terça-feira, 13 de setembro de 2011

Napoleão Brunet de Sá, 17 de novembro de 1906 a 28 de agosto de 1964


Napoleão de Sá nasceu em Pombal, era filho do casal Julio Rabello de Sá e Olindina Ramalho de Sá, sendo os seus avos paternos Aristides Rabelo de Sá e Olindina de Sá, e materno Napoleão Carlos Brunet e Maria Ramalho.
No dia 30 de junho de 1928, casou- se com Maria Brunet de Sá (Sinhazinha), ela, prima sua e contava dezessete anos de idade. E juntos formaram uma prole de cinco filhos: Clóvis, Carlos, Claudete, Cláudio e Clemildo.
Em 08 de julho de 1934, participou juntamente com o ex-Vereador José Benigno de Sousa (Senhor Lélé), da fundação da Sede Operária Beneficente de Pombal. Foi também partidário do antigo PSD e acompanhava de perto a política como correligionário do Deputado Janduhy Carneiro e do Senador Ruy Carneiro. Nunca mudou de partido!
José Luiz lembra que conheceu Napolião, morando no sítio Brioso. E quando trabalhou na roça, gostava de limpar mato, certa vez fora picado por uma cobra Cascavel. Os mais antigos tinham o costume de dizer que a prática para curar a pessoa mordida de cobra era cuspir em algum líquido tipo leite ou mel, e depois dar ao moribundo, para beber(está pratica nordestina era bastante utilizada antigamente, e ainda hoje algumas pessoas apontam os seus resultados principalmente com animais a beira da morte no roçado), daí a pessoa ficava curada. Seu Alexandre(era curado de cobra, como se fala por aqui), já tinha sido picado várias vezes, ele morava no sítio Umarí de propriedade do senhor Antonio Martins de Sá, e foi chamado a ir ao amig, a fim de livra-lo dos ofídios venenosos da malacatifa. José Luiz de Sousa tem 90 anos de idade, e lembra que depois do episódio ocorrido, seu Napoleão o convidou a trabalhar com ele na Padaria Vitória, como ninguém quis lhe ensinar a mexer na massa, então fora designado para o balcão, despachando.
Napoleão, antes de montar a padaria, possuía um caminhão ano 1941, nesta época ele fazia fretes levando cargas de algodão para Campina Grande e trazendo mercadorias para o comércio de Pombal. A estrada era de barro o percurso da viagem durava três dias entre ida e volta, mas sempre o fazia.
A famosa bolacha peteca, que ainda hoje se ouve falar nas conversas dos amigos. “Já não se faz bolacha peteca como a de seu Napolião”, lembra Onídio, ele trabalhou no balcão da Padaria e conheceu de perto os produtos de panificação.
O estabelecimento comercial de seu Napoleão era localizado a Rua Ten. Aurélio Cavalcante, 78, vizinho as Lojas Paulista, como Padaria e Mercearia, tinha a denominação de Padaria Vitória, havendo seção de louças, alumínios e perfumes, e todos eles ainda são lembrados com sentimento de saudades. Em sua coluna publicada “aos domingos” no Jornal Correio da Paraíba, a do dia 11 de julho de 2010, a escritora Onélia Queiroga, escreveu um artigo em minha homenagem e no sexto parágrafo está assim: “Saboreamos as mesmas iguarias: O pão francês, o célebre pão doce e a gostosa bolacha peteca, fabricados, com receitas únicas e inigualáveis, até hoje, na Padaria do seu saudoso pai Napoleão Brunet.”
Foi ele juntamente com José Nicácio Amorim (Zurza Nicácio), um dos fundadores da Associação Comercial de Pombal em 26 de junho de 1962, reunião essa realizada no auditório da Sede Operária Beneficente de Pombal (SAOB). Guardo vagas lembranças do curto período que o conheci. Tinha uma massa corporal imensa chegando a pesar seus 110 quilos (naquele tempo era raro se vê pessoas obesas como se vê hoje), além de voz forte e grave. Certamente por ter um rosto cheio e redondo e pela corpulência de seu físico, quem o via pela primeira vez, tinha a impressão de que aquele homem fazia medo. Sua estatura mediana, seu corpo volumoso, olhar circunspecto, para os que não o conheciam, causava a impressão de um homem muito fechado. Não, não o era. Tinha muitos amigos e desfrutava de grande conceito nesta cidade, e era conhecido por ter um só peso e uma só medida! Neste seguimento  cito as palavras de Antonio de Cota, ele disse: -- Napoleão não tirava um tostão no preço da mercadoria, quando ia pagar minha conta ficava relutando pra ver se tinha um abatimento, mas, não cedia. O que acontece é que o método de seu Napoleão para um lucro honesto aplicava tão somente 20% sobre o valor de custo por isso não podia arriscar muito!
            Meu primo Oníldio Brunet de Sá contou-me que no velório de meu pai o Padre Andrade chegou e disse assim: “O negociante mais honesto de Pombal era Napolião, o preço dele era um só”. Declarou Onídio que se alguém dissesse: --“Seu Napolião acolá tem mais barato, ele respondia pode trazer a dúzia que eu compro”. E repetia diversas vezes.
Já o ex-operário Manoel Alves dos Santos, na intimidade Manoel das Broas, que trabalhou muitos anos com meu pai, conta que um dia Darciso, outro empregado da Padaria, chegou ressacado e começou a espanar as prateleiras. De repente derrubou uma caixa do perfume Miss France chegando a quebrar três vidros. O cheiro do perfume se espalhou e pai desconfiou. Indagado sobre o que estava acontecendo, Darciso resolveu confessar. Na ocasião pai ralhou com ele e disse que ia descontar no seu salário, mas no dia do pagamento Darciso recebeu seu salário integral, pois seu Napoleão já o havia perdoado.
José Alves Feitosa (Zezinho Caboclo), me disse que deve a educação de seus filhos a meu pai. O Sr. Chico Mendes pagou uma dívida a meu pai com uma casa que ele tinha no Bairro dos Pereiros. Certo dia seu Napoleão foi à bodega de Zezinho Caboclo lhe ofereceu essa casa, Zezinho disse que não podia comprar; meu pai lhe entregou a chave dizendo: --“a casa é sua você me paga da maneira que puder”. E assim, Zezinho Caboclo ficou com a casa que resgatou a dívida em três pagamentos. O valor total do imóvel foi de seiscentos mil reis. 
Por ocasião das férias eu gostava de me hospedar em sua casa e um dia resolvi que ia fazer um pavê de castanha para o almoço, para minha surpresa quando perguntei se ele queria, respondeu " sirva logo todo o mundo e depois passa o pirex para cá, porque eu vou comer a metade. Rimos muito e assim foi, depois que coloquei a porção de cada um ele se apossou do pirex e comeu ali mesmo e era mais que a metade. Quando eu perguntei se ele gostou ele respondeu prontamente: --"Se gostei? Amanhã pode fazer mais!”Aí então, eu fazia sempre algo diferente e ele se admirava porque eu sabia fazer tanta coisa gostosa. Lembro que ele não andava na calçada, andava sempre no meio da rua. Lá da porta da sua casa, a gente o via saindo da padaria em direção a casa, lá vinha ele remando pelo meio da rua e os carros respeitavam e paravam para dar passagem a ele. Pessoas honestas nunca ficam ricas. Assim foi ele e o meu pai. Tinham oapenas o que herdaram e só. Lembrou Mary Loide.
Meu pai nunca me bateu. Em meio às peripécias que eu fazia, bastava tão somente sua voz forte para atender de imediato ao que ele dizia. Nas madrugadas em que minha mãe me chamava para a aula de educação física do Colégio Diocesano e não atendia querendo dormir mais um pouco, ela falava para meu pai: --Napoleão! Clemildo não quer ir para a educação física”. Imediatamente ao ouvir sua voz forte, mesmo esfregando os olhos me levantava da rede como num passe de mágica.
      Certa ocasião estava eu e Claudete jogando ludo (tipo de jogo que as pedras se movimentam segundo o número indicado pelos dados), houve uma discussão e eu arremessei o copo com os dados na testa de Claudete que saiu chorando; Ele veio ao encontro da confusão e quebrou a tábua do ludo mesmo no meio acabando definitivamente com a competição.
          Quando criança, Socorro Martins(historiadora), lembra que ela e os amigos passavam na Padaria Vitoria daí gritavam: -- Napoleão do Buchão, me dê um pão! Depois juntava na carreira, pois sabia que ele dava a preta com o versinho, como menino não é gente, tudo era relevado!
 Vítimado por um enfarto do miocárdio (colapso), em sua residência a Rua Cel. José Fernandes, antiga Rua do Rio ás 9 horas da noite, ele nos deixou.
A Napolião, um rei na arte da panificação, e pelos serviços prestados a nossa Pombal o nosso muito obrigado! Seus produtos adoraram as mesas de muitos pombalenses e por todas as classes sociais, que Deus o recompense e te conceda a Paz!


Texto, Clemildo Brunet, contribuições de Paulo Sérgio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário