quarta-feira, 14 de março de 2012

Pedro Raimundo da Silva (Pedro Corisco), 22 de março de 1894 a 08 de agosto de 1973


 Pedro Corisco era natural de Pombal - PB, do Sítio Casa Forte, filho de Raimundo José do Rêgo e Ana Joaquina da Silva. Não estudou muito, apenas o suficiente para escrever o nome, ainda jovem no ano de 1912 foi morar em Gravatá – PE, quando anos depois voltou para Pombal com seus familiares, mas mantinha contato com os amigos que lá deixou e até fundaram o bloco mataborão em 2 de fevereiro de 1926.
Casou a primeira vez aos 08 de outubro de 1925 com Maria Julia da Silva, natural de Pombal( filha do casal Felinto Alexandre de Souza e Júlia Roque de Souza), e tiveram os filhos:  Rennê (Viveu 6 anos, in memoria desde 04 de abril de 1931), Rennê novamente (in memória viveu 14 anos), Elza e Francisco Raimundo(estes in memória. O ultimo citado era marinheiro), além de Laurides da Silva Roque, que nasceu em 1940, atualmente vive no Rio de Janeiro.
Em 19 de junho de 1943, Pedro ficou viúvo (certidão de óbito concedida pelo cartório de registros de pessoas naturais, Guiomar Tavares  Formiga), e casou com uma mulher 26 anos mais nova do que ele. Sua segunda esposa era dona Maria de Sousa Silva (Lilia), nascida aos 08 de dezembro de 1920 até  29 de março de 2006, ela era natural de Pau dos Ferros, filha de João Vicente e Honorina Alves de Sousa. Casou-se em 23 de Julho de 1944, e desta união nasceram Edelsa (in memória), Ernezaque, Esdras, Maria das Graças, Cordélia, Afrânio e Maria Conceição(Bili). Trabalhou quando criança na agricultura, auxiliando aos pais, e em idade adulta, trabalhou na casa de uma tia como doméstica, o que contribuiu para aprender, as atividades domésticas e continuar fazendo depois de casada até quando ainda tinha forças para isso. Seus filhos disseram: ``Lembramos do seu esforço para nos ver na escola aprendendo, para que não ficássemos sem educação escolar. Ela também tinha o Costume, apesar de ir pouco a igreja de sempre rezar novenas em companhia dos filhos. Nós todos, nos ajoelhávamos, e de joelhos postos no chão rezávamos a novena de Nossa Senhora das Graças( E foi sobre as intercessões de Maria, e sua fé em Deus,que ela alcançou a libertação e a cura de um filho). E tempos depois passou a rezar o rosário, que fez até seus últimos dias).``
Pedro foi o primeiro proprietário de caminhão a entrar na cidade, causando admiração nas pessoas que viam o grande carro de cabina de madeira passar, e que tinha escrito: ``TUDO PELO BRAZIL!``. O caminhão era de sua propriedade, mas no período da guerra (período este que pediu dispensa na junta militar para não servir, tendo vista estar casado e domiciliado em Pombal, conforme documento estudado), tinha um chofer e existia ainda o ajudante de chofer, que faziam fretes para os diversos estados deste país.
Trabalhou muitos anos como chofer, mas achou por bem deixar de fazer fretes e passou a fabricar caixões na movelaria, que acabara de montar próximo da sua casa. Além de fabricar caixões(eram aqueles fabricados com tábua e lona preta), Pedro e os filhos Afrânio e Esdras, fabricavam: Malas; petisqueiras; guarda-louça com porta de vidro; e Ancoretas. Seu Pedro viajava com freqüência de trem para a Recife Antiga a fim de comprar outros tipos de malas, espingarda de soquete, moringa (quartinhas de barro, para nós nordestinos), sem esquecer as peças para o concerto das desnatadeiras, pois todos os leiteiros da região, o procuravam para suprir suas necessidades nas queijeiras. Afrânio lembrou: -`` Pai gostava de falar sobre a Recife Antiga, pois conhecia tudo lá, por estar sempre comprando novidades! Ele sempre comprava peças de reposição como: borracha, bobina, carretel, quando desgastava as das maquinas, e assim pai vendia as peças e seu Tomazinho, consertava as maquinas com Quiu seu filho.``
Seu Bibi lembrou: -‘’Pedro gostava de andar sem camisa no meio da rua, uma buchão, quando um dia vinha ele descendo na Rua Argemiro de Sousa, comendo um pão , aí eu por cachorrada perguntei, por que ele estava comendo pão no meio da rua, ele disse: - E eu devo alugar um quarto agora quando quiser comer pão, é? A gente fazia isso só para ouvir as respostas.
Afrânio comentou que até 1962, não existia televisão e haviam poucos rádios na cidade, mas frisou: -‘’Eu lembro que a gente juntava dez, quinze pessoas e ficava ouvindo o jogo da Seleção Brasileira. Quando foi na copa de 1966, pai comprou um rádio grande lá prá casa, aí todo mundo animado para escutar o jogo do Brasil, ele ganhou na abertura, mas quando foi no segundo jogo foi desclassificado, acredito que contra Portugal, quando terminou o jogo, pai com raiva foi devolver o rádio lá em seu Zurza Nicácio, como eles eram compadres recebeu de volta! Pai chegou lá e disse:- Tome seu rádio Zurza que não prestou para ganhar jogo não! Veja bem, antigamente, as pessoas tinham muita paixão pelo futebol, a gente ouvia falar que tinha gente que pulava de cima dos prédios, porque o Brasil havia perdido a copa!’’
Seu Zuca da Movelaria (tem grades serviços prestados a Pombal-PB), disse: -‘’ Pedro tinha muita presença, ele era um gozador, e ás vezes era até meio chato algumas piadas que soltava. Olhe bem, uma vez veio um rapaz  comprar um caixão e na hora de ajustar o valor, o  jovem pediu um menos, pois as condições eram poucas, aí ele disse, que com aquele preço só podia ajudar se fosse chorando! Tu acredita?``
Quiu de Tomazinho disse: -‘’Pedro Corisco tinha resposta para tudo, ele vendia malas, e me parece que custava C$10.000,00(Dez Cruzeiros), então o homem perguntou se ele abria crediário, ele disse: - Sim, fica por C$ 12.000,00(Doze cruzeiros)! Aí o homem perguntou: - E como fica seu Pedro? Ele continuou: - Você me dá C$ 10.000,00 e o resto eu deixo para trinta dias! Ora, meu amigo, aí o camarada já estava pagando a mala toda!’’
Zé Nogueira (que é um dos melhores no conserto de relógio, e há mais de 40 anos presta serviço em nossa cidade), comentou que uma vez Pedro foi procurado por um homem lá na sua movelaria, ele queria comprar um caixão, daí pediu um desconto, e de repente Pedro Corisco olhou para o homem e saiu com a seguinte piada: -‘’Compre dois que eu faço a diferença!’’ Pois já sabia a indagação: -‘’Mais como dois?’’ Aí ele completava: -‘’Ah! Só posso dar desconto se levar dois!’’ Nessa deixa, Afrânio comentou que certa fez ele teve de dar desconto mesmo, pois ao soltar a piada, para um camarada lá das bandas de Paulista, aí o homem disse: -‘’Eu quero dois mesmo,  então faça o menos!’’ Ele havia perdido seu pai e sua mãe no mesmo dia (era comum morrendo um dos cônjuges o outro partir logo, claro, quando era casal antigo, hoje mudou um pouco as relações), e como estava apressado para resolver o funeral, logo saiu.
Outro momento que foi lembrado por Paulo Ney: -‘’Um dia morreu uma pessoa, e Venceslau veio comprar um caixão, pediu para fazer um menos, ele respondeu o de sempre. Na volta do enterro o homem virou o carro, lá numa curva que tinha muita areia, ali no  areal, e morreram duas pessoas, quando daí a pouco o homem entra no armazém e pede caixão, então pede o menos novamente a seu Pedro, e nisso escuta: - Eu não já disse que leve dois que eu faço menos(ele não sabia ainda do acidente), Venceslau responde: - Me dê os dois! Você acredita que ele vendeu quase de graça os caixões, mais havia dado a palavra, vendeu!’’
Soube que Corisco, estava no armazém e chegou um freguês, pediu para ver as espingardas, e após analisar o artefato, perguntou se era boa e atirava para cima. Foi nessa hora que ele respondeu: - ‘’Atirar para cima por quê? Eu não tenho inimigo Aviador!’’ Outro fato bem cômico aconteceu quando uma senhora o procurou no seu estabelecimento, para trocar o fundo da lata de querosene, coisa que geralmente acontecia, e tudo isso ele consertava. Bili sua filha relatou: - ‘’Quando papai, disse o preço a mulher parece que achou caro e pediu um menos, ele disse que menos não poderia fazer, pois o preço era aquele mesmo. Aí a mulher perguntou para papai: - Se eu der o fundo?!  Meu pai disse em seguida com malícia: - Dou de graça e ainda boto duas latas!’’ Ela continuou dizendo assim: -‘’Já outro dia, papai estava arrumando a prateleira no armazém chegou um homem procurando por fumo, meu pai mostrou o fumo de rola que estava sobre o balcão, e dá as costas, para continuar arrumando. Ao se virar o homem cheirou o fumo e soltou um vento daqueles bem carregados! Papai sentiu o odor e não comentou nada, o homem se retirou dizendo que vinha depois, e alguns minutos a frente, ele regressa e pergunta bem sério: - Seu Pedro, não tem um fumo mais forte aí não? Ah! Pai foi logo dizendo: - Tem não! O de cagar acabou-se nesse instante!’’
Quando viajava para os lados da Bahia-BA, ele entrou numa barbearia, sentou-se, aí o barbeiro perguntou: -‘’Tira tudo seu Pedro?’’ Ele respondeu: -‘’Deixe só as sobrancelhas!’’
Pedro Corisco, quando morou no Pernambuco participou de banda de músicos, deixou a banda, mas adquiriu o hábito de assobiar, pois tinha fama de grande assobiador. Quando foi um dia Açoite (era um doido que tinha fama de bom assobiador, por aqui), estava assobiando próximo as Casas Paulista, quando Pedro o escutou, e disse que ele estava assobiando errado, então começou a assobiar a música corretamente para as pessoas que estavam naquela rua.
Paulo Ney disse: -‘’Quando era no período do carnaval lá na sede, de madrugada quando a gente vinha saindo da festa, lá estava Pedro Corisco com uma lanterna de bateria, que o filho dele marinheiro, havia mandado do Rio de Janeiro. Era um farol purinho, clareava como daqui deste patamar lá na coluna da hora, sem medo, deixava todo mundo cego!’’
Ele gostava de ouvir Nilo (era um pombalense que cantava divinamente bem, mas era cachaceiro, filho de um compadre seu), quando o Nilo passava na lateral de sua casa a tardinha, ele pedia que se sentasse e cantasse um pouco, ele se sentava na velha cadeira(e ainda existe na sua casa), e prontamente atendia ao pedido.
A Pedro Corisco, o nosso muito obrigado! Suas anedotas e seus serviços, modificaram um pouco a fisionomia da nossa Pombal-PB, em tempos de outrora. Nossa cidade teve muitas alegrias, por causa desses tesouros humanos, descobertas e inovações do nosso povo hospitaleiro. Que Deus, o Senhor da vida, te conceda a recompensa e também a sua paz.
Texto, Paulo Sérgio