A senhora da rua Francisco Bezerra de Sousa, 996, que conheci quando eu era criança, fazia a alegria da garotada da cidade, ou pelo menos das do bairro Vida Nova, com suas inesquecíveis bolinhas de cumaru. Recordo-me que qualquer moeda que eu pegava, ia correndo naquela janela, baixa, de uma casa humilde com uma calçada alta para mim, e que ainda hoje é bastante alta, mas muito acolhedora. - Bom dia! Eu dizia, já batendo a moedinha no cimento da janela. -Eu quero duas bolinhas de cumaru! Daí a pouco um grito ecoava pela casa: ô Petúú! Petúú!!! Traga duas bolinhas de cumaru aí pro menino! E isso constantemente! Eu, eu achava muito engraçado aqueles gritos, é muito gostoso o sabor da lembrança e também o sabor da bola de cumaru feita de mel de rapadura e raspas de cumaru, depois de esfriado, mexido bastante e untado com goma, e em seguida cuidadosamente era envolta em dois pedaços de plástico fino e transparentes (coisas, não de uma comerciante comum, mas coisas de uma mulher que amava o seu trabalho e traduzia este amor, com suas mãos sofredoras dadas ao trabalho honesto), o docinho era especial para as crianças pobres e muito afamado para os adultos, eles até encomendavam para levar para a capital do estado. Eu lembro que ele grudava um pouco no céu da boca e depois se dissolvia à medida que agente tentava desgrudar.
Dona Petú nasceu em Piancó, possuía poucas letras, e ainda menina foi morar na casa de Euclides Formiga, no sítio Grossos pertencente a Pombal. Por lá passou muitos anos, ajudando na criação de seus filhos, que segundo informações, não desgrudavam da barra da sua saia. Soube até que os meninos faziam as capiloçadas e quando seu Euclides vinha para castigar, escapavam os que conseguiam se esconder sob a longa saia da querida Petú, eles descobriram cedo que com ela por perto, seu pai não os puniria, dessa forma conseguiram escapar das correções várias vezes!
Dona Petú era tão querida que não aceitavam a idéia de que ela pudesse faltar ou casar algum dia, mas algo estava reservado para ela. Foi quando apareceu o senhor Severino Candido de Sousa, fez o pedido e constituíram família, desta união nasceram dezesseis filhos, mas quatorze morreu ainda anjinho (como se diz no sertão), apenas Maria Petronila e Maria Daguia, homenagem a Nossa Senhora da Guia, uma vez que moraram na cidade de Patos, escaparam. Suas filhas foram suas amigas e tinham por ela grande afeição. Cuidaram e zelaram quando a velhice chegou, e só arredaram o pé de junto dela quando enfim nos deixou para o encontro com o Pai. Morreu na mesma simplicidade com que viveu intensamente a sua vida. O que mais me chamou a atenção conversando com Petronila, uma das filhas, é o fato de que antes de partir, olhou para enfermeira Paula, uma amiga que a estava acompanhando e perguntou quem era o santo que estava na sua frente. Aí ela disse:
- É Jesus, dona Petú! Ela acena para a sua visão particular, dá um suspiro brando e adormece calmamente como se costuma dizer, por aqui se foi como um passarinho!
A dona Petú o meu muito obrigado por ter contribuído para adoçar as minhas lembranças de menino, contribuído com a nossa Pombal e contribuído na vida de todos que se aproximavam dela, que Deus a recompense!
Texto de Paulo Sérgio.
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