sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Antônio Venâncio Damaceno, 08 de setembro de 1931 a 10 de dezembro de 2010


          Nascido em Pombal, era filho do casal Manuel Venâncio Damaceno e Alice de Paiva Ponce Leon (nascida no ano de 1898). Seu pai foi enfermeiro de Dr. Avelino Elias de Queiroga. Logo cedo se separou da esposa, que assumiu sozinha as obrigações com seus quatros filhos, daí o nome, Toinho de Alice.

Estudou apenas as primeiras letras, pois aos 7 anos de idade, começou a trabalhar junto com seus três irmãos, para ajudar sua mãe e manter as despesas de casa. Nesse período Toinho de Alice, trabalhou vendendo cocada, alfininho e bolinhas de cumaru que sua mãe cuidadosamente preparava para serem vendidos no comércio. Soube que um de seus irmãos ficou com uma coroinha na cabeça, pois queimou os cabelos de tanto levar os tachos quentes de alfininho.
Fazia mandados, para Mizinho e Tanzinha Formiga em troca dos bolões de rapadura que sobravam da moagem (eram sobras que ficavam guardadas para serem derretidas na próxima moagem), ele pegava para sua mãe fazer os doces e para comer também, uma vez que o doce dos humildes naquela época não tinha outro nome, para todas as idades era rapadura mesmo!
Toinho carregou água num jumento abastecendo as casas da cidade, pois não havia água encanada. Era tão pequeno que mal alcançava tirar as latas de cima do jumento, sua mãe tinha de ajudá-lo! No jumentinho ainda, colocou barro para diversas construções que havia na cidade.
Sempre ia ao sítio genipapo de propriedade do senhor Chico Benigno, e seguia com o amigo Zé grota (irmão caçula de dona Luzia) para fazer os mandados de Luzia Benigno, a quem considerava uma segunda mãe, pois era muito boa para ele e para sua família. Agora depois dos mandados terminados vinham correndo pra a Rua do Fogo na casa de Dona Chiquinha mãe de Luzia e seu amigo para comer uns pedaços de pão que segundo ele ficavam guardados dentro de uma lata, mas eram novos!
Foi ajudante de Senhor Queiroz pai de Miguel Queiroz, na sua oficina no centro da cidade.  Foi alfaiate, com os senhores Adamastor Gouveia e Josafá Gouveia. Além de membro da banda de música de Laércio, pai de Mamá contador, onde tocava clarinete.
Toinho de Alice teve de ficar em companhia da mãe que estava doente, porque os irmãos viajaram para tentar a vida fora do sertão, foram para o sul do país. Por aqui ele trabalhava e cuidava dela.
No ano de 1957, precisamente em 30 de outubro, ele casou com Dulce Barbosa da Silva com 16 anos de idade, que depois passou a si assinar como Dulce Barbosa Damaceno. A partir daí seu sogro Luiz Barbosa, um antigo comerciante na cidade e dono de muitas posses, o convocou a deixar a banda e assumir os negócios da nova família. Como era de costume montar um negócio para cada filho que casasse seu senhor Luiz deu a sua filha Dulce, e ao genro Toinho de Alice oportunidade de iniciar sua vida conjugal, uma forma de incentivar a responsabilidade na vida a dois! Então comprou o prédio do senhor Josafá, montou a Bodega e entregou para eles, ficando como sócio até quando seu Toinho se estabilizou e pôde comprar a sua parte na sociedade.


Em 1970 comprou a rural, do seu Sogro Luiz Barbosa, aí fez a alegria dos colegas de turma dos filhos além de outros próximos a sua casa! Fazia a lotação e deixava do João da Mata ao Estadual, os filhos e os amigos dos filhos! Era comum ver os meninos gritarem: - Vamos lá pra Toinho que agente vai de Rural! E todos desembestavam na carreira para a casa de Toinho de Alice. A rural era o carro de luxo na década de 70, mas além de Mine coletivo foi o taxi para os idosos, e a ambulância dos doentes que batiam sua porta a qualquer hora do dia ou da noite para serem conduzidos ao hospital!
Seu Toinho era do tipo pacificador, conseguia tudo que queria até mesmo por fim aos namoros das filhas, mas sem repreender. Ele conversava e  conversando as levava a reflexão sobre a personalidade do namorado! Como falei, era pacificador, pois nunca gostou de justiça ou intrigas, seus clientes faltosos, nunca eram tidos como velhacos, mas como impossibilitados no momento! –Algo pode ter acontecido mais ele ainda vêm!


O filho de dona Alice não possuía luxo ou avareza, sua alegria maior era ver reunida e unida toda sua família nos almoços de domingo com mesa farta, costume que continua até hoje! Ele gostava de observar e de brincar com os netos: Elon, Laice, Heberton, os gêmeos, Higor e Hiago, Ian Nunes, Antônio Neto, Kaliel e Maria Clara além de vê-los brincarem juntos.
É mais ou menos assim: Quando ia se aproximando às 11h00min, chegavam Lairton(seu mimo), acompanhado da esposa Edineuza, Luizinho e Rosinha sua esposa, Lenilda, Lilian além de Luciene e Lidiane que moravam com eles.
Homem justo que era, fazia despertar nos seus filhos o gosto não pelo dinheiro, mas pelo saber e dizia que a sua herança seriam os seus estudos, seu legado seria os estudos.
Pregava a honestidade, e neste termo o amigo Dr. Nildo, me revelou que ele confidenciara certo dia o seu segredo para conservar a bodega com as mesmas características de quando os dois se conheceram há 40 anos a trás, é que dentro da bodega só entravam mercadorias lícitas e nada comprava a prazo!  A honestidade, o respeito aos idosos, aos especiais (vulgo, Doidos) e também as crianças. Ele dizia: - Nunca aperrei um doido!
-Trate bem uma criança, pois ela é o futuro. Depois você vai se deparar com ela no futuro, e tudo que fizeres com ela não será esquecido com o bem ou com o mal.
            Adorava brincar e conversar com as crianças, nunca negava ajuda aos necessitados que passavam por sua porta, talvez lembrando o passado de dificuldades que tivera tão pouco se omitia a emprestar dinheiro. Ele gostava de fazer amigos, dentre eles eu cito: Severino Espalha, Clóvis do grupo pontões, Doutor de Júlio Calixto, Chico Arthur, Rubens irmão de Roberto, Chico Preto de Lucenir(eles me revelaram que a sua casa foi comprada a partir do apalvramento de Toinho, e do seu conselho de aproveitar aquela oportunidade), e o seu quase irmão Nitor entre tantos  outros que seria impossível elencar neste relato. Dona Dulce me revelou que certa vez uma família veio para a feira e um de seus membros precisou ser operado as pressas, ele emprestou por tempo indeterminado a importância necessária para o ato cirúrgico!
Por seu estabelecimento comercial passaram todos os médicos antigos da cidade, e saborearam o famoso pão com creme na bodega, mas o Dr. Atêncio, fazia questão ainda de propor: - Vamos trocar sua bodega pelo meu consultório Toinho? E após a negativa, sai rindo pela Rua do comércio! Pela bodega passaram muitos moleques nutridos na massa do milho e diversivicavam o dia a dia com um pão com creme, e hoje muitos destes se tornaram celebres profissionais nos mais variados seguimentos culturais. Até eu algumas vezes entrei lá para comprar pão com creme e achava tudo intrigante, ele mantinha tudo como no passado, o telefone num canto a esquerda, o tambor do creme a baixo do balcão e a colher de madeira que dona Dulce passava o creme em dois ou três pães de uma só vez. Depois o mais engraçado para mim era enrolar os pães no papel de embrulho sobre os pesos da balança no balcão.
Como de praxe, recebia visitas de amigos em sua casa (algo que amava), ou ia visitá-los acompanhado se sua esposa!
Senhor Nitor, relatou-me um episódio de Toinho, que jamais esquecerá, ele ficou sabendo da compra de um terreno, e encafifou que Nitor deveria construir logo a casa. Não é que o caviloso Toinho, enviou quatros homens para João Pessoa! Principalmente lá que não tinha nada, era apenas o terreno! E agora? Ligou para o amigo que foi logo dizendo que ficasse como trabalhadores por lá que ele manteria as famílias por aqui, e assim o fez! Adquiriu um empréstimo encaminhado por Maria Alves junto ao banco (por ser da cooperativa dos Ferroviários), e conseguiu concluir, hoje a casa esta erguida no bairro da Torre na rua principal, 45. Ele pagou o empréstimo, o amigo os trabalhadores, e não vendeu a casa por valor dobrado, após concluí-la em memória ao amigo que lhe teve consideração!
 Ao amigo Toinho de Alice, muito obrigado! Pelos feitos seus sobre este solo pombalense, sua vida foi longa, sofrida, mas bem vivida, pois viveste o típico cidadão nordestino que sofre, luta e nunca desiste de lutar! Ajudates a escrever com penas de ganso e ponta de ferro, os rumos vitoriosos de sua existência, fazendo o bem e cativando o bem! Algumas vezes a grandeza de um homem é revelada na pequenez dos seus atos, e nisso és vitorioso! Que Deus o recompense em sua glória celestial, e descanse em Paz!
       
                                                                                     Texto de Paulo Sérgio.

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