Wilson nasceu na Rua do Comércio no seio de nossa cidade. Seus pais eram Newton Pordeus Rodrigues Seixas(autor do Hino de Pombal) e Natália Nóbrega Seixas. Eram seus Irmãos: Newton e José Nely(in memória, quando ainda criança), Hedi Nóbrega, Maria das Graças e Maria de Lourdes. Estudou as primeiras letras em casa com seu pai Newton Pordeus(que na época fora transferido de Sousa para lecionar em Pombal).
Por serem
de poucas posses, a família enfrentou batalhas árduas e as dificuldades não foram
poucas, pois sabemos do prestigio que tem um professor nos dias atuais, por
parte dos governantes, então imaginemos diante dos governos do passado!
Em
conversa com Zélia Carneiro em seu apartamento em João Pessoa-PB ela disse que
Wilson não disponibilizava de muitos recursos, que
poucos sabiam a sua verdadeira história de lutas e dificuldades. “Wilson Seixas, passou muita necessidade quando
estudou no Recife-PE. Ele contava que a noite, forrava a rede com folhas de
jornal, os pés e braços, os cobria com folhas de revistas, pois sofria muito
com o frio.” Seus pais eram humildes, muito humildes! Zélia comentou: -“Ele perdeu os pais vitimados
pela tuberculose (devido as necessidades que passaram), em decorrência disso
Wilson tinha um trauma de fome. Para se ter uma idéia, ele não gostava de mesa
com pouca comida (sempre mesa farta), e ficava prestando atenção se os filhos
estavam comendo bem!”
“Me entristeço por saber que não
tem nada em homenagem a Wilson! Eu perdi o meu marido, que deu a vida revirando
aqueles livros antigos para escrever o Velho Arraial de Piranhas, no
centenário de Pombal - PB, e Pombal em
nada o prestigiou” Zélia Carneiro
Sobre a
publicação da nova edição do Velho Arraial de Piranhas Zélia Carneiro fez
questão de comentar: -“Não recebi um centavo de Rafael e Carneiro Arnaud, como
foi colocado na nova edição, e pode dizer que eu comentei isso para você,
porque é verdade!” Ironizou!
Zélia
Carneiro lembrou: -‘’Eu
estava noiva com Wilson quando Dr. José Américo de Almeida (este foi o
responsável maior pela composição da Música Maringá, Maringá de nossa cidade,
pois ele era amigo particular de Joubert de Carvalho, que queria homenagear a
cidade natal de Américo, e este por sua vez pediu que a compusesse em homenagem
a Pombal, cidade do seu também amigo Ruy Carneiro, que tinha uma lenda de uma
jovem que por lá passara e deixou muita saudade. A lenda vinha, segundo a
professora Socorro Martins desde o ano de 1886, e o resultado foi esta
belíssima canção que pode-se dizer, é o segundo hino de Pombal), saiu candidato
a governador, na época ele era ministro, um dia ele veio a Pombal-PB, a convite
dos meus tios, Ruy e Jandhuy Carneiro, e ficou hospedado lá em casa. Pela manhã
logo cedo ele acordou, foi banhar o rosto no banheiro, nisso eu então fui
perguntar se ele aceitava um cafezinho. Ele
me perguntou: - Dona Zélia, a senhora é noiva? Eu já o cortei: -Ministro
por favor não me chame de dona, eu sou uma jovem e não sou dona nem de mim! Chame-me
de você! Então ele perguntou: - Vai casar quando? Aí eu expliquei que o noivo
era recém-formado, e não tinha emprego ainda. E ele perguntou: - Ele é médico?
–Não, é dentista,eu respondi. Aí ele falou assim: - Olhe, eu vou ganhar essa
eleição, e te prometo, que o meu primeiro ato como ministro, será nomear seu
noivo como dentista do estado! Eu mesma não dei crédito! Só me afastei, pois
Wilson era ciumento, e podia cortar ciúmes do ministro, apesar de ser ele um
velho, já!’’ Ela continuou: -“Passou o tempo, e quando foi um dia,
acredito que no dia que caiu um raio por trás da Rua Nova, lá na Padre Amâncio
Leite, e atingiu uma mulher que estava cozinhando batatas, ela ficou toda
queimada! Nesse mesmo dia bem a tardinha estávamos sentados Wilson e eu na
calçada da casa de papai. Então chegou Ribinha, com um telegrama na mão para
mim. Quando Wilson o viu com aquela correspondência, deu de garra rapidamente para
saber quem era que estava me escrevendo, então leu. Com um pedacinho aí olhou
assim e perguntou:
- Zélia, você pediu alguma coisa ao ministro José Américo? Eu que nem me
lembrava da promessa feita, pois não confiava em político, uma vez que eu
sempre via, como eram os de casa,aí eu disse: - Não! Wilson disse assim: - É porque
está dizendo aqui que conforme lhe
prometera em campanha esta me nomeando dentista do estado. Aí eu
simplesmente esnobei com um singelo: -E foi? –Que bom! Me fazendo de
desentendida, não sabe?!’’
