Estudou o primário na escola João da Mata, o colegial, cursou no Colegio
diocesano, uma vez que o Colégio Josué Bezerra, dedicava-se apenas para a
formação de mulheres, pois era cuidado pelas freiras carmelitas. O curso cientifico, bem como a faculdade de medicina,
cursou no Recife, não sendo revelados os nomes das instituições de ensino.
Dono de uma inteligência impar, não sentiu muitas dificuldades nos testes
de admissão, já estava as portas para concluir o curso de medicina, mas
faltando apenas (01) um período para o fim(o que corresponde a seis meses do
nosso calendário), em virtude de perseguições a sua pessoa, dentro da
faculdade, devido a sua fraqueza pelo álcool, acabou abandonando tudo! Soube
através de Tetê de Fragoso, sua prima, que Dr. Atêncio havia pedido para o
sobrinho concluir seu curso e assim futuramente o substituir quando não mais
pudesse exercer a medicina; O que não foi atendido, no tocante ao diploma, isso
porque Severino Sady medicava com a
propriedade de quem entende os males do corpo humano e apontava a sua cura,
mais se apresentava como dom, que lembranças de catálogos de medicamentos que
estudara na faculdade! Ele fazia o bem as pessoas, e os mais simples o
presenteavam com um aperitivozinho, em troca dos favores prestados, pois não
cobrava por seus serviços.
O popular Gorin da
família Lacerda de nossa cidade, comentou: - ‘’Eu tenho uma sobrinha, que era bem adoentada ,
quando criança. E certa vez eu fui visitar com papai a casa de minha irmã, mas
quando eu cheguei lá a menina não piscava nem os olhos mais. Então papai disse,
que ela não duraria muito! Nisso eu perguntei por que não a levaram para Severino,
que morava do outro lado? Então a levaram! Quando chegou ele olhou para a
menina, examinou, aí receitou leite de magnésia para ela, apenas. Bom, tomou
umas três vezes, começou a expelir umas coisas, no outro dia já estava comendo
de tudo! O que sei, é que hoje minha sobrinha esta formada e bonita,
trabalhando como professora! Daí você veja a capacidade e a inteligência que
ele tinha. ’’
Na década de 70 a família de
Severino perde o seu patriarca, Sady Wanderley, e após este fato, dona Quermine
foi morar em Patos, de onde nunca mais voltou, pois anos mais tarde chegara a
vez de dona Quermine vazar para o descanso eterno. Sem seus pais Severino Sady
isolou-se da família, e aparentemente os irmãos o deixaram de lado, talvez para
respeitar sua opção de vida, uma vez, que ele era adulto e dono de si, dos seus
atos particulares! E acabaram por abandonar Severino Sady na vida que gostava
de viver, por mais que esta o degradasse e o aprisionasse no incerto. Morava na
Rua Nova(Rua Cel. João Carneiro entre a casa de João Cazé e do saudoso Joel
Mascena), em seu lugar hoje existe um edifício de dois andares, muito próximo
ao prédio da prefeitura e da antiga Telpa de nossa cidade. Severino tinha
muitos conhecidos, muitos adolescentes, que o vinha visitar, senhores e
senhoras de família que o procuravam para receitar seus filhos ou a si próprios,
no mais era solitário.
Seu Erasmo, primo de
Severino comentou: -‘’ Ah, eu lembro que ele era faixa preta em caratê, tomava
uma faca sem muitas dificuldades de qualquer pessoa! Certa vez Zé de Caboclo,
que era um cabra perverso, estava bebendo numa festa, onde eu e Antônio meu
irmão estávamos tirando a cota, eu sei que este camarada encrencou com agente e
com uma garrafa numa mão e na outra uma faca, partiu para atacar Antônio. Rapaz quando ele avançou,
Severino deu com o joelho e o rodou para cima, e antes dele cair no chão ele o
dominou, aí eu o pus para fora, mas ele ainda tinha outra faca na cintura,
então novamente , ao tentar adentrar para provocar briga, Severino o pegou e
até que ele se rendesse, foram umas trinta quedas! Você veja quanto este
camarada era perverso! Além do caratê, ele era goleiro, e um excelente
atacante, jogava muito quando estava estudando no Recife-PE!’’ Seu Erasmo
lembrou ainda: -“Eralbete minha filha, estava com uma mancha assim no braço e
ardendo em febre, aí saí a cavalo do sítio para a rua, cheguei lá na casa de Severino,
ele mandou que eu a colocasse sentada num tamborete alto. Sentei-a então, e ele começou a examinar e disse
assim: - É uma infecçãozinha, mas tem outra coisa aí, não posso dizer, é melhor
você levar para Tio Atêncio(dizia assim, pois não podia diagnosticar, ou
receitar medicamentos, pois os farmacêuticos começaram a ser precionados para
despachar com receitas legalizadas, mas soube que apenas Epitácio Queiroga
dispachava algumas delas)! Bom eu a levei para Dr. Atêncio, quando Atêncio
olhou para a menina, examinou, examinou, aí disse: uma infecção, nada grave! Aí
eu comentei, que Severino havia dito que tinha outra coisa a mais, aí ele
chamou novamente, e Perguntou: -Ele disse,foi? Ah! Catapora! E por quê que ele
não disse logo?!Eu voltei para casa depois deste fato e deu tudo certo, graças
a Deus!”
Alberto seu primo de
segundo grau disse: -‘’Ele era fera na medicina, agora ficava o tempo todo
deitado numa rede lendo, e o litro de cachaça encostado. De vez em quando
chegava alguma pessoa para ele atender, era quando levantava da rede. Pense
como ele era atualizado! Olhe Dr. Atêncio dava revistas, livros, jornais e ele
vivia lendo, o tempo todo! É por isso que muita gente comenta que ele colocava
Atêncio no bolso, e olhe que era um dos melhores da região e reconhecido, no
estado!”Alberto continuou seu relato dizendo: - “Dr. Atêncio recebia muita
amostra grátis de remédio, e colocava Severino para separar os medicamentos.
Ele também fazia isso lá no sítio para Dr. Queiroga, genro de Bianor Arruda.
Olhe, eu tenho alergia a picada de formiga, e quando era pequeno, eu e um irmão
meu ficávamos cheios de feridas da canela para baixo, a coisa mais feia de si
ver! Um dia papai pediu para Severino arranjar um remédio que curasse o nosso
problema, ele olhou os medicamentos e deu um para agente tomar uma bandinha de
sete em sete dias. Durante três anos não saiu uma bolha, por picada de formiga,
não! Como eu era pequeno não gravei o nome do comprimido,o que uma pena pois ainda sou alérgico’’.
Soube através de
Alberto, que Severino se tornou desafeto para seu Erasmo, quando um dia, inventou de atirar numa raposa, que estava num lajedo e acabou
por acertar seu cavalo corredor, na cabeça! Ele disse assim: - “papai
perguntou: - Oh, Severino, essa raposa estava era em cima da cabeça do cavalo?!”,
dias depois o cavalo não resistiu ao balaço e morreu. Papai perdeu o cavalo, e
ficou com a dúvida, porque ele não respondeu!” mas fizeram as pazes e tudo foi
superado, claro!
Procurei Creuza Alves,
filha de seu Beato, que foi vizinha de Severino, e ela disse que na época do
prefeito Paulo Pereira foi sua secretária. Todos os dias seu vizinho vinha para
a prefeitura, a fim de recolher os jornal do dia anterior bem como as revistas,
pois gostava de se manter informado. Ela revelou também que Severino sady era
um ótimo vizinho.
O saudoso Bibia
Fernades comentou para Paulo Ney e eu: -“O filho de Dercy, Dercy, que era
casado com a irmã de Dr. João Queiroga Villar, vulgo, Juca. O Valdeci, seu
filho mais velho estava adoentado. Já havia batido por Recife, Natal, João
Pessoa, navio dos americanos, que ficava ancorado no Recife, e nada foi
descoberto. Nisso eu disse assim: - Aposto com você, que se esse menino for
levado para Severino Sady ele fica bom!
- Fica nada! Vamos lá em Severino Sadio, que eu quero ver se ele não fica bom?!
Com muita peleja ele topou! Lá chegando, ele mandou botar o menino assim em
cima de uma mesa velha que tinha, aí pegou um palito de picolé, olhou a lingua
do bichinho e disse: - este menino não
tem nada não, eu vou passar só isso aqui, leite de magnésia! Era um remédio
Barato , mas muito eficaz. Com oito dias o menino estava correndo solto nos
terreiros!” Seu Bibia ainda continuou dizendo: -“ Eu tinha feito uns óculos de
grau e quando foi um dia topei com Severino Sadiy no meio da conversa ele pegou
assim meus óculos, olhou para eles levou a frente e trouxe para junto de si por duas vezes aí falou: - É
1,25 em um e 2,0 no outro! Aí eu confirmei, pois estava certo!”
Assisinho da farmácia que me pediu para fazer este apanhado sobre mais este
pombalense ilustre, me contou que quando era moleque costumava jogar bola na
Rua Padre Amâncio Leite da Silva, e coincidentemente nos fundos da casa de
Severino -“Rapaz quando a bola caia no muro dele ele pegava e rasgava, nós
tínhamos medo dele, porque ele era caladão e vivia sem camisa em casa, é tanto
que quando a bola caía ninguém se atrevia pegar estando ele em casa”.
A Severino Sadio, o meu muito obrigado! Muitas vezes, nos parece que ser ou
viver uma vida aprisionada, seja simplesmente fruto da vontade própria, como
ser mendigo ou alcoólatra, por trás de tudo isso talvez exista um apelo por
ajuda, e nosso silêncio ajuda o indivíduo a se afundar ainda mais na solidão e
em sua única amiga, neste caso a cachaça, companheira de momentos tão
particulares na vida do ser. Não será vergonhoso dizer que ouviu o clamor de um
necessitado, mas sim, dizer que virou as costas para sua dor mais profunda e
mais secreta! Que o Deus da vida o recompense e o fortaleça, perdoando os teus
pecados e te concedendo a plena paz!
Texto,
Paulo Sérgio<
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