sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Raimundo Nonato de Paiva( Nonato), 20 de fevereiro de 1920 a 11 de agosto de 2001

           Nonato foi um pombalense ilustre, que perambulou por estas ruas de nossa cidade, era filho de Custódio Santana e Elvira de Paiva, que era moça velha quando teve esse romance (ele, que era irmão de Zezinho Sapateiro, e deste caso nasceu Nonato, mas o seu pai nunca reconheceu sua paternidade,(como era muito mulherengo e farrador, partiu aos 38 anos vitima de infarto). Anos depois Elvira casou e teve outra filha chamada Severina Tereza de Paiva (Pretinha), sua irmã por parte de mãe.
Nonato com apenas 1 ano de vida, estava dormindo na sala de sua casa, quando uma pessoa entrou tocando um chocalho bem alto, assustando-o, e provocando um ligeiro trauma ao som deste instrumento ou de sino pequeno. Mas o garoto Nonato crescia, e dava traços de muita vitalidade e curiosidade, pois gostava de traquinar nas coisas do povo. Agora gostava em especial, quando na casa de sua madrinha Joana na Rua do Comercio ( a mãe de Lucemir Paiva Santana, casada com ChicoPreto), ganhava para o beco da Cadeia Velha para vê seu Biró fabricar pulseiras de prata ( nessa época trabalhava com um velho fole soprando o fogo, para aquecer ainda mais as peças e dar os acabamentos, e aquilo fascinava o menino). Um belo dia sua mãe por medo de que ele pudesse se machucar, pediu ao dono da casa orientado-o: - `` No dia que Nonato chegar por aqui, o senhor não precisa brigar com ele, é só tocar um sino pequeno, ou um chocalho, perto do ouvido dele  e na certa ele se retira!`` Quando o garoto dependurou-se na janela do forjador, este tocou um sininho no seu ouvido, o susto foi tamanho, que caiu, bateu a cabeça no chão, e desmaiou! Desse dia em diante ele adquiriu uma fobia ao som dos velhos bronzes da matriz, a  trovão, sem falar que perdeu seu senso normal, perturbou-se. Sua mãe o levou para o posto médico, mas nada reverteu o quadro, depois que despertou ele cresceu, no entanto sua mente atrofiou, de modo que até uma criança de três anos o botava para correr.
Seu Valdemar motorista aposentado do Hospital Distrital de Pombal(HDP, hoje HRP, pois agora é regional), comentou: - `` Papai tinha um café na Rua da Rodagem, depois do Grande Hotel cerca de uns três prédios. E todos os dias Nonato, vinha para o café, e esperava mamãe retirar as rapas de queijo, que reservava para ele comer com café preto e um pouco de farinha, aí depois ele fazia uma bola assim com a mão e comia tudo! Eu me criei com um bocado deste povo todo! Agora ele era muito dócil, um dia um menininho topou com Nonato que vinha com duas latas de água  do rio(não havia água encanada nesse período), e o menino fez que ia pegar, com medo, ele desabou na carreira  prá casa e não sei nem quanto de água restou nas latas, foi muito engraçado, nesse dia!``
Poucas pessoas lembram, mas Nonato confeccionava grelha para fogão de brasa e trabalhava muito bem, depois de feitas a grelhas sua mãe e sua avó(eram elas quem compravam os ferros),  enchiam os baldes e Euvira descia com Nonato, vendendo na rua para as pessoas, e aquele dinheiro ajudava no orçamento de casa.
Dona Lucemir lembrou de um episódio que o correra há muitos anos: -`` Uma vez correu um boato que Lampião e o seu bando iam passar por Pombal, então o povo da Rua do Comércio Juntou suas roupas, ouro e prata, enrolando em panos de estopa ou em cobertas, prepararam as comidas, e fugiram para um lugar Chamado de Buraco de Sinhá(este lugar era uma casa de farinha, teve alterado o nome, depois de alguns anos), aqui na cidade ficaram algumas pessoas, para dar o sinal, na hora que eles estivessem entrando na cidade, que seria tocar o sino, ou um berrante. Sei que fugiram: a minha avó que também é de Nonato, a mãe, e ele. Também foram outras pessoas e Zé Damascena, que é o irmão de Toinho da bodega; chegando lá cavaram um buraco bem fundo que era para uma parte deles se esconder, depois cobriram com garranchos, e Zé Damascena se socou nesse buraco também.  Por ironia do destino passou por aqui, um grupo de tropeiros tocando uma grande boiada, e ao adentrar na cidade sopraram seu berrante, repetidas vezes! Ao ouvir o suposto sinal, todo mundo entrou em pânico! Nonato era doido por comida, então começou a gritar: - Eu quero minha carne assada com farinha! Minha avó o repreendia: - Cale a boca! Ou os bandidos os achariam. Aí Nonato se desesperou pela carne assada pulou dentro do buraco caiu em cima de Zé Damascena! No susto,era Zé gritando: Aí, aí quebraram meus pinhaço! E Nonato dizendo: - Eu quero minha carne assada com farinha!
Enquanto isso no soton da igreja de Nossa Senhora do Rosário, Zé Leopoldo estava com uma turma de cabras bem armados esperando os cangaceiros entrarem na cidade, daí Saturnino desligou o Motor da Luz, para facilitar a ação policial.``
Nonato gostava de cantar vários benditos (era como chamavam os hinos religiosos), e músicas populares, que variavam o seu repertório, ele sabia de cor, e segundo comentários tinha voz grave e bonita! A música do Primo Lulu de autor desconhecido, foi interpretada para esta matéria por Neuma Paiva, sua prima