Após
assumir seu primeiro emprego, Dr. Wilson da Nóbrega Seixas, contraiu casamento
com Zélia Carneiro Arnaud Seixas, em 28 de fevereiro de 1952, e tiveram os
filhos: Antonio Chateaubriand, José Wilson(in memória), e Lígia Maria, eles
viveram 50 anos de muita união.Soube que havia um acordo entre o casal, o filho
homem Zélia escolheria o nome, e a mulher seria Wilson. Então quando nasceu o
primeiro filho do casal, o pai de Zélia, levou a criança sozinho ao cartório de
registros de pessoas naturais, e deu o nome de Antônio Chateaubriand, em sua
homenagem, mas o nome ficou muito extenso, quando Wilson soube não comentou
nada. No ano seguinte, nasceu o segundo filho, e no outro dia, ele acordou bem
cedinho e foi registrar a criança dizendo :- ‘’Quem vai registrar este aqui sou
eu! Vai se chamar José Wilson!’’
Em 13 de
maio de 1964, saiu com a sua família para morar em João Pessoa, e lá permaneceu
até os seus últimos dias de vida.
Ao conversar
com dona Mimosa de Zé Gomes sobre Wilson, esta teceu o seu comentário: -
‘’Wilson, não tinha o costume de estar em rodas de amigos, não. Ele era calado,
na dele. Não sorria para ninguém, mas era muito alinhado. Me lembro: usava
sempre sapatos brancos, as vezes de
gravatinha, muito bem vestido! Ele passava pela gente, e até cumprimentava com
um bom dia, ou ,boa tarde, mas nuca passava disso! De vez em quando eu via casal
junto desfilando pelo centro da cidade, era muito bonito isso, eles eram bem
casados.’’
Dos muitos
serviços desempenhados por Wilson Seixas, destaco aqui a Sociedade de
Assistência Dentária à Maternidade e à Infância de Pombal(situado no antigo
prédio da promotoria, de fronte a praça da alimentação), por fim desta
sociedade, o patrimônio foi incorporado ao do Hospital e Maternidade Sinhá
Carneiro,além do lançamento do livro O
Velho Arraial de Piranhas em 21 de Julho de 1962 por razão do centenário de
Pombal.
Admirava
o trabalho elaborado pelo historiador Wilson Seixas! Lendo o seu celebre livro O Velho Arraial de Piranhas(que
completa 50 anos do seu lançamento no dia de hoje, e por sinal, abriu as portas
para o seu brilhante autor no cenário paraibano, tamanha foi a sua repercussão),
este despertou a minha curiosidade por Pombal.
O livro que eu li, lembro-me ainda, era velho, as folhas amareladas pelo tempo
e por estar guardado numa estante. Ele me foi emprestado pela saudosa amiga,
Socorro de Antônio Josias, e eu o folheava com um amigo, ambos espantados e
cheios de emoção, afinal era Pombal, tão rica e tão bela culturalmente! Foi
neste livro que soube dos cangaceiros da região, do ataque ao mais reforçado
presídio da região, a nossa Cadeia velha, dos poetas e os seus versos
belíssimos! Era tudo especial, e parecia que eu estava vivendo naquele espaço
de tempo, que não me tinha sido permitido até então! Um dia eu tive de devolver
o livro, mas passados os anos, ganhei uma edição revisada de minha amiga Zélia,
o que me deixou mui feliz.
Acredito
que ao relatar detalhes da vida de Wilson, revelados a mim em um dia, e tão
resumidamente, tirem dele o mito, e o traduza humano e cheio de desejos por
descobrir e tornar conhecido, todos os seus feitos. Sinto o peso da
responsabilidade para com os leitores que são importantes para este blog, o
nosso propósito não gira em torno da bajulação nem tão pouco da exaltação além
dos limites humanos, pois revelo o homem e não o mito. Eu vejo o pombalense
Wilson Seixas da mesma forma, como vi e retratei outros filhos simples deste terra
tão rica, pois tudo é traçado em tom de
simplicidade como foi a sua vida, e isto me faz feliz!
Durante toda
a sua vida Wilson dedicou-se ao trabalho, destacando-se como:
- Professor
no Colégio Diocesano;
- Professor na
Escola Arruda Câmara;
- No
Departamento Nacional e Obras contra a Secas(DNOcS), na qualidade de dentista;
- No INPs (hoje
Instituto Nacional de Seguridade Social, INSS);
- Membro do
Instituto Histórico e Geografico da Paraíba(IHGP), desde 18 de março de 1965,
após o estouro do seu livro;
E como escritor,
se destacou aopublicar as obras:
- O Velho
Arraial de Piranhas;
- Os Pordeus
do Rio do Peixe;
-
Odontologia na Paraíba;
- Viagem
através da Província da Paraíba;
- Santa Casa
da Misericórdia da Paraíba.
Foi Wilson
peça fundamental na preservação da nossa Cadeia Velha, quando surgiram desejos
por sua demolição na década de 60(acredito que a primeira intervenção do
Patrimônio Histórico estadual), ele também foi sócio da academia de letras da
Paraíba em Campina Grande, membro da Associação de Odontologia de Campina
Grande, e membro conselheiro da Fundação Laureano, entre outros feitos de suma
importância para a história da Paraíba, que lhe renderam a comenda do Mérito
Cultural ‘’José Maria dos Santos’’.
A Wilson Seixas, o
nosso muito obrigado! Sua paixão pela Terra de Maringá, o levou
inconscientemente a tornar-se o maior historiador que esta cidade já viu!
Poderá ainda haver com muito esforço, num futuro próximo, alguém com tamanha
paixão por sua terra natal e humildade! Que o Deus da vida, que é inovação,
revelação e Amor, o abençoe, perdoe fraquezas, e conceda-te a paz.
Adaptado
da autobiografia de Wilson Nóbrega Seixas, por Paulo Sérgio.