Maria Anália era natural de Pombal, terra de Maringá. Filha legítima de José Luiz de Andrade e dona Anália Maria da Conceição, era neta dos senhores Bernardo Luís de Andrade e Leocádia Ana da Conceição, paternos, além de Manoel Lucas da Costa e dona Petronila Maria da Conceição, todos humildes e honrados. Seu registro foi assentado pela lei federal número 252 de 22 de setembro de 1936, no livro A55 folhas 148, número 4113, no cartório de pessoas naturais, Guiomar Tavares Formiga desta cidade, feito pelo escrivão Bernardino Ferreira de Sousa, no dia 28 de novembro de 1936 (embora tenha localizado o assentamento do nascimento de Maria Anália, nada constou no cartório desta cidade sobre sua data final, mas foi fornecida por Lucidalva, uma moradora do Bairro dos Pereiros, que lembrou o nascimento de sua filha caçula, no mesmo ano, e meses posteriores deste acontecimento). Seus pais além de Maria tinham a mais velha Hermínia, e o segundo José Luiz (Téo, nascido em 1925), ambos estudaram o primário completo. Contaram-me as filhas que ela possuía uma caligrafia muito bonita.
Em meados de 1937 perderam o patriarca da família, seu José (que exercia função importante para esta cidade, quando em tempos difíceis onde não havia água encanada, ele abastecia as casas no Bairro dos Pereiros, num jumentinho para dar o sustento digno a sua pequena família. Mas foi vitimado por um enfarto e partiu. A casa na Rua da Estação, 02, passou para responsabilidade do seu filho homem Téo, que assumiu os trabalhos do pai aos onze anos, abastecia as casas a 1C$000(um Cruzado), cada carga dàgua contendo quatro latas. Contou-me Téo, que era bem pequeno de modo que as donas de casa o ajudavam na retirada das latas pesadas (era ele na Rua do Guindaste, da mesma maneira que seu Toinho da bodega no centro da cidade), e que era fiado, apenas aos sábados Hermínia e Maria Anália passavam para receber o soldo do trabalho e juntas com a mãe desciam para fazer as compras dos legumes da semana, pois eram tempos dificultosos para o pobre, só comia quem trabalhava mesmo (Na atualidade esta tudo mudado, muitas facilidades, nada mais justo, são direitos adquiridos. A coisa mudou para melhor em alguns pontos, mas aos poucos vai convertendo-se ao passado, pois o povo permanece calado ante os governantes, sendo assim, voltaremos aos tempos difíceis, onde um idoso tinha de trabalhar até o seu ultimo dia sobre a terra, sem direito a um descanso), bom, depois de um tempo Hermínia (hoje reside na cidade de Sousa), casou-se e saiu de casa para formar o seu próprio lar, ficando apenas os dois irmãos mais moços em companhia de dona Anália.
No fim do ano de 1948, Maria Anália, tornou-se moça, uma donzela formosa, atraíndo os olhares dos jovens de sua época por ser bela, senão ‘’a mais bela’’, da Rua do Guindaste. Havia iniciado um namoro com o jovem Adauto Pereira (filho do saudoso Chico Pereira, e que veio a ser deputado federal por várias legislaturas, ambos in memória), tinha sonhos, e planos que eram comuns aos das jovens do seu tempo, talvez casar e ter uma família. De compromisso firmado, o jovem ia rapidamente desenvolvendo sua riqueza, dia-a-dia. No meio deste afloramento de sonhos, os desejos e desejos, além do interesse próprio, nasceu uma vitima da inocência, Maria Anália (muitas num passado distante ou próximo, passado caíram nesta teia na busca incessante pela felicidade), acontece que por amor a jovem confiou, e se entregou para ele! Entregando o seu corpo sem perceber, com ele entregou também a sua alma, assumindo por si as reviravoltas imposta pela sociedade, moralista e egocêntrica, que ainda demonstra seus traços na atualidade, mas hoje não consegue se compor por completo. Tornou-se motivo de vergonha ao ser denunciada, pois toda a família a enojou (até a década de 90 era motivo de tristeza, quando uma donzela si entregava antes do matrimônio, podia colocar em jogo o nome até mesmo da primeira que estava casada, no caso em questão), a revolta seria menor se o compromissado e supostamente apaixonado noivo, não tivesse voltado atrás e lhe dado as costas naquele momento, por ser ela de família humilde! Maria Anália, daquele dia em diante estava sozinha no mundo e que outra maneira senão vender seu corpo e fazer a alegria dos carniceiros de plantão. Começou trabalhando com Love, em sua casa de orgias, mas em 1961 depois de um chamego com o genro do velho Love, o fabuloso sanfoneiro, Jaime Monteiro, decidiram fazer vida, e intrigada com Love, abriu sua própria casa de mulheres, um pouco menor que a do antigo patrão, mas agora era quem mandava no pedaço, vendendo suas bebidas.
Comentários de Genival Severo, Magro do Cassino e Picaretti( este viveu com Maria Anália por mais de sete anos, antes de Jaime), dão conta que a beleza e o contorno de suas curvas eram de causar inveja nas demais mulheres da Rua da Rodagem/ Rua do Roí, mas o que a vida lhe atribuiu em beleza, lhe concebeu em valentia, pois batia no peito e gritava, que não tinha medo de nenhuma mulher daquelas, e o fazia olhando na cara! Sua fama a perseguiu e até hoje é assim que é conhecida. Love era conhecido por sua valentia, e sua filha aproveitava a carona no pai e birrava alto, mas com Maria Anália por perto, tudo desandava ( acredito que a vida a ensinou, de uma maneira errada, a nunca ser pisada novamente), era osso duro de roer!
Ela segundo o que nos retrataram as filhas Socorro e Lucia, era alta mais ou menos 1,70metros, contornados ombros e da cintura ao tornozelo. Tinha uma cabeleira longa(era moda na época e poucas podiam fazer), uma pele morena clara e sedosa. Para chamar mais a atenção usava peruca imitando as concubinas no período da monarquia, e para encerar usava sempre, roupa muito bem costurada de cambaia de linho, despertando a inveja nas demais raparigas daquele setor.
Picaretti lembrou-me: -‘’Uma vez eu estava num quarto com uma dona, ela soube, e foi bater lá onde eu estava. Quando lá chegou, botou a porta abaixo, foi o maior tirinete comigo e com a dona que foi embora de Pombal-PB!’’
Apesar da sua vida desordenada, tinha sentimentos como qualquer ser humano tem. Era boa mãe, e excelente avó! Teve de dois relacionamentos duradouros 10 filhos ao todo, todos em casa mesmo (no Cabaré), mas 04(quatro), partiram por causa da difteria e 04(quatro), por dor de dente ( nascendo os dentes é comum febres e outras coisinhas mais, que podem prejudicar a saúde do bebê), escaparam Socorro, a quem sempre colocava para ser a boneca nas festas de São Pedro Apóstolo em sua Matriz , pois era muito bonita, um retrato fiel na formosura da mãe, além de desfiles de beleza no Pombal Ideal Club, esta era filha de Jaime, além de Lucia casada com Deda no Conjunto Janduhy Carneiro. Enquanto mãe zelosa, uma de suas filhas revelou que ela sempre cantava sua música predileta, uma composição de Adilson Ramos, Relógio, uma canção de ninar para elas dormirem. A letra é assim:
‘’Porque não paras relógio
Não me faças padecer
Ela irá para sempre,
Breve o sol vai nascer.
Não vês só tenho esta noite
Para viver nosso amor
Teu badalar me recorda
Que sentirei tanta dor
Detém as horas relógio,
Pois minha vida se apaga
Ela é a luz que ilumina meu ser,
Sem seu amor não sou nada.
Detém o tempo eu te peço,
Faz esta noite perpétua
Pra que meu bem não se afaste de mim
Para que não amanheça’’
Maria era devota de Nossa Senhora de Fátima, e do Sagrado Coração de Jesus, por este motivo ajudava aos Padres Andrade e Levi, cuidando do jardim daquela então capela, hoje bela Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo.
Por ocasião das missões de Frei Damião de Bozzano, Maria Anália procurou o santo Homem para abrir sua vida e contar o desgosto que deu a sua família (irmãos Téo, que ajudou a criar eles, e Hermínia, além de sua Mãe Anália, que estava hospitalizada em Sousa-PB, para morrer e não a perdoava), pois todos estavam intrigados por causa da vida que hoje levava. Ele olhou para ela e disse: -‘’Tem nada não filha, o pecado não é seu! Porque a filha errou e quer procurar a mãe, e Deus está vendo, a mãe não quer aceitar a filha, vá em paz.!’’ Dona Anália, partiu para outra vida e não aceitou ver a filha e nunca pôs a benção nos netos.
Devido às noites em claro nas festas, e extravagâncias na sua juventude, Maria Anália, adquiriu diabetes e ouras males, que por fim de seus dias a deixou cega, magra e bem pouquinha, nem de longe, o retrato da mulher formosa e cobiçada dos tempos de outrora (pois é como esta em Provérbios 31,30, ‘’a beleza é vã e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada’’), Vítima do diabetes, partiu, mas deixou amparada as suas duas filhas, cada qual com seu casebre.
No tempo de Maria Anália, tocavam Biino. Love, Jaime Monteiro, Elias, Aneemias e Tomaz. Suas comuns era Maria do Menino (que preparava remédio para abortar, não para todo mundo, pois era preciso ter muita amizade para fazer tal veneno. O que sei é que morreu e nunca repassou a receita eficaz para tal barbaridade), Beatriz, Tiquinha, Lousa(in memória), e vivas dona Cotinha e Cosma.
A Maria Anália, o meu pedido de perdão, pois participo da mesma sociedade hipócrita que prega a igualdade e humildade, o direito ao erro, o perdão, o recomeço para os homens errantes, mas muito embarga o agir errado do próximo, como aconteceu a você! Obrigado pelos favores prestados a esta cidade e a seu povo, mesmo como uma desvalida meretriz, que escarnada era, as claras, e desejada no intimo, fizestes as alegrias de uma classe. Que Deus te conceda o que de fato ti for propício, como recompensa e também a sua paz.
Texto, Paulo Sérgio