`` Mamãe o primo Lulu, é um cabra atrevido
Que pegou pelo braço ô mamãe
Cochichou no meu ouvido!
Deu-me abraço e deu boquinha
Oh, mamãe!
E o resto eu não te digo

Mamãe, Rita viu uma alma
Esta noite no portão
É coisa que me aquisila
Oh, mamãe!
Moça quando vê visão
Pega ver, e pega ver
Oh, mamãe!
Até chora o pagão: cuê, Cuê!``


Gostava de cantar a Musica Carinhoso(composição de Pixinguinha e João de barro de 1917, um choro), mas na hora do refrão ele sempre trocava a palavra carinhoso por curioso.  Outra belíssima canção que sempre interpretava deitado na sala de madrinha Joana, como ele chamava, batendo os pés na parede a se balançar, era Esmeralda de autoria de Carlos José:

 
``Vestida de noiva, com véu e grinalda
Lá vai esmeralda, casar na igreja
Deus queira que os anjos não cantem pra ela
E lá na capela seu vigário não esteja
Deus queira que a noite, na hora da festa
Não venha orquestra, não venha ninguém
Pra ver Esmeralda, com véu e grinalda
Nos braços de outro que não é seu bem
Quem devia casar com ela, era eu, sim senhor
Quem devia casar com ela, era eu, seu amor``

Neneta sua sobrinha lembrou uma parte da Moda do Calango, que ele costumava cantar em casa, e era mais ou menos assim:

`` Calango matou um bode
Botouo cebo na telha
Lagartixa foi bulir,
Calango meteu-lhe a peia
Larga moda lagartixa
De bulir nas coisa ailheia!
Eu vi outra lagartixa
Sentada numa cadeira
Com uma criança no braço
Tocando seu violão...``

Havia ainda o Bendito da Chuva que cantava para todos que pediam: 

``Meu Jesus aos vossos pés
A miséria nos conduz
Pelas vossas cinco chagas
Daí-nos chuva meu Jesus!

Pelos cravos que cravaram
vossos pés e mãos na cruz
Pelo sangue derramado
Daí-me chuva meu Jesus!

Soube por Maria Dalva,que o Pe. Sólon (in memória), pediu para Nonato cantasse para ele ouvir, mas como temia o toque dos sinos da matriz, só cantou quando ouviu a promessa que não seriam tocados naquele momento. No entanto o fato mais cômico, que aconteceu foi quando dona Preta (in memória, mãe da professora Marizete), o chamou para acompanhar a procissão até o cruzeiro de junto da Cagepa, pois estava cumprindo uma promessa pelas chuvas que estavam caindo. Então prometera a Nonato, em troca do bendito no trajeto, um prato de qualhada com cuscuz, e como não gostava de promessas apenas, e era louco por qualhada e cuscuz, pediu logo sua paga. Neuma Paiva disse:  -`` Ele começou a cantar o Bendito da Chuva daí a pouco  dizia: -`` Dona Preta me dê minha qualhada!`` Ela dizia que ia entregar, mas que continuasse cantