sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Severino Serafim da Costa (Biíno), 06 de fevereiro de 1923 a 05 de dezembro de 2000

          Biino nasceu em Pombal, na tradicional Rua do Rosário, Bairro dos Pereiros. Era filho do casal Manoel Serafim da Costa e Antônia Hernestina da Conceição. Foi levado a pia batismal no dia 10 de março de 1923, sendo batizado pelo Mons. Valeriano Pereira, tendo por padrinhos o senhor José de Souza e Antônia Juvina de Sousa.  Era membro de uma família formada por 10 irmãos, tinha: Francisco (Francisquinho), Cícero( Roi Couro), Joaquim (Jaca), Francisco Serafim(Chico Preto, este Após uma desavença com um outro também popular da família Martins foi embora e nunca mais retornou, hoje in Memória), Mário Serafim, João serafim(Caboré), Tereza(Terezinha), Mariquinha Costa( in memória, que desde cedo se tornou meretriz) e José Serafim(vulgo Zé Doido, pois segundo Jaca, era doido mesmo).
Não obtive informações do seu tempo de criança. Enem tão pouco quanto aos seus estudos, mas sei que logo cedo, aprendeu a arte musical.  Biino dominou o Fole de 8 baixos! E fazia apresentações em toda a região, inclusive na Festa do Rosário acompanhando o grupo ``Os Congos``, sendo considerado um dos melhores com o instrumento nas mãos.
Severino Serafim da Costa casou-se em 1958, com Maria Rita Rosário, (uma pernambucana de 15 anos de idade, que por aqui chegou no trem  da Rede Viária Cearense RVC), aproveitando as missões de Frei Damião de Bozzano, na Matriz de São Pedro Apostolo em Pombal - PB. Nesta união tiveram 4 filhos: Francisquinho, Odete, Carleuza, e Elisabete.
Este homem se transforformou na figura mais exótica e folclórica do Bairro dos Pereiros: Severino Serafim da Costa, o popular-"Biíno", ou o "cachaceiro Biíno", como ele chamava consigo mesmo. Tinha 77 anos de idade e 56 que bebia cachaça, mas depravou-se nos últimos 41 anos!   Vinha desafiando o seu fígado há mais de meio século e dando a maior prova de sua residên­cia orgânica.
Em conversa com o amigo Genival Severo, Biino sóbrio, contou sobre sua vida e o seu romance com Maria Rita. Ele começou dizendo que Rita fora criada desde pequena, na casa de um Bispo de uma cidade rio-grandense, da qual ele já não recordava o nome! Que se perdeu aos 13 anos de idade, (foi expulsa de casa e saiu sem rumo no mundo, parando por aqui).   O que lembrava é que ela era uma bela morena que chegou a esta cidade de trem. Não sabendo, se fugida ou se expulsa de casa. Mas foi vista pe­la primeira vez por Biíno, na Estação Ferroviária no momen­to do seu desembarque (Na época, o local mais atraente para se arranjar uma namorada era a tão esperada passagem do trem), ali mesmo, antes do trem partir  trocaram os primeiros olhares, e,   duas semanas depois, veio o namoro.
Biíno, tinha pinta de galã, como era um bom tocador de fole de 8 baixo,  era bastante requisitado nos salões dos cabarés de Pombal, só andava todo "Boy", bem arrumado, roupa nova, pente e espelho redondo no bolso da camisa social.   Usava óleo de ovo e óleo de lavanda para dar mais brilho aos seus cabelos (Acreditava ter sido isso, que levou aquela morena de olhar trigueiro a se apaixonar). Também, ao ver aquele tocador de harmônica fazendo malabarismo com o seu fole e arrancando aplausos de quem o assistia no salão, era impossível não notar!
Foi exatamente num forró que a linda morena perguntou para Zé de Caboclo: -``Quem é este rapaz que toca tão bem?`` -`` Ê um rapaz daqui mesmo! ``, respondeu Zezinho de Cabo­clo.   Minutos depois, Zezinho conta o que a bela more­na havia perguntado. Fim de festa, morto de cansado, instrumento na mochila, saiu o tocador para sua casa com o fole nas costas, e o pensamento naquela morena que nunca mais saiu do seu juízo.
No dia seguinte, Biíno foi a casa de uma mundana, por nome Noême, que morava distante cerca de  uns 100 metros do cabaré, onde Rita se encontrava na sala conversando. Recebeu os cumprimentos da mundana, que o convidou a entrar. Rita ao levantar a vista deu de cara com Biíno e, sorrindo foi logo dizendo: -``Entra meu bem!`` Biíno ali mesmo perguntou: A senhorita ta sabendo quem sou eu?  Ela respondeu: -``Sei, sim!`` Ele continuou, dizendo: - ``Pois eu sou aquele que te cumprimentou na Estação, na chegada do Trem.  Esta respondeu: -" Eu já ti vi algumas vezes, inclusive no forró de ontem â noite.   Você toca bem! Ele respondeu: Obrigado! E ainda: - ``Olhe, eu vim dizer uma coisa a Senhorita: ``Eu estou gostando muito de você, quero me casar contigo.   Ela respondeu que também queria, depois  Biíno perguntou a cidade onde ela morava no Rio Grande do Norte, nome dos seus pais, o endereço completo.  
Dois dias depois daquela conversa Biíno escreveu para os seus pais enviando uma carta registrada, pedindo os documentos dela, o batistério, registro de nascimento e o motivo da sua pretensão. Doze dias depois teve a resposta, uma car­ta onde continha todos os documentos pessoais dela, era o bastante para o que ele queria!
João Regina que vivia de aluguéis de casa, tinha muitas, e duas delas estavam desocupadas,dirigiu-se a ele, e perguntou: -" Seu João,  a casa n05 da Rua Preta, quanto é o aluguel?   -``Ê cinco mil reais!``   ``Vige Maria``! ``É muito caro``!  Era Caro para um rapaz pobre pagar todo mês, mas como o amor não conhece obstáculos nem fronteiras, disse:   -`` A casa está alugada,  fico com ela``!
Rita, uma Morena moça muito bonita, de olhar atraente, cabe­los ao vento era cobiçada por muita gente! Era a sua razão de viver e viver perambulando pelas ruas de Pombal bebendo cacha­ça até uns anos atrás. Com apenas 3 anos de casado, RITA traiu Biíno com­ um cabra sem futuro, no popular, um azilado! Ferido e magoado, só não deixou a casa porque seus filhos ainda estavam muito pequenos. Continuou com ela, mesmo guardando no peito esta grande mágoa! Daí passou a beber mais ainda, sem ter hora certa prá chegar em casa, com a cabeça perturbada já não arrancava mais   do seu instrumento predileto ( o fole ), os maviosos acordes de antigamente, tudo havia mudado! RITA que também aprendeu a beber cachaça, não lhe obedecia mais, fazia o que tinha vonta­de (Seu lar ia se desmoronando na proporção dos dias se passarem).
Sua convivencia com RITA foi breve, viveu apenas 07 anos.   Desse consórcio matrimonial como já fora citado anteriormente resultou em 04 filhos: Um homem e três mulheres. Titico vivia em sua companhia. Carleuza foi para São Paulo e ha mais de 15 anos não dar notícias. Odete caiu na orgia. Elisabeth casou-se, depois se separou e seguiu o mesmo caminho de Odete.
Certa vez, RITA inventou uma viagem para Iguatú- CE, contrariando a sua vontade, e lá se deu mal. Acontece que decorridos 10 dias mais ou menos, teve Biíno um mau pressentimento!  Conta Biíno: -``Foi exatamente numa tarde de sex­ta- feira 13, que recebi um telegrama noticiando que RITA havia falecido na cidade de Iguatú, Estado do Ceará, tinha sido atrope­lada por um caminhão, tendo morte instantânea. Foram palavras cruéis textualmente contidas naquele telegrama. Era o fim de tudo! Fiquei arrasado! RITA foi sepultada no Ceará em razão de não ter condições nenhuma de poder transportá-la para esta cidade. Estava liso! Não tive o direito de vê-la pela ultima vez``.
Com o desaparecimento de RITA, Biino voltou para a casa de sua mãe no Bairro dos Pereiros onde morava com seu filho Titico e o seu irmão Roi Couro.
-``Nunca mais fui nada! Nem tocador, nem boêmio. Só cachaceiro mesmo! Dizia irônicamente.
Quem ia ao Bairro dos Pereiros, podia avistá-lo na Rua Herculano José de Sousa (a principal), bêbado, descalço, camisa toda desabotoa­da, falando alto ou cantarolando as canções que sempre cantava pelas ruas quando estava embriagado. Canções como: "Mulher Revoltada", ``Eu bebo sim``e  ``A mulher que já foi minha", fazendo do seu repertório, um relicário de lembranças amargas, como se fosse uma marca sinistra no seu peito.
Assim foi Severino (Biíno), uma vítima do destino, que aos 77 anos de idade e 56 de cachaça, carregou nos ombros o FARDO árduo do desgosto de ter sido traído e perdido talvez, a mulher que mais amara em vida.
             Procurando algo a mais para adornar este relato da vida do antigo tocador, certo momento ouvi minha avó Zefinha, a si balançar na rede e cantarolando esta canção que me parece ser de Nelson Gonçalves, não encontrei o autor ainda:

``Hoje quem me vê assim
Maltrapilha, embriagado
Nem sequer pode supor 
Que fui gente no passado
Vivo agora pelas ruas
Durmo em banco de jardim
Só encontro levitivo no balcão de botequim
Eu vivo assim cantando 
Muito embora tenha fome
Eu procuro na bebida esquecer meu próprio nome
E a ninguém posso dizer
Sou fulano ou sicrano
Pois já fui classificado
Como um farrapo Humano!``

Dei graças a Deus naquele instante! Acabava de encontrar a música que falava resumidamente sua dor! Quantas vezes não foi ele expulso por estar pertubando a paz e o sossego dos clientes de um bar pedindo uma pinga? Poucos se deram conta que talvez precisasse de ajuda e ninguém notou! Agora ``Farrapo Humano``, só críticas nada adianta, não há conserto!
As histórias de Biino são muitas, mas trarei apenas algumas para ser breve.
Paulo Ney me confidenciou que Zé Luiz, primo de Zé de Cursino, fora nomeado delegado para Pombal - PB, quando Biino passou por ele num botequim, disse bem alto: -``Isso é que é ser uma cidade esculhambada, botar por delegado, um camarada pior que eu!``
Adriano Fernandes Lembrou que Biino era acostumado a pedir um trocado a seu pai, Antônio Fernandes (grande proprietário no passado), e este sempre o presenteou com alguma gorda gorjeta. Daí a pouco se ouvia o bebum gritar: -``Antoin Fernandes, grade fazendeiro, sua propriedade é a melhor que existe na região! No entanto um dia pegou seu Antônio meio enfezado e negou na lata o seu pedido! Este se voltou para o homem na porta do Grande Hotel e começou a dizer: -``Antoin Fernandes, velho sem vergonha e raparigueiro, me negou uma bicada! `` Quando seu Antônio o procurou, este se evadiu imediatamente!
Entrava no mercado público e ia direto para a banca de Nadir, e de repente levantava a camisa deixando a barriga a mostra e começava a dizer com voz suave: -`` Nidir, olhe, olhe!`` Dava umas passadas meio turvas como se estivesse numa passarela, só para fazert graça. Quando chegava no limite Dona Nadir o botava prá correr!
            A Severino Serafim, o meu pedido de perdão, pois o conheci, em sua dificuldade e nunca me dispus a te ajudar! Acredito que esta cidade também te deve muito, e por vários os motivos, quer seja como tocador de Fole(fazendo as festas e promovendo alegrias ao nosso povo), ou como homem debilitado pelo vício! Obrigado, e que Deus nosso Pai, testemunha e ouvinte fiel do teu suplicio amoroso, perdoe as tuas mágoas adquiridas em vidas e te conceda a recompensa e também a paz, para repousares bem feliz.
                                                                       Texto Genival Severo, contribuições de Paulo Sérgio

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