Seu Lelé(popularmente), era natural de Pombal, filho de
Filemon Estevão de Sousa e Ana Benigna de Sousa. Ele teve por irmãos:
Mestre Álvaro, Maria das Dores e Benigna(Lourdes). Seus
estudos se deram em escola particular no ensino primário em Pombal.
Segundo
Jerdivan Nóbrega, a sua família por parte de sua avó paterna, como é
comum em famílias judaicas, dispensava um respeito todo especial ao
seu patriarca, que funcionava como uma espécie de líder conselheiro. Do
conhecimento de Jerdivan as raízes lançadas em pombal, se deu com a chegada
dos irmãos João Ignácio Cardoso D’Aarão e Francisco, no começo do
século XIX, que eram originários do sítio Jacoca, hoje Conde, do engenho Forte
Velho e do engenho Tibiri, localizado no município de Santa Rita’’.
Lelé casou-se a 1º de Janeiro de 1940 com Maria do Carmo Moura, com 22 anos de
idade e filha de Guilhermino A. de Moura e Francisca Alves de Lima, mas partiu aos 24 de setembro de 1940. Sete anos
depois, ele decide recomeçar a sua vida contraindo matrimônio mais uma vez aos
20 de setembro 1947 com Elisa Abrantes de Sousa(in memória recentemente), que
era natural de Sousa, filha de Pedro Inácio da Nóbrega e dona Cândida Abrantes
da Nóbrega. Desta união nasceram: Eliezer Gandhi e Maria do Socorro (in
memória), Elisane, Verneck Abrantes(o escritor), Eliene, José Filho, Francisco
José e Cândida Abrantes de Sousa.
Exerceu várias atividades em nossa cidade. Foi
agricultor, trabalhando nas terras da sua mãe, foi “apontador de trabalhadores”(
por ocasião da construção da linha
férrea), e manteve uma alfaiataria por muitos anos, sua ocupação maior,
pois tive informações que era um dos melhores. Em 1955, ingressou na política,
e foi eleito vereador, apesar dos poucos recursos financeiros, tendo ainda oito filhos para encaminhar na
vida. Ele colocou como objetivo maior os estudos dos seus filhos e conseguiu
esse fim. Como político seu trabalho foi reconhecido, tanto é, que o povo o reelegeu
mais cinco vezes, vivendo na política pombalense por 29anos e 4meses(
o vereador com mais tempo na Câmara Municipal de Pombal até os dias atuais,
segundo Vicente Cassimiro que legislou com ele algumas vezes). Sua última
legislatura, ocorreu de 1983
a 1988, já com a saúde precária.
Lelé não fazia campanha ostensiva, limitando-se a
conversas nas ruas e visitas a casa dos seus eleitores amigos. Ele sequer
fazia “santinhos” ou cartazes, pois a divulgação da sua imagem era feita pelos
seus familiares e pelos que tinham por ele o respeito que se tem por um homem
sério e pela própria história da família Benigno Cardoso.
Foi ele o pombalense, que por mais
tempo presídio a Sociedade Artística e Operária Beneficente de Pombal
(S.A.O.B), mais conhecida como a SEDE Operária, a mais antiga sociedade
beneficente do município, fundada no dia 8 de julho de 1934 pelo músico
Francisco Ribeiro. No final dos anos de 1940, José Benigno – Seu Lelé assumiu a
Presidência da Sociedade e permaneceu na mesma por 43 anos.
Na década de 1950, com verbas do governo federal,
intermediadas por Dr. Janduhy Carneiro, José Benigno construiu os dois prédios
da sua sede própria, e que serviram por muitos anos como instituição de
ensino fundamental. Ali
funcionou o primeiro cinema da cidade, pelo saudoso Manoel de Sousa Bandeira, também, muito utilizada para
reuniões da classe operária, encontros para as noites de mágicas do
professor Guimarães, festas sociais, local da realização dos grandes
carnavais de antigamente, organizados por Adamastor Gouveia e Zezinho
sapateiro(ambos in memória), e a primeira biblioteca pública da
cidade de Pombal, com livros de autores brasileiros e da literatura
universal. Além do prédio da Sede, Lelé construiu um patrimônio físico
para Sociedade Artística e Operária Beneficente, a exemplo:
-
Construção de unidades residenciais para seus associados;
-
Construção de túmulo no Cemitério N.S. do Carmo para os associados;
-
Desenvolveu programas assistências que, até hoje, são inovadores, com o
apoio à melhoria de renda dos associados, oferecendo cursos de capacitação
e concessão de máquinas de costuras, em sistema de rodízio;e
-Mantinha um serviço assistencial médico
e odontológico permanente aos seus associados, bem como ajuda emergencial.
Lelé construi para moradia, a
segundo casa residência na futura Rua Jerônimo Rosado(o construtor foi
Agostinho dos Santos), em frente a primeira, que foi de José Leopoldo Urtiga.
José Benigno foi um homem de procedimentos exemplares. Uma lembrança
de integridade moral, honestidade e de grandes amizades. Era comum parar os
filhos de seus amigos na rua, só para saber sobre a família ou com intuito de
aconselhá-los, a pedido dos próprios pais desses adolescentes. Cumprimentava
todos que encontrava pelo seu caminho, independente da classe social ou idade.
Tinha um grande amor pela política, à cidade e ao povo pombalense.
Verneck mencionou que uma das muitas
lembranças suas era a harmonia familiar, que ele proporcionava. Uma outra
lembrança de Verneck se deu por motivo da chegada do rádio na cidade a partir
dos anos 50, e expandido no começo dos anos 60. A respeito disso ele comentou: ‘’Nosso
pai sintonizava na rádio Tupi do Rio de Janeiro, ouvindo as velhas canções, ele
ficava a dançar com nossa mãe! Para motivar a leitura dos filhos,
comprava a revista O Cruzeiro, Jornais e livros. Uma lembrança marcante da
nossa infância era quando à tardinha ele fazia uma caminhada diária da Rua
Jerônimo Rosado para Rua de Baixo, onde morava tia Mila. Juntos iam nosso irmão
Ghandi montado em um carneiro chamado Belém, o que chamava muito atenção por
onde passávamos. A chegada era fraterna e com cadeiras na calçada, onde ficava a
conversar por horas com os familiares e amigos. Meu pai repassou aos filhos, honestidade,
dignidade e boas amizades’’.
Lelé
foi o último líder dos Benignos e Cardosos, responsável pela agregação da
família e que nos dias de hoje faz a devida falta, quando em certos
momentos da nossa vida se procura a sabedoria de líder, de um guardião
para um bom conselho. Certa vez, na “Outra
banda” terra dos nossos avôs, ele pediu que eu plantasse um pé de manga, e
disse: “em dez anos ela já vai botar os primeiros frutos”. Respondi
que era muito tempo e que não valia a pena. Lelé me
levou até a parte alta do sitio mostrou uma frondosa
mangueira, ali existente e perguntou se eu sabia por que aquela mangueira era
conhecida por todos da família como o “pé de manga de Lelé” . Respondi que meu
pai havia dito era por que ele, Lelé, quem a plantou. Ele insistiu: “você
já me viu colhendo manga ai?” Respondi que não, ai ele disse: quando
eu plantei esta mangueira eu também pensei que ia morrer e não a via botar, mas
sabia que alguém um dia ia colher aquelas mangas. Era o espírito
socialista, de um homem que se doava para atender as necessidades
dos outros.
Quando
menino eu me acostumei a ouvir minha avó, e depois meu pai e meus tios, se
referirem ao patriarca e líder “Pai D’ Airão”, e depois “Pai Benigno” que
viveram no inicio e no final do século XIX respectivamente. Acredito que eles,
meus tios, não os tenham alcançados, mas de tanto ouvi-los
falar, fortaleceu em mim a imagem de homens rígidos que exerciam no
seio famíliar as suas devidas autoridades, de forma que não se tomavam
decisões sem antes ouvi-los.
A Seu Lelé o nosso muito obrigado, que seu
testemunho de vida, motive muitos pombalenses para o trabalho social. Quem dera
que outros na nossa atualidade, pudessem intervir e fossem ouvidos e
respeitados pelos menos ajuizados! Que o Deus da vida, te conceda a tua
recompensa e também a tua paz.
Texto adaptado de Jerdivan
Nóbrega de Araújo, por Paulo Sérgio. Blog Contandosaudade