quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Antônia Ferreira de Lima, 13 de Junho de 1928 a 17 de Novembro de 2008


           Mimosa da igreja nasceu na comunidade de São João próximo a Santa Maria, e era filha de João Benedito Ferreira Lima e Maria Bernadina Rodrigues da Silva, possuía poucas letras, mas o suficiente para ler um pouco e escrever seu nome.
Sobre Mimosa sei que na sua juventude foi funcionária de Odilon Lopes e dona Leni aqui em Pombal e depois os acompanhou até João Pessoa, capital do Estado, o que me explica, agora por que tantas vezes, me falou sobre andar de trem e como gostava do passeio. Trabalhou ainda com Rafael Carneiro em Capina Grande, José Ivan e esposa aqui em Pombal, na casa do senhor Zurza Nicácio, Eron além de outros por onde passou, e sua principal atribuição era a culinária profissão esta que dedicou boa parte de sua vida.
Particularmente conheci Mimosa na Igreja Matriz, e era uma pessoa bem particular, pois possuía uma alma de criança. No período da Festa do Rosário era comum ela está dentro das patinhas, na sua paixão, a roda gigante, nos aviõezinhos, no minhocão ou como ela mesma dizia nas xiuricas (xícaras), depois de tudo corria para a igreja e me contava em quais parques havia se divertido! Algumas vezes se tornava a atração do brinquedo, pois era bem hilário ver uma senhora dando voltas nos brinquedos das crianças, este espírito e inocência eram invejáveis.
Gostava de chegar cedo para participar das celebrações das missas e sempre éramos os primeiros a chegar à igreja, o que nos proporcionou uma bonita amizade. Eu sempre tive uma curiosidade por saber sobre o passado desta linda cidade. Não via ninguém melhor para aniquilar minha curiosidade, pois ela viveu no período de minha pesquisa. Das nossas conversas antes das missas, descobri a beleza das composições valiosas dos tempos de outrora, canções como Sertaneja, de Orlando Silva que certa vez recitou para que eu pudesse escrever, ela cantava quase recitando assim:

Sertaneja se eu pudesse se papai do céu me desse, O espaço pra voar, eu corria a natureza, acabava com a tristeza, Só pra não te ver chorar. Na ilusão desse poema, eu roubava um diadema, lá no céu pra te ofertar, e onde a fonte rumoreja, eu erguia a tua igreja, e dentro dela o teu altar.

 Refrão: Sertaneja, por que choras quando eu canto Sertaneja, se este canto é todo teu, Sertaneja, pra secar os teus olhinhos vai ouvir os passarinhos que cantam mais do que eu...

Ou ainda, no segmento música, Meu Violão Meu Amigo, Nelson Gonçalves entre outras riquezas populares, ela continuava assim:

Violão, Eu estou tão sozinho, Sem amor sem carinho, Solitário na dor. Violão Já chorou tanto, Já não tenho mais pranto, Pra chorar por meu amor, Violão companheiro dileto, És meu único afeto, Tudo o que me restou...

Aprendi algumas orações e histórias sobre a construção da nova matriz,  que me revelou ter sido o Frei Herculano a lançar a pedra fundamentel, e por ter sido a sua avó a trazer pedras na cabeca da comunidade onde morava para erguer o monumento religioso junto com tantos outros que assim o fizeram. Falava ainda sobre José Silvino (um cangaceiro das bandas do Vale do Piancó), que segundo ela certa vez, castigou uma mulher por estar atribuindo espécies de crimes que não era ela testemunha, e obviamente não cometera.
Mimosa lembrava os bailes de sua juventude, dos homens bem trajados que por lá chamavam a atenção dos participantes, e gostava de citar com muito respeito o senhor Francisco Benigno (Chico Benigno), que pela elegância se destacava, ela dizia ser menina quase moça, observava os comentários dos seus responsáveis e outros convivas.
Sempre dizia ter aproveitado muito sua vida, das muitas serenatas em sua janela quando mocinha e um noivado que desmanchara. Viveu só, e tinha a sua liberdade para fazer as coisas que gostava, coisas como: Fazer caridade aos gatos, aos cachorros entre outros animais abandonados ou maltratados que na sua porta apareciam, além de muitos que passavam pedindo jejum, coisa quase que corriqueira em nosso sertão.  Tinha todos os dias a obrigação de após seus afazeres colher flores na praça Getúlio Vargas, e trazer para a matriz , onde todos os nichos eram agraciados um uma flor de acordo com a disponibilidade das plantas:  Bugari, papoulas entre outros tipos .
Era extremamente agradecida ao Ex-deputado Levi Olímpio Ferreira, a duas senhoras aposentadas, que são conhecidas na cidade como ``As Senhoras dos gatos (por que cuidam dos felinos, por amor), tudo porque levantaram a sua casinha e deram a ela um teto sobre sua cabeça. Era gradecida a sua irmã que cuidou na sua aposentadoria junto com um amigo que não me recordo o nome, no momento!
Não conto às vezes que vi sobre sua cabeça um feixe de lenha ou uma lata d’água, pois na sua casinha não havia luz elétrica, nem fogão a gás, dizia ela ter medo de usar tais utensílios!
Certamente, todos têm uma cruz para carregar e algumas pessoas nos confundem como verdadeiras cruzes em suas vidas, com ela não foi diferente! Era destratada por vizinhos com freqüência, por seus costumes, um tanto atípicos, uma vez que fazia três fogueiras no mês junino, para santo Antônio, seu padroeiro, São João e São Pedro, e sobre esta fogueira fazia sua comida. Também pelo fato dos seus hospedes dormir dentro de sua casa, andar visitando as casas vizinhas e isso deixava todo mundo ofendido. Lembro que um dia seu gato ``rabo torto``, apareceu sem vida ela veio me contar na igreja, e contou dos bandidos que tentaram roubar o seu Irmão Miguel, um engenheiro que vivia em outro estado, e não foram felizes pelo fato dele ter o caratê (era a sua expressão), e voltava a lembrar a maldade do mundo e suas tristezas.
A Mimosa minha querida amiga o meu muito obrigado, por sua história de vida, revelada a mim. Sua determinação e coragem foram importantíssimas para a construção desta cidade. Que Deus te dê a sua recompensa o seu conforto para sempre!

Texto de Paulo Sérgio

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