Nascido
em Cajazeiras-PB, Raimundo Sacristão era filho de Manoel
Gomes de Lacerda e Isabel Gomes de Albuquerque, tendo por irmão Benedito
Lacerda (in memória), estudou em Cajazeiras, e ainda adolescente foi morar no
Rio de Janeiro, quando retornou, Raimundo, bem jovem ainda, a convite do Mons.
Vicente de Freitas (grande visionário e bem feitor desta cidade), veio morar em
Pombal, e aqui chegando ficou trabalhando como Sacristão na Igreja Matriz de
Nossa Senhora do Bom Sucesso. Ele exerceu a função de sacristão, trabalhando
desde o tempo do Monsenhor Vicente de Freitas, estendendo-se até o período do
Monsenhor Oriel Antônio Fernandes (ambos in memória, Cônego Oriel , está
lembrado neste blog).
Raimundo
Sacristão, contraiu núpcias com Maria das Dores de Medeiros, filha de Inácio
Adauto de Medeiros e Liliosa Nóbrega de Medeiros, em 10 de fevereiro de 1950,
perante o Pe. Vicente Freitas, e a escrivã Guiomar Tavares Formiga (casamento
este com efeito civil), e desta união nasceram quatro filhos: Fatima, Marcos,
Lucia e Raimundo Filho.
No ano de
1958, Raimundo Sacristão cria o serviço de Alto-Falantes de Pombal, ao mesmo
passo que foi adquirido pelo Cong`Oriel, o som da igreja matriz de Nossa
Senhora do Bom Sucesso (segundo Dulce, sua amiga particular, as cornetas eram
seu chodó, ficava feliz quando alguém elogiava o sistema de som da nova matriz,
e uma arara quando diziam um tantinho assim delas!). Raimundo denominou o seu
empreendimento de Rádio Difusora Maringá. Tinha uma visão de futuro alargada, e
o nome não poderia ser melhor, como Pombal é também conhecida por Terra de
Maringá (por causa da lenda da Cabocla), caiu como uma luva! A difusora foi de
fato um sucesso, uma inovação para esta nossa pequena cidade em todos os aspectos
possíveis.
A Difusora Rádio
Maringá revelou nomes como José Geraldo, Zeilto Trajano(in memrória, lembrado
neste blog), e o pequeno Clemildo Brunet, que estreava com apenas 12 anos de
idade, já demonstrando sua forte tendência para o rádio. Ela marcou época em
Pombal, através dos seus “cabaços” – o termo é de Genival Severo, dado aos autofalantes
colocados sempre nos lugares mais altos e movimentados da cidade, tais como a
Coluna da Hora e de fronte ao açougue. Raimundo sacristão e sua equipe, que
envolvia apenas Zeilto Trajano e ele, a priori, faziam as coberturas externas,
com o sistema de som, como era o caso da festa da Padroeira Nossa Senhora do
Bom Sucesso, quando eram realizadas, a parte social ao lado da praça Getúlio
Vargas, e a do Rosário(Festa de Setembro e Festa de Outubro, antigamente).
Soube por Genival
Severo que no ano de 1958, o Brasil foi
campeão Mundial, e Raimundo ou Zeilto (não recordou direito), havia comprado um
disco de cera com as músicas de todas as seleções. Bom numa tarde Zeilto
Trajano, colocou o disco para tocar, e deixou Clemildo no comando do
equipamento de som, saiu para escutar as cornetas que vibravam com as belas
canções e na esquina bem sentado num banquinho, Zeilto, com toda polpa, fumando
seu cigarro, rodeado pelos transeuntes que perplexos rapidamente se aproximavam
dele. Genival disse: -‘’ Eu sei que passou um gaiato nos estúdios da difusora
Maringá e disse para Clemildo, que era novato: - Olhe, Zeilto tá furioso com
você, porque o horário é para música e você esta tocando este disco de jogo aí!
Clemildo, rapidamente trocou o disco, confiando na palavra do homem! Quando
parou de tocar o disco Zeilto Trajano, correu para os estúdios, para saber o
que havia acontecido, então arrancou o disco que estava tocando e jogou pela
janela! Neste momento acabou caindo nos pés de Raimundo Sacristão, e quebrou, aí
foi um fuá maior do mundo, e terminou Raimundo mandando Zeilto ir embora, e
depois se arrependeu, chamou de volta (anos mais tarde Zeilto Trajano, saiu,
mas para fazer carreira na rádio Alto Piranhas, de propriedade da Diocese de
Cajazeiras. Na época, o jovem locutor foi apresentado pelo então padre Martinho
Salgado, que o levou numa Rural, junto com Genival Severo e Arruda, relatou o Dr.
Joaquim, ex- juiz de pequenas causas).
Genival Severo
lembrou uma das presepadas de Zeilto Trajano dizendo: -“Adamastor (in memória),
era que sabia muita coisa sobre Zeilto, pois também era da banda. Agora me
parece que a turma saiu para tocar numa cidade vizinha e foram em cima de um caminhão,
e todos tinham de ficar juntinhos. Rapaz, como não podiam si mexer, nem como
parar, Zeito urinou nas calças de um colega do trombone que estava a sua
frente! Virgem, quando chegaram lá o pobre estava todo mijado, aí fizeram
aquela algazarra, terminou que o rapaz nem queria descer!”
Raimundo
Filho disse: -‘’Ainda bem criança, Zeilto Trajano passou a fazer parte do meu
cotidiano pondo um microfone em minha frente pra que participasse dos programas
de auditório na rádio do meu pai, a Maringá de Pombal, sua voz grave e
encorpada ainda permanece em minha memória, lembrando também dos bons tempos da
Discoteca Dinamite quando os políticos eram postos no canto da parede na Radio
Alto Piranhas’’.
Genival
Severo comentou nestes termos: -‘’Nos invernos pesados da década de 60, Raimundo
mandava Zeilto consertar as cornetas afixadas no Mercado Público, as que o
vento virava, e quando ele subia, vinha por cima das telhas quebrando o telhado
alheio. Daí a pouco chegavam as raclamações, sobre as telhas quebradas, aí
Raimundo gritava para Zeilto, que ainda estava lá no alto: -Tu vai me quebrar
desse jeito Zeilto, pelo amor de Deus!’’ E continuou lembrando: -‘’Por volta do
ano de 1963, eu peguei amizade com Clemildo Brunet, era bem novinho, voz fina
ainda. E um dia ele me convidou para ir aos estúdios da difusora Maringá, que
funcionava aonde é a loja de David hoje, na Rua João Pessoa, mas as bocas de
som, eram na coluna da hora, no mercado como falei anteriormente, e no açougue.
Rapaz quando eu entrei, fiquei besta com
tudo que vi, pois eu era alucinado por difusora! Aí com um pedaço chegou Raimundo, e ele era todo
bruto, foi logo dizendo: - Não quero menino aqui, vá embora! Virgem! Eu saí
envergonhado, meio sem jeito e todo desgostoso! Os horários da difusora eram de
09hs00min até as 11hs00min e das 15hs00min as 18hs00min.”
Genival também lembrou , que as festas da
padroeira, parte social, começou a
perder forças, então Raimundo transferiu seu equipamento para o lago
centenário. E ele comentou: -‘’ Raimundo
colocava o disco para tocar e ia para a mesa dos amigos, pois gostava de
tomar uma cervejinha. Quando o disco terminava o lado A, ele saia e vinha da
mesa onde estava e subia próximo a coluna da hora para trocar o disco! Eu já
havia decorado o sistema do aparelho de som (era um amplificador PHILLIPS meio
alto, cerca de 30 a
40cm, os botões de comando eram enfileirados; o primeiro, girando para a
esquerda, abria o microfone e para a direita o toca disco), então o disco
acabou, e antes do dono se levantar eu o troquei! Na mesma hora apareceu um
rapaz para dar um aviso, e pediu que eu abrisse para fazer, e eu fiz! Raimundo
chegou na hora e não me reconheceu, já estava quentão. Ele simplesmente
perguntou: -Rapaz você sabe mexer com som?! Então pediu que eu o ajudasse;
fiquei até tarde da noite lá. Depois
deste fato nos tornamos bons amigos, pois outro vez ele veio me chamar para
cobrir a festa de são Francisco em São Bentinho, no ano de 1970(na época
comunidade), e a festa seria de nós dois. Ele havia dito, que nós iríamos para
fazer a cobertura daquele evento religioso, recebendo e passando os recadinhos,
bem como atender os pedidos musicais a C$1.000,00(Um Cruzeiro), foi como prometera! As moças vinham direto até
mim. Ora eu já ia de graça, só pelo prazer de aprender mais, quanto mais
recebendo!’’
Fatima
lembrou: -‘’ Ainda pequena, sonhava em ser cantora. Eu pegava o microfone para
cantar, e enquanto cantava, pensava que toda cidade estava me ouvindo, só que
eu descobri, que o meu pai, desligava os
microfones! Aí eu esperava Zeilto Trajano chegar para eu pedir para ele ligar o
microfone e assim eu poder cantar, mas todos dois me enganavam.’’
Raimundo, exerceu
suas atividades como Agente Administrativo no Ministério do Trabalho, ainda em
Pombal por volta 1968, no prédio ao lado da casa paroquial, ao lado da Nova
matriz, onde funcionou uma gráfica e hoje funcionam dois prédios comerciais.
Uma pessoa deu conta que Raimundo era muito dado ao trabalho, mas quando bebia
ficava completamente diferente daquilo que era, pois chingava sozinho, falava
alto, tudo influencia do álcool, pois no normal ele era atencioso e educado!
Maciel Gonzaga
(pombalense, que é advogado e jornalista), falou: -‘’No início da década de 60
já era seu ajudante como “coroinha”, tocava o sino, ajudava nas missas, nos
batizados e casamentos, etc. Mas, nas horas vagas o acompanhava até o estúdio
da Difusora Maringá e lá ouvia e apreciava o trabalho dos locutores. Eu passei
a me interessar pelo rádio. Estava me descobrindo. Aí Raimundo decidiu não mais
levar à frente o seu projeto da Difusora Maringá e optou por disputar um cargo
de vereador – que era o seu grande sonho- entregou o bastão para Clemildo
Brunet, que logo criou o Serviço de Alto-Falantes A Voz da Cidade. Aí, eu
não perdi tempo e tomei a minha primeira decisão na vida: Abandonei o cargo de ajudante
de Sacristão, e fui trabalhar com Clemildo, Zeilto, Zé Geraldo, Genival Severo,
Eurico Donato e tantos outros! Anos depois, encontrei-me com Raimundo Sacristão
em Campina Grande ,
e ele ficou hospedado na minha casa, no bairro do Catolé, por dois ou três
dias. Já trabalhando na Rádio Caturité o
levei até a emissora e apresentei aos amigos. Lembro-me de uma frase dele se
dirigindo ao diretor-superintendente da rádio, o ex-padre José Cursino de
Siqueira: Cuide bem desse neguinho. Ele é
de ouro!”
No ano de 1977 resolveu levar a família para morar em João Pessoa , para
facilitar os estudos dos filhos, tentar algo melhor para todos os seus. Vitima
de um aneurisma abdominal, em 1995, Raimundo Sacristão, partiu.
No ano de 2007, Raimundo foi lembrado pelo amigo
Clemildo Brunet que concedeu aos seus o Troféu Imprensa da cidade de Pombal,
como um agradecimento. Clemildo falou: - “Marcou, eu era controlista
e ele me deu a oportunidade de ser locutor incentivado por Zeito Trajano. Ele encerrou com a
difusora em 1964 a minha veio em 1966, mas já foram novos equipamentos, e se sintonizava
nos rádios das casas, tinha um transmissor de ondas curtas, pegava na segunda
faixa do receptor, o nome da minha era A Voz da Cidade, a gente não podia
chamar de rádio, pois não tinha registro, era clandestina!”
A Raimundo sacristão
o nosso muito obrigado, sua contribuição foi única para nosso povo e sua história.
Que o Deus da vida o abençoe, o recompense e conceda-te a paz.
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