brasil foi campeão Mundial, e Raimundo ou Zeilto (não recordou direito), havia comprado um disco de cera com as músicas de todas as seleções. Bom numa tarde Zeilto Trajano, colocou o disco para tocar, e deixou Clemildo no comando do equipamento de som, saiu para escutar as cornetas que vibravam com as belas canções e na esquina bem sentado num banquinho, Zeilto, com toda polpa, fumando seu cigarro, rodeado pelos transeuntes que perplexos rapidamente se aproximavam dele. Genival disse: -‘’ Eu sei que passou um gaiato nos estúdios da difusora Maringá e disse para Clemildo, que era novato: - Olhe, Zeilto tá furioso com você, porque o horário é para música e você esta tocando este disco de jogo aí! Clemildo, rapidamente trocou o disco, confiando na palavra do homem! Quando parou de tocar o disco Zeilto Trajano, correu para os estúdios, para saber o que havia acontecido, então arrancou o disco que estava tocando e jogou pela janela! Neste momento acabou caindo nos pés de Raimundo Sacristão, e quebrou, aí foi um fuá maior do mundo, e terminou Raimundo mandando Zeilto ir embora, e depois se arrependeu, chamou de volta (anos mais tarde Zeilto Trajano, saiu, mas para fazer carreira na rádio Alto Piranhas, de propriedade da Diocese de Cajazeiras. Na época, o jovem locutor foi apresentado pelo então padre Martinho Salgado, que o levou numa Rural, junto com Genival Severo e Arruda, relatou o Dr. Joaquim, ex- juiz de pequenas causas).
Genival Severo lembrou uma das presepadas de Zeilto Trajano dizendo: -“Adamastor (in memória), era que sabia muita coisa sobre Zeilto, pois também era da banda. Agora me parece que a turma saiu para tocar numa cidade vizinha e foram em cima de um caminhão, e todos tinham de ficar juntinhos. Rapaz, como não podiam si mexer, nem como parar, Zeito urinou nas calças de um colega do trombone que estava a sua frente! Virgem, quando chegaram lá o pobre estava todo mijado, aí fizeram aquela algazarra, terminou que o rapaz nem queria descer!”
Raimundo Filho disse: -‘’Ainda bem criança, Zeilto Trajano passou a fazer parte do meu cotidiano pondo um microfone em minha frente pra que participasse dos programas de auditório na rádio do meu pai, a Maringá de Pombal, sua voz grave e encorpada ainda permanece em minha memória, lembrando também dos bons tempos da Discoteca Dinamite quando os políticos eram postos no canto da parede na Radio Alto Piranhas’’.
Genival Severo comentou nestes termos: -‘’Nos invernos pesados da década de 60, Raimundo mandava Zeilto consertar as cornetas afixadas no Mercado Público, as que o vento virava, e quando ele subia, vinha por cima das telhas quebrando o telhado alheio. Daí a pouco chegavam as raclamações, sobre as telhas quebradas, aí Raimundo gritava para Zeilto, que ainda estava lá no alto: -Tu vai me quebrar desse jeito Zeilto, pelo amor de Deus!’’ E continuou lembrando: -‘’Por volta do ano de 1963, eu peguei amizade com Clemildo Brunet, era bem novinho, voz fina ainda. E um dia ele me convidou para ir aos estúdios da difusora Maringá, que funcionava aonde é a loja de David hoje, na Rua João Pessoa, mas as bocas de som, eram na coluna da hora, no mercado como falei anteriormente, e no açougue. Rapaz  quando eu entrei, fiquei besta com tudo que vi, pois eu era alucinado por difusora! Aí  com um pedaço chegou Raimundo, e ele era todo bruto, foi logo dizendo: - Não quero menino aqui, vá embora! Virgem! Eu saí envergonhado, meio sem jeito e todo desgostoso! Os horários da difusora eram de 09hs00min até as 11hs00min e das 15hs00min as 18hs00min.”
 Genival também lembrou , que as festas da padroeira, parte social, começou  a perder forças, então Raimundo transferiu seu equipamento para o lago centenário. E ele comentou: -‘’ Raimundo  colocava o disco para tocar e ia para a mesa dos amigos, pois gostava de tomar uma cervejinha. Quando o disco terminava o lado A, ele saia e vinha da mesa onde estava e subia próximo a coluna da hora para trocar o disco! Eu já havia decorado o sistema do aparelho de som (era um amplificador PHILLIPS meio alto, cerca de 30 a 40cm, os botões de comando eram enfileirados; o primeiro, girando para a esquerda, abria o microfone e para a direita o toca disco), então o disco acabou, e antes do dono se levantar eu o troquei! Na mesma hora apareceu um rapaz para dar um aviso, e pediu que eu abrisse para fazer, e eu fiz! Raimundo chegou na hora e não me reconheceu, já estava quentão. Ele simplesmente perguntou: -Rapaz você sabe mexer com som?! Então pediu que eu o ajudasse; fiquei  até tarde da noite lá. Depois deste fato nos tornamos bons amigos, pois outro vez ele veio me chamar para cobrir a festa de são Francisco em São Bentinho, no ano de 1970(na época comunidade), e a festa seria de nós dois. Ele havia dito, que nós iríamos para fazer a cobertura daquele evento religioso, recebendo e passando os recadinhos, bem como atender os pedidos musicais a C$1.000,00(Um Cruzeiro),  foi como prometera! As moças vinham direto até mim. Ora eu já ia de graça, só pelo prazer de aprender mais, quanto mais recebendo!’’
            Fatima lembrou: -‘’ Ainda pequena, sonhava em ser cantora. Eu pegava o microfone para cantar, e enquanto cantava, pensava que toda cidade estava me ouvindo, só que eu descobri, que  o meu pai, desligava os microfones! Aí eu esperava Zeilto Trajano chegar para eu pedir para ele ligar o microfone e assim eu poder cantar, mas todos dois me enganavam.’’
Raimundo, exerceu suas atividades como Agente Administrativo no Ministério do Trabalho, ainda em Pombal por volta 1968, no prédio ao lado da casa paroquial, ao lado da Nova matriz, onde funcionou uma gráfica e hoje funcionam dois prédios comerciais. Uma pessoa deu conta que Raimundo era muito dado ao trabalho, mas quando bebia ficava completamente diferente daquilo que era, pois chingava sozinho, falava alto, tudo influencia do álcool, pois no normal ele era atencioso e educado!
Maciel Gonzaga (pombalense, que é advogado e jornalista), falou: -‘’No início da década de 60 já era seu ajudante como “coroinha”, tocava o sino, ajudava nas missas, nos batizados e casamentos, etc. Mas, nas horas vagas o acompanhava até o estúdio da Difusora Maringá e lá ouvia e apreciava o trabalho dos locutores. Eu passei a me interessar pelo rádio. Estava me descobrindo. Aí Raimundo decidiu não mais levar à frente o seu projeto da Difusora Maringá e optou por disputar um cargo de vereador – que era o seu grande sonho- entregou o bastão para Clemildo Brunet, que logo criou o Serviço de Alto-Falantes A Voz da Cidade. Aí, eu não perdi tempo e tomei a minha primeira decisão na vida: Abandonei o cargo de ajudante de Sacristão, e fui trabalhar com Clemildo, Zeilto, Zé Geraldo, Genival Severo, Eurico Donato e tantos outros! Anos depois, encontrei-me com Raimundo Sacristão em Campina Grande, e ele ficou hospedado na minha casa, no bairro do Catolé, por dois ou três dias.  Já trabalhando na Rádio Caturité o levei até a emissora e apresentei aos amigos. Lembro-me de uma frase dele se dirigindo ao diretor-superintendente da rádio, o ex-padre José Cursino de Siqueira: Cuide bem desse neguinho. Ele é de ouro!”

               No ano de 1977 resolveu levar a família para morar em João Pessoa, para facilitar os estudos dos filhos, tentar algo melhor para todos os seus. Vitima de um aneurisma abdominal, em 1995, Raimundo Sacristão, partiu.
No ano de  2007, Raimundo foi lembrado pelo amigo Clemildo Brunet que concedeu aos seus o Troféu Imprensa da cidade de Pombal, como um agradecimento. Clemildo falou: - “Marcou, eu era controlista e ele me deu a oportunidade de ser locutor incentivado por Zeito Trajano. Ele encerrou com a difusora em 1964 a minha veio em 1966, mas já foram novos equipamentos, e se sintonizava nos rádios das casas, tinha um transmissor de ondas curtas, pegava na segunda faixa do receptor, o nome da minha era A Voz da Cidade, a gente não podia chamar de rádio, pois não tinha registro, era clandestina!”
A Raimundo sacristão o nosso muito obrigado, sua contribuição foi única para nosso povo e sua história. Que o Deus da vida o abençoe, o recompense e conceda-te a paz.

Texto  adaptado de Clemildo Brunet, por Paulo Sérgio, www.contandosaudade.blogspot.com.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

José Benigno de Sousa (Lelé), 22 de outubro de 1910 a 12 de janeiro de 1996


Seu Lelé(popularmente), era natural de Pombal, filho de Filemon Estevão de Sousa e Ana Benigna de Sousa. Ele teve por irmãos: Mestre   Álvaro, Maria das Dores e Benigna(Lourdes). Seus estudos se deram em escola particular no ensino primário em Pombal.
            Segundo Jerdivan Nóbrega, a sua família  por parte de sua avó paterna, como é comum em famílias judaicas,  dispensava um respeito todo especial ao seu  patriarca, que funcionava como uma espécie de líder conselheiro. Do conhecimento de Jerdivan as raízes lançadas em pombal, se deu com a chegada  dos irmãos João Ignácio Cardoso D’Aarão e Francisco,  no começo do século XIX, que eram originários do sítio Jacoca, hoje Conde, do engenho Forte  Velho e do engenho Tibiri,  localizado no  município de Santa Rita’’.
Lelé casou-se a 1º de Janeiro de 1940 com Maria do Carmo Moura, com 22 anos de idade e filha de Guilhermino  A. de Moura e Francisca Alves de Lima, mas partiu aos 24 de setembro de 1940. Sete anos depois, ele decide recomeçar a sua vida contraindo matrimônio mais uma vez aos 20 de setembro 1947 com Elisa Abrantes de Sousa(in memória recentemente), que era natural de Sousa, filha de Pedro Inácio da Nóbrega e dona Cândida Abrantes da Nóbrega. Desta união nasceram: Eliezer Gandhi e Maria do Socorro (in memória), Elisane, Verneck Abrantes(o escritor), Eliene, José Filho, Francisco José  e Cândida Abrantes de Sousa.
Exerceu várias atividades em nossa cidade. Foi agricultor, trabalhando nas terras da sua mãe, foi “apontador de trabalhadores”( por  ocasião da construção da linha férrea), e manteve uma alfaiataria por muitos anos, sua ocupação maior, pois tive informações que era um dos melhores. Em 1955, ingressou na política, e  foi eleito vereador, apesar dos poucos recursos financeiros,  tendo ainda oito filhos para encaminhar na vida. Ele colocou como objetivo maior os estudos dos seus filhos e conseguiu esse fim. Como político seu trabalho foi reconhecido, tanto é, que o povo o reelegeu mais cinco vezes, vivendo na política pombalense por 29anos e 4meses( o vereador com mais tempo na Câmara Municipal de Pombal até os dias atuais, segundo Vicente Cassimiro que legislou com ele algumas vezes). Sua última legislatura, ocorreu de 1983 a 1988, já com a saúde precária.
Lelé não fazia campanha ostensiva, limitando-se a conversas nas ruas e visitas a casa dos seus eleitores amigos. Ele sequer fazia “santinhos” ou cartazes, pois a divulgação da sua imagem era feita pelos seus familiares e pelos que tinham por ele o respeito que se tem por um homem sério e pela própria história da família Benigno Cardoso.
 Foi ele o pombalense, que por mais tempo presídio a Sociedade Artística e Operária Beneficente de Pombal (S.A.O.B), mais conhecida como a SEDE Operária, a mais antiga sociedade beneficente do município, fundada no dia 8 de julho de 1934 pelo músico Francisco Ribeiro. No final dos anos de 1940, José Benigno – Seu Lelé assumiu a Presidência da Sociedade e permaneceu na mesma por 43 anos.
Na década de 1950, com verbas do governo federal, intermediadas por Dr. Janduhy Carneiro, José Benigno construiu os dois prédios da sua sede própria, e que serviram por muitos anos como instituição de ensino fundamental.  Ali funcionou o primeiro cinema da cidade, pelo saudoso Manoel de Sousa Bandeira,  também, muito utilizada para reuniões da classe operária, encontros para as noites de mágicas do professor Guimarães, festas sociais, local da realização dos grandes carnavais de antigamente, organizados por Adamastor Gouveia e Zezinho sapateiro(ambos in memória), e a  primeira biblioteca pública da cidade de Pombal, com livros de autores brasileiros e da literatura universal. Além do prédio da Sede, Lelé construiu um patrimônio físico para Sociedade Artística e Operária Beneficente, a exemplo:
     - Construção de unidades residenciais para seus associados;     
     - Construção de túmulo no Cemitério N.S. do Carmo para os associados;
     - Desenvolveu programas assistências que, até hoje, são inovadores, com o apoio à melhoria de renda dos associados, oferecendo cursos de capacitação e concessão de máquinas de costuras, em sistema de rodízio;e
        -Mantinha um serviço assistencial médico e odontológico permanente aos seus associados, bem como ajuda emergencial.
     Lelé  construi para moradia, a segundo casa residência na futura Rua Jerônimo Rosado(o construtor foi Agostinho dos Santos), em frente a primeira, que foi de José Leopoldo Urtiga. José Benigno foi um homem de procedimentos exemplares. Uma lembrança de integridade moral, honestidade e de grandes amizades. Era comum parar os filhos de seus amigos na rua, só para saber sobre a família ou com intuito de aconselhá-los, a pedido dos próprios pais desses adolescentes. Cumprimentava todos que encontrava pelo seu caminho, independente da classe social ou idade. Tinha um grande amor pela política, à cidade e ao povo pombalense.
Verneck mencionou que uma das muitas lembranças suas era a harmonia familiar, que ele proporcionava. Uma outra lembrança de Verneck se deu por motivo da chegada do rádio na cidade a partir dos anos 50, e expandido no começo dos anos 60. A respeito disso ele comentou: ‘’Nosso pai sintonizava na rádio Tupi do Rio de Janeiro, ouvindo as velhas canções,  ele  ficava a dançar com nossa mãe! Para motivar a leitura dos filhos, comprava a revista O Cruzeiro, Jornais e livros. Uma lembrança marcante da nossa infância era quando à tardinha ele fazia uma caminhada diária da Rua Jerônimo Rosado para Rua de Baixo, onde morava tia Mila. Juntos iam nosso irmão Ghandi montado em um carneiro chamado Belém, o que chamava muito atenção por onde passávamos. A chegada era fraterna e com cadeiras na calçada, onde ficava a conversar por horas com os familiares e amigos.  Meu pai repassou aos filhos, honestidade, dignidade e boas amizades’’.
      Lelé  foi o último líder dos Benignos e Cardosos,  responsável pela agregação da família  e que nos dias de hoje faz a devida falta, quando  em certos momentos da nossa vida se procura a sabedoria de líder, de um guardião  para um bom  conselho.  Certa vez, na “Outra banda” terra dos nossos avôs, ele pediu que eu plantasse um pé de manga, e disse: “em dez anos ela já vai botar os primeiros frutos”. Respondi que  era muito tempo e  que não valia a pena. Lelé me levou   até a parte alta do sitio  mostrou uma frondosa mangueira, ali existente e perguntou se eu sabia por que aquela mangueira era conhecida por todos da família como o “pé de manga de Lelé” . Respondi que meu pai havia dito era por que ele, Lelé, quem a plantou. Ele insistiu: “você já me viu colhendo manga ai?” Respondi que não, ai ele disse: quando eu plantei esta mangueira eu também pensei que ia morrer e não a via botar, mas sabia que alguém um dia ia colher aquelas mangas. Era o espírito socialista, de um homem que se doava para  atender  as necessidades dos outros.          
     Quando  menino eu me acostumei a ouvir minha avó, e depois meu pai e meus tios, se referirem ao patriarca e líder  “Pai D’ Airão”, e depois “Pai Benigno” que viveram no inicio e no final do século XIX respectivamente. Acredito que eles, meus tios,   não os tenham alcançados, mas  de tanto ouvi-los falar, fortaleceu em mim a imagem de homens rígidos que exerciam no seio famíliar as suas devidas autoridades, de forma que não se tomavam decisões sem antes ouvi-los.
    A Seu Lelé o nosso muito obrigado, que seu testemunho de vida, motive muitos pombalenses para o trabalho social. Quem dera que outros na nossa atualidade, pudessem intervir e fossem ouvidos e respeitados pelos menos ajuizados! Que o Deus da vida, te conceda a tua recompensa e também a tua paz.

 
Texto adaptado de Jerdivan Nóbrega de Araújo, por Paulo Sérgio. Blog Contandosaudade

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Francisco Dantas de Morais (Chico de Ernesto), 23 de junho de 1923 a 27 de outubro de 1980



              O popular Chico de Ernesto, era natural de Pombal-PB nasceu e morou na rua da Cruz, por muitos anos, mas terminou os seus dias na Rua Professor Luís Ferreira Campos(num setor apelidado de Cacete Armado). Seus pais chamavam-se Ernesto José de Souto e dona Rosélia Dantas de Morais(Rosa de Ernesto), e teve por irmãos Cabo Luís, Raimundo Nonato, Cícera, Maria e Lourdes(In memória), além de Maria Aparecida, Aristides(Cachorra Velha, o goleirão), e Damião. Estudou muito pouco (pois nas eras passadas o comum entre os comuns era alfabetizar apenas para escrever o nome, mas o certo mesmo era tirar os documentos para poder votar e depois a lida da roça), as condições financeiras, para se deslocar para fora do estado e estudar eram poucas.
Chico de Ernesto, tinha como profissão oficial pedreiro, mas também foi pintor. Era ele quem sempre pintava a Igreja Matriz de Pombal, era o único a subir nas Tôrres daquele templo religioso. Soube, que o seu pai era especialista só em construção de torres de igreja, com ele,  Chico sempre ajudando. Após abandonar a família, seu pai foi morar em Malta, mas antes de partir desta vida foi abandonado pela outra mulher e tornou a Pombal, onde ficou por casa de Aristides(Hoje, segue o seu feito nas pinturas, Ernesto o seu sobrinho). Chico de Ernesto foi também, após ser nomeado, juiz de menores, e sempre supervisionava os moleques em suas brincadeiras, não os deixando jogar bola na rua, jogar bila, brincar de triângulo, soltar pião nos terreiros ou vias públicas, entre outras brincadeiras que julgasse perigosa para os transeuntes. Por esta função abraçada arduamente, gerou desafetos entre os moleques abastardos e seus ricos pais insatisfeitos, que nunca conseguiam argumentos para convencer que o juiz nomeado em exercício (hoje é uma espécie de conselheiro tutelar), estivesse errado, pois sua razão prevalecia sempre! Provavelmente haveria a discussão e ele seria com certeza o vencedor, daí o linguajar popular nas ruas, nas esquinas ou lares de Pombal: - “Agora pronto! Diga aí razão de Chico de Ernesto!” Este termo é bem comum em nossa região. Não bastasse a nomeação do juizado de menores, Chico também sentou praça por duas vezes (simplesmente, policial militar), quanto as datas e o tempo de duração não obtive informações exatas, mas saía do destacamento e pouco tempo depois era chamado novamente para por ordem no lugar.
Segundo Beto Bandeira, que ouvia a conversa dos adultos de longe (porque as criança jamais interferiam em conversa dos pais, jamais!), era conhecido também, como sendo ele o caçador de lobisomens da cidade, pois era “forte e disposto”! Bem na verdade, o mito trazia por trás, personalidades da sociedade, de moral nada duvidosa, e em função das fraquezas do corpo disfarçavam-se de preto e vagavam na calada da noite para encontros amorosos ou para afanar galinhas nos chiqueiros alheios, daí com todo aquele terror espalhado, o medo era presente nos populares, que não desejavam vagar por suas ruas depois de certas horas!). Pois bem, era o Chico de Ernesto, quem conseguia tal proeza, de aquietar os “assombros” do povo!
Ivo Geraldo disse : -“Eu era pequeno e estava com um grupo de amigos, então eles começaram a gritar para Chico assim: - Tá de boa em Chico de Ernesto! Eita, Chico de Ernesto tá de Boa! Chico não disse nada, pois estavam presentes neste momento Jandhuy, Ruy e Dalva Carneiro que conversavam na esquina da casa de Claudia Fontes(ambos in memória), próximo a Igreja Matriz, e quando eles saíram, Chico então se aproximou e disse para mim: - Primo, saia daqui! Vá embora para casa agora! Chegou junto dos moleques e perguntou: - Quem ta de boa o que? “ E Ivo continuou: - “ Agora eu acho que ele não bateu neles, porque viu que  os meninos eram de família rica, mas do contrário, o pau tinha corrido”.
Francisco Dantas casou-se sob as bênçãos da virgem do Bom Sucesso na presença do saudoso Padre Acácio Cartaxo Rolim, que assistiu aos juramentos com Maria Cristina da Conceição( filha de Venácio Fernandes de Sousa e dona Cristina Lourenço da Conceição), em 16 de setembro de 1944, na igreja matriz. Desta união tiveram apenas um filho, João Bosco(in memória nos anos 50). Em 16 de fevereiro de 1950, Chico enviuvou, casando  após a partida de sua primeira esposa com Rita Pereira da Silva com 22 anos,  no dia 10 de setembro de 1950, sendo assistidos pelo Pe Vicente Freitas. Seus padrinhos foram Ozório Queiroga de Assis e Epitácio Vieira de Queiroga. Com Rita foram 11 filhos: Damião, Dalvinha, Socorrinha, Valmir (Carú do Constituinte), João Bosco (Negro Gato, um dos maiores goleiros pombalense), José (Zé Ventinha), Negro Tina, bem como Geraldo (in memória), Antônio Gilmar, Francisco Junior (in memória), e Maria(in memória).
Chico de Ernesto era muito disciplinador, gostava de manter na linha a esposa, bem como aos seus filhos, que eram bem empestados, como me contou Negro Gato. Foi não foi, a chinela corria! Já a irmã de Chico, Cida, acrescentou: -“Cansei de ver a corda alisando o côro dos negrinhos no meio da rua, ou dentro de casa mesmo, pois eles eram danados por demais! Por muitas vezes eu trancava eles dentro de um quarto de lata e passavam era dias! Olhe eles eram umas pestes, não tinha quem aguentasse não.”
Negro Tina comentou relembrando,  que João Maria, filho de Cabine, chegou para um vendedor de livros de cordel e perguntou : -“ Aqui tem as aventuras de Chico de Ernesto? O cordelista respondeu: -Tem não senhor, mas quando eu vier novamente eu trago!”
Genival Severo mencionou um processo representado pelo Dr. Nelson Nóbrega contra Chico de Ernesto, aos 22 de abril do ano de 1960, por desordem no estabelecimento de Maria Anália(a quenga mais valente desta cidade. E agente pode até imaginar o desfecho da história entre estas duas figuras), e tudo começou quando Chico cheio de aguardente, quebrou as portas da casa de Maria Anália, aí foi o maior quebra pau , e que findou neste processo.
             Elias Queiroga, comentou que certo dia, Chico estava na propriedade de dona Neca, e quando esta ouviu disparos de arma de fogo perguntou para um rapaz de sua confiança, do qual não me recordo o nome agora, e nisso o jovem respondeu que se tratava de Chico de Ernesto, que estava caçando soinho na mata. Dona Neca mandou o jovem chamá-lo, e ele foi. Quando Chico se aproximou do batente da casa, então a mulher disse:-“ Quando for mais tarde você se lembre de passar lá por João Facundo e mandar ele te prender viu?” Ele deu as costas para ela e foi embora!
Um fato marcante deste nosso conterrâneo, e que é do conhecimento dos mais antigos e de seus herdeiros, teve inicio quando Chico de Ernesto foi convocado para prender um popular bastante afamado, por suas capiloçadas. Este popular era Dão de Canoeiro, que por suas cavilações e presepadas na juventude (brechando as mulheres no rio lavando roupa, ou mesmo pequenas coisas), já havia sido preso e transportado para a Capital do Estado, e conseguiu fugir de maneira ardilosa (seu feito foi extraordinário! Populares  na rua dão conta que na fuga, um outro colega ia sair com ele, mas na hora de iniciar o processo de fuga pelas tubulações de esgoto do presídio, pediu para sair na frente, e como era magro pode passar com facilidade, o companheiro  mais obeso topou, mas do outro lado, apenas Dão, conseguiu chegar. Saiu do esgoto nu, e teve de carregar um vestido  estendido em um varal próximo da sua saída, ganhando o mundo. Há um filme recente, chamado “Um sonho de liberdade “, que recorda-me muito este acontecimento há muitos anos passados só que próximo a nós!
Bom, tempos após sua  fuga retornou para Pombal, tornando a praticar seus deslizes (Em conversa com o Escritor pombalense Verneck Abrantes, soube de uma gravação com mais de duas horas de duração, onde Dão relata a sua vida para ele e Fatima Queiroga, na antiga casa de Belino Queiroga. Partes deste relato me foi confirmado por seu neto Tomaz,  dando conta inclusive, que seu avô vivera acompanhado de um grupo de cangaceiros, tendo deste tempo ainda algumas tatuagens gravados em sua pele, gravadas por membros daquele  grupo), para resolver a situação do terror das lavadeiras Chico de Ernesto foi convocado e incumbido de prendê-lo, e soube que já foi dizendo, -“Trago vivo ou morto!”
 Bem, deve ter dito brincando, mas quando se colocaram cara a cara (uma pessoa, que testemunhou o momento do confronto, pois estava passando próximo a linha férrea quando o procurado da justiça, estava descendo para beber água no rio Piancó, logo ali próximo a Casa Forte de Zezinho Caboclo, e soube ainda que nesse tempo o rio secava, não havia a represa), não demorou muito e o confronto foi deveras. Trocaram tiros e como os dois eram habilidosos com as armas, num pequeno vacilo de Dão, Chico de Ernesto o feriu no pé, o deixando aleijado. O Que sucedeu depois poderíamos até imaginar, Dão saiu do hospital e foi preso. No entanto, cadeia nunca segurou este nosso vilão, e mesmo aleijado, três anos depois foi o único, por talvez estar afastado de qualquer suspeita, que conseguiu fugir pelo teto da cadeia Velha de Pombal (feito único até aqueles dias e os atuais, uma vez que ela está desativada, funcionando a atual Casa da Cultura), no centro da cidade. Hoje Dão é um senhor de idade, está regenerado é doente e vive em um dos bairros de nossa cidade, mas não gosta de lembrar o assunto, fala apenas quando sente vontade.
Chico de Ernesto vitima de meningite partiu, mas deixou um legado de brincadeiras e piadas que vivem como citei anteriormente, na boca do povo.
A Chico de Ernesto, o meu muito obrigado, obrigado por todos os serviços prestados a esta população de Pombal - PB. Que o Deus da vida te conceda a tua recompensa e a tua paz.
Texto, Paulo Sérgio

domingo, 22 de julho de 2012

Wilson da Nóbrega Seixas (Historiador), 15 de julho de 1916 a 11 de março de 2002




         Wilson nasceu na Rua do Comércio no seio de nossa cidade. Seus pais eram Newton Pordeus Rodrigues Seixas(autor do Hino de Pombal) e Natália Nóbrega Seixas. Eram seus Irmãos: Newton e José Nely(in memória, quando ainda criança), Hedi Nóbrega, Maria das Graças e Maria de Lourdes. Estudou as primeiras letras em casa com seu pai Newton Pordeus(que na época fora transferido de Sousa para lecionar em Pombal).
Por serem de poucas posses, a família enfrentou batalhas árduas e as dificuldades não foram poucas, pois sabemos do prestigio que tem um professor nos dias atuais, por parte dos governantes, então imaginemos diante dos governos do passado!
Em conversa com Zélia Carneiro em seu apartamento em João Pessoa-PB ela disse que  Wilson  não disponibilizava de muitos recursos, que poucos sabiam a sua verdadeira história de lutas e dificuldades. “Wilson Seixas, passou muita necessidade quando estudou no Recife-PE. Ele contava que a noite, forrava a rede com folhas de jornal, os pés e braços, os cobria com folhas de revistas, pois sofria muito com o frio.” Seus pais eram humildes, muito humildes!  Zélia comentou: -“Ele perdeu os pais vitimados pela tuberculose (devido as necessidades que passaram), em decorrência disso Wilson tinha um trauma de fome. Para se ter uma idéia, ele não gostava de mesa com pouca comida (sempre mesa farta), e ficava prestando atenção se os filhos estavam comendo bem!”

“Me entristeço por saber que não tem nada em homenagem a Wilson! Eu perdi o meu marido, que deu a vida revirando aqueles livros antigos para escrever o Velho Arraial de Piranhas, no centenário de Pombal - PB, e  Pombal em nada o prestigiou” Zélia Carneiro

Sobre a publicação da nova edição do Velho Arraial de Piranhas Zélia Carneiro fez questão de comentar: -“Não recebi um centavo de Rafael e Carneiro Arnaud, como foi colocado na nova edição, e pode dizer que eu comentei isso para você, porque é verdade!” Ironizou!
Zélia Carneiro lembrou: -‘’Eu estava noiva com Wilson quando Dr. José Américo de Almeida (este foi o responsável maior pela composição da Música Maringá, Maringá de nossa cidade, pois ele era amigo particular de Joubert de Carvalho, que queria homenagear a cidade natal de Américo, e este por sua vez pediu que a compusesse em homenagem a Pombal, cidade do seu também amigo Ruy Carneiro, que tinha uma lenda de uma jovem que por lá passara e deixou muita saudade. A lenda vinha, segundo a professora Socorro Martins desde o ano de 1886, e o resultado foi esta belíssima canção que pode-se dizer, é o segundo hino de Pombal), saiu candidato a governador, na época ele era ministro, um dia ele veio a Pombal-PB, a convite dos meus tios, Ruy e Jandhuy Carneiro, e ficou hospedado lá em casa. Pela manhã logo cedo ele acordou, foi banhar o rosto no banheiro, nisso eu então fui perguntar se ele aceitava um cafezinho. Ele  me perguntou: - Dona Zélia, a senhora é noiva? Eu já o cortei: -Ministro por favor não me chame de dona, eu sou uma jovem e não sou dona nem de mim! Chame-me de você! Então ele perguntou: - Vai casar quando? Aí eu expliquei que o noivo era recém-formado, e não tinha emprego ainda. E ele perguntou: - Ele é médico? –Não, é dentista,eu respondi. Aí ele falou assim: - Olhe, eu vou ganhar essa eleição, e te prometo, que o meu primeiro ato como ministro, será nomear seu noivo como dentista do estado! Eu mesma não dei crédito! Só me afastei, pois Wilson era ciumento, e podia cortar ciúmes do ministro, apesar de ser ele um velho, já!’’ Ela continuou: -“Passou o tempo, e quando foi um dia, acredito que no dia que caiu um raio por trás da Rua Nova, lá na Padre Amâncio Leite, e atingiu uma mulher que estava cozinhando batatas, ela ficou toda queimada! Nesse mesmo dia bem a tardinha estávamos sentados Wilson e eu na calçada da casa de papai. Então chegou Ribinha, com um telegrama na mão para mim. Quando Wilson o viu com aquela correspondência, deu de garra rapidamente para saber quem era que estava me escrevendo, então leu. Com um pedacinho aí olhou assim e perguntou: - Zélia, você pediu alguma coisa ao ministro José Américo? Eu que nem me lembrava da promessa feita, pois não confiava em político, uma vez que eu sempre via, como eram os de casa,aí eu disse: - Não! Wilson disse assim: - É porque está dizendo aqui que conforme lhe prometera em campanha esta me nomeando dentista do estado. Aí eu simplesmente esnobei com um singelo: -E foi? –Que bom! Me fazendo de desentendida, não sabe?!’’
Após assumir seu primeiro emprego, Dr. Wilson da Nóbrega Seixas, contraiu casamento com Zélia Carneiro Arnaud Seixas, em 28 de fevereiro de 1952, e tiveram os filhos: Antonio Chateaubriand, José Wilson(in memória), e Lígia Maria, eles viveram 50 anos de muita união.Soube que havia um acordo entre o casal, o filho homem Zélia escolheria o nome, e a mulher seria Wilson. Então quando nasceu o primeiro filho do casal, o pai de Zélia, levou a criança sozinho ao cartório de registros de pessoas naturais, e deu o nome de Antônio Chateaubriand, em sua homenagem, mas o nome ficou muito extenso, quando Wilson soube não comentou nada. No ano seguinte, nasceu o segundo filho, e no outro dia, ele acordou bem cedinho e foi registrar a criança dizendo :- ‘’Quem vai registrar este aqui sou eu! Vai se chamar José Wilson!’’
Em 13 de maio de 1964, saiu com a sua família para morar em João Pessoa, e lá permaneceu até os seus últimos dias de vida.
Ao conversar com dona Mimosa de Zé Gomes sobre Wilson, esta teceu o seu comentário: - ‘’Wilson, não tinha o costume de estar em rodas de amigos, não. Ele era calado, na dele. Não sorria para ninguém, mas era muito alinhado. Me lembro: usava sempre  sapatos brancos, as vezes de gravatinha, muito bem vestido! Ele passava pela gente, e até cumprimentava com um bom dia, ou ,boa tarde, mas nuca passava disso! De vez em quando eu via casal junto desfilando pelo centro da cidade, era muito bonito isso, eles eram bem casados.’’
Dos muitos serviços desempenhados por Wilson Seixas, destaco aqui a Sociedade de Assistência Dentária à Maternidade e à Infância de Pombal(situado no antigo prédio da promotoria, de fronte a praça da alimentação), por fim desta sociedade, o patrimônio foi incorporado ao do Hospital e Maternidade Sinhá Carneiro,além do lançamento do livro O Velho Arraial de Piranhas em 21 de Julho de 1962 por razão do centenário de Pombal.
Admirava o trabalho elaborado pelo historiador Wilson Seixas! Lendo o seu celebre livro O Velho Arraial de Piranhas(que completa 50 anos do seu lançamento no dia de hoje, e por sinal, abriu as portas para o seu brilhante autor no cenário paraibano, tamanha foi a sua repercussão),  este despertou a minha curiosidade por Pombal. O livro que eu li, lembro-me ainda, era velho, as folhas amareladas pelo tempo e por estar guardado numa estante. Ele me foi emprestado pela saudosa amiga, Socorro de Antônio Josias, e eu o folheava com um amigo, ambos espantados e cheios de emoção, afinal era Pombal, tão rica e tão bela culturalmente! Foi neste livro que soube dos cangaceiros da região, do ataque ao mais reforçado presídio da região, a nossa Cadeia velha, dos poetas e os seus versos belíssimos! Era tudo especial, e parecia que eu estava vivendo naquele espaço de tempo, que não me tinha sido permitido até então! Um dia eu tive de devolver o livro, mas passados os anos, ganhei uma edição revisada de minha amiga Zélia, o que me deixou mui feliz.
Acredito que ao relatar detalhes da vida de Wilson, revelados a mim em um dia, e tão resumidamente, tirem dele o mito, e o traduza humano e cheio de desejos por descobrir e tornar conhecido, todos os seus feitos. Sinto o peso da responsabilidade para com os leitores que são importantes para este blog, o nosso propósito não gira em torno da bajulação nem tão pouco da exaltação além dos limites humanos, pois revelo o homem e não o mito. Eu  vejo o pombalense Wilson Seixas da mesma forma, como vi e retratei outros filhos simples deste terra tão rica, pois tudo é traçado em  tom de simplicidade como foi a sua vida, e isto me faz feliz!
Durante toda a sua vida Wilson dedicou-se ao trabalho, destacando-se como:

- Professor no Colégio Diocesano;
- Professor na Escola Arruda Câmara;
- No Departamento Nacional e Obras contra a Secas(DNOcS), na qualidade de dentista;
- No INPs (hoje Instituto Nacional de Seguridade Social, INSS);
- Membro do Instituto Histórico e Geografico da Paraíba(IHGP), desde 18 de março de 1965, após o estouro do seu livro;
E como escritor, se destacou aopublicar as obras:

- O Velho Arraial de Piranhas;
- Os Pordeus do Rio do Peixe;
- Odontologia na Paraíba;
- Viagem através da Província da Paraíba;
- Santa Casa da Misericórdia da Paraíba.

Foi Wilson peça fundamental na preservação da nossa Cadeia Velha, quando surgiram desejos por sua demolição na década de 60(acredito que a primeira intervenção do Patrimônio Histórico estadual), ele também foi sócio da academia de letras da Paraíba em Campina Grande, membro da Associação de Odontologia de Campina Grande, e membro conselheiro da Fundação Laureano, entre outros feitos de suma importância para a história da Paraíba, que lhe renderam a comenda do Mérito Cultural ‘’José Maria dos Santos’’.
A Wilson Seixas, o nosso muito obrigado! Sua paixão pela Terra de Maringá, o levou inconscientemente a tornar-se o maior historiador que esta cidade já viu! Poderá ainda haver com muito esforço, num futuro próximo, alguém com tamanha paixão por sua terra natal e humildade! Que o Deus da vida, que é inovação, revelação e Amor, o abençoe, perdoe fraquezas, e conceda-te a paz.


Adaptado da autobiografia de Wilson Nóbrega Seixas, por Paulo Sérgio.
            

domingo, 1 de julho de 2012

Atêncio Bezerra Wanderley,10 de janeiro de 1913 a 14 de agosto de 1992.


                Atêncio Bezerra, era o caçula da casa, nasceu no sítio Arruda, Município de Pom­bal, hoje pertencente a Paulista-PB, no seio da família do Cel. Josué Bezerra de Sousa (idealizador do Colégio Josué Bezerra, em sua homenagem, por ter sido ele um dos mais interessados no projeto, segundo Ariosvaldo Linhares), e dona Esmerina Bezerra Wanderley. Por irmãos teve Antônio, Avani(esposa do saudoso Bianou Arruda, e esta era louca pelo irmão Caçula), Climene, Nice (Avó de Nabor), Hercilio, Hélio, e Quermine(casada com Sádio Wanderley, pai de Severino Sadio, outra figura simples, mas renomada por seus dons na medicina, assim como o seu tio).
Semelhante a todas as crianças do seu tempo, que eram de famílias mais favorecidas economicamente, pode aproveitar as oportunidades e até extrapolar nas cavilações infantis, pois conheceu, naquela fase da vida, o significado da felicidade, da roupa rasgada pe­los garranchos dos matos, da baleeira, do cava­linho de osso, das pedras nos passarinhos, das formigas, dos banhos de riacho e de cacimba, das corridas dos jegues e das figuras feitas em casca de melancia. Suas primeiras letras foram orientadas por seu pai,  seu primeiro mes­tre, e vale salientar quê este, não tinha nível de instrução além do primário incompleto. O ensino se restringia à leitura, exercícios de escrita e cálculos aritméticos. A partir daí passou a estudar so­zinho: Aritmética, Álgebra, Geometria, História do Brasil, Geografia, Ciências Naturais, Gramá­tica Portuguesa e Francês, a língua estrangeira mais estudada na época.
Do sítio Arruda deslocou-se para Campina Grande onde se matriculou no Instituto Pedagó­gico, hoje Colégio Alfredo Dantas, ali permane­cendo quatro anos, de onde saiu com o Curso Comer­cial incompleto. De lá, no ano de 1935, seguiu para Recife, matriculando-se no Colégio Salesi­ano, onde iniciou e concluiu o Curso Ginasial, transferindo-se posteriormente para o Ginásio Pernambu­cano onde fez o Curso Secundário, atual ensino médio. Após o concurso vestibular obteve a aprovação, e ingressou na Faculdade de Medicina do Recife, hoje pertencente à Universidade    Federal de Pernambuco, concluindo o Curso Médico aos 15 de de­zembro de 1945,  destacando-se como um dos me­lhores alunos da turma. No início do ano de 1946,  regressou à Pombal.
  No dia  29 de novembro de 1947,  se deu em matrimônio com Cacilda Medeiros Wanderley, de cujo consórcio nasceram os filhos: Dr . Marcus Vinícius, Dra. Berta Letícia (casada com Dr. Ugo Ugulino), Dra. Alba Rejane (esposa do Dr. Gilberto Albuquerque Espínola), além da Dra. Ana Valéria.

``Dr. Atêncio foi o Médico, o Professor e Homem Público!``

Suas ativida­des como médico em Pombal, tiveram início em 1947, em um cosultório, até mal instalado, dado o motivo que não havia hospital na épo­ca (O hospital e Maternidade Sinhá Carneiro, abriu suas portas no ano de 1959). Agora  a grande realidade, é que a Clínica  do Dr. Atêncio, era semelhante a do Dr. Avelino Elias de Queiroga, seu grande companheiro na medicina, ela era móvel! Exercida na cidade, nas casas, nos sítios, ou pequenos povoados, a qualquer hora do dia ou da noite, só bastava chegar um mensageiro.
Andarilho dos sertões inós­pitos, anos a fio, mártirizou-se na missão su­blime de salvar vidas, enfrentando, muitas ve­zes, a dureza dos invernos tempestuosos, a aridez causticante das secas, a inclemência do sol, as veredas infestadas de insetos. Não poucas vezes subiu serras a cavalo para aten­deir casos de partos em risco, atravessou rios a nado ou em pequenas canoas.
O amigo Zé Enfermeiro lembrou: -`` Cansou de sair daqui a noite de baixo de Chuva, num fusca, num jipe ou mesmo a cavalo. Aqui só tinha dois médicos que não mediam esforços, para atender a noite, eram Atêncio e Dr. Avelino, e a qualquer hora, que chegassem chamando, eles iam!  Dr. Azuil e um outro que tinha, por aqui, não atendia a noite de modo algum! Agora eu achava engraçado quando eles saiam e realizavam os partos nas casas. E quando voltavam eu perguntava quanto tinham ganhado, aí o Dr. Atêncio dizia assim: - O homem só disse: - Deus te pague doutor! E era esse o pagamento de antigamente! Era um almoço; uma galinha! Muito diferente do que agente vê hoje!``
Atencio Bezerra foi uma figura singular na medicina pombalense, com mais de 40 anos de médico. Simples, competente, despretensio­so,   sem ambições financeiras. Exerceu na Medicina um verdadeiro sacerdócio, fazendo do seu consultório um templo e do seu trabalho, uma  oferta, um serviço!           
Ajudou o seu pai a fundar o antigo Colégio "Josué Bezerra", teve o seu nome, pois desde 12 de março de 1949, vinha educan­do a juventude pombalense, prestando serviços de relevância a toda essa comunidade. A administração do colégio, foi passada para a Igreja Católica de Pombal, e foi desativada, quando ainda era representada pelo Pe. Sólon Dantas de França. O referido Padre, instalou em seu lugar as faculdades de Ciências Contábeis de Pombal-FCCP, e tive a oportunidade de estudar lá, além da Faculdade de Agronomia, também desativada por dificludades financeiras. Bom, nessa estrutura física funcionou a Universidade Federal de Campina Grande(com campus próprio), e atualmente está alugado a Escola Decisão sob administração da Prefeitura municipal.
Soube, de um fato bastante curioso: A chegada do Pe. Lourival na Paróquia de São Pedro Apóstolo, no bairro do Guindaste em 1967! Segundo Maciel Gonzaga Luna(na época coroinha do Mons Oriel), a presença do padre, despertou e atraiu a participação dos jovens daquele bairro e ainda algumas pessoas do centro. Em face a essa realidade, cogitou-se a possibilidade de solicitar o famoso vigário para liderar e assim cativar ainda mais o povo da matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Bom, foi ele, Dr Atêncio, incubido por alguns moradores do centro da cidade, para solicitar do bispo Diocesano Dom Zacarias Rolim de Moura, o pedido destes moradores(uma gentileza, claro!), e empossar o Pe. Lourival, que era jovém e bem para frente nos trabalhos pastorais, e por este motivo estava alavancando aquele templo, no  maior bairro de nossa cidade. O problema estava no Mons Oriel, cuja formação o deixou conservador, e  tinha ainda a idade mais adiantada, por esses motivos algumas pessoas o deixava passar despercebido, mas ele era boa gente, e prestativo para com o povo. Soube por Clemildo Brunet que o Padre  Lourival, estava apoiando a ele e a  Zeilto Trajano para instalarem em Pombal, aquela que seria, a primeira rádio AM de frequencia modular, pois estava dando muita força e total apoio para o investimento. Talvez até ajudasse financiando. Disse Clemildo: -‘’ Quando o bispo percebeu o intuito da população e tomou conhecimento das idéias de uma rádio para Pombal, que seria uma concorrência perigosa para a rádio Alto Piranhas AM, mesmo com 100km de distância, ele cuidou de transferir foi o reverendíssimo Lourival para outra cidade!’’ 
Dr. Atêncio exerceu diversas atividades nas instituições de nossa cidade e no estado entre elas:
- A Unidade Sanitária Estadual;
- Secretário da Saúde do Município de  João Pessoa-PB;
- O Posto Médico de Puericultura (hoje Escola Municipal Nª Srª do Rosário);
- A Cooperativa do D.N.E.R(Departamento Nacional de Estradas e Rodagens);
-O Hospital e Maternidade Sinhá Carneiro, (trabalhou durante muitos anos, gratuitamente, em razão da natureza filantrópica da Institu­ição. Instalou, naquele Mosocômio, um modesto laboratório de análises e um serviço de eletrocardiografia, o primeiro do sertão e do interior do Estado, depois de Campina Grande);
   -Foi feito membro da Academia Paraibana de Medicina(e ocupou a cadeira de Chateaubriand Bandeira de Melo, Médico, Benfeitor e Politico, de São João do Cariri,   na referida Academia);
- Serviço de Assistência Médica da Previdência Social(este em Sousa – PB);
- Hospital Alcides Carneiro em Campina Grande –PB;
- Professor de  Física e Matemática no Antigo Ginásio    Dioce­sano de Pombal;
- Física e Química no Antigo Colégio      Estadual de Pombal,  hoje Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio "Arruda Câmara";  tendo sido o seu Diretor "Josué Bezerra";
Consagrado com três vitórias eleitorais, uma de Prefeito Municipal, quando  assumiu a Prefeitura de Pombal, a 31 de janeiro de 1969, em plena.vigência do Ato (1969 a 1973) e duas de Deputado Estadual (1979 a 1983 e 1983 a 1987), chegando a ser Vice-Presidente da Assembleia Le­gislativa da Paraíba, mantendo sempre um desem­penho seguro e equilibrado, sem demagogia. Nun­ca perdeu a credibilidade, quer na ação parla­mentar, quer na ação executiva. Por isso, sem­pre mereceu o respeito da população. Uma vez que por Pombal ele trabalhou desenvolvendo estas atividades:

- Criou os símbolos do Município, a Bandeira, com a colaboração do Instituto de Heráldica da Paraíba;
- Organizou a contabilidade pública e pôs em dia as prestações de conta do Poder Munici­pal;
- Celebrou convênios com o Mobral para o ensino de adultos;
- Contratou médicos e dentistas para atendimen­tos nos postos distritais;
- Recuperou todas as escolas da zona rural;
- Recuperou o Posto Médico"desta cidade;
Suas colaborações, em diferentes áreas,co­mo Saúde, Educação, Vida Pública, bem atestam o seu valor. Lutou na defesa dos interesses do povo e das Instituições, buscando sempre o so­cial;
- Diretor Social do Pombal  Ideal Clube;
- Fundador do Rotary Club de Pombal, e vale res­saltar que era o único sócio fundador que ainda permanecia na ativa, com admirável as­siduidade às suas reuniões;
- Conselheiro da Fundação'Laureano, de João Pessoa - PB.

Dr. Atêncio, possuía a simplicidade dos humildes(quando prefeito, recebeu em sua casa os atores principais do primeira longa metragem da Paraíba, Fogo - Salário da Morte, do pombalense Josué Bezerra Filho), simplicidade, é a pri­meira qualidade de educador,  que sabe que, a cada dia,   sua vida encerra uma nova lição, e que deverá ser  aprendida. O Magistério de Pombal orgulha-se e sen­te-se honrado de ter tido como professor, um Mestre da dimensão do Dr.   Atencio. Poucos sabiam, mas Atêncio Bezerra Wanderley, ooutro médico dos pobres, falava fluentemente o Francês, Latim , Alemão e o inglês, era um super dotado! Mas pouco revelava estes dotes pessoais, preferia revelar sua esposa D. Cacilda Medeiros, à qual ele dizia ser: "a razão de sua vida, companheira de todas as horas, segurança dos triunfos, e força nas suas dificuldades.’’ Sua vida se foi.  Seu exemplo ficou.
Felizes os que descobrem que as potencialidades humanas devem ser utilizadas a serviço do bem comum. O Dr. Atencio fez essa desco­berta! Pela sua trajetória, vemos que sua vida, que parecia simples, encerrou tanta grandeza, como somente grandeza sabem ter os que, como ele, fazem da existência uma doação, uma en­trega .
Partiu no Hospital da Be­neficência Portuguesa, em São Paulo, e foi sepultado em Pombal,  em 16 de agosto de 1992.
Ao Dr. Atêncio, o nosso muito obrigado. Obrigado por sua total entrega e doação ao povo humilde desta Pombal, quem dera que este teu exemplo fosse seguido  por tantos outros profissionais nestes dias. Que o Deus da vida o recompense e te conceda a paz.

Texto adaptado da homenagem elaborada pela da Professora, Joana Ivonildes Bandeira, de rascunhos do próprio Atêncio, por Paulo Sérgio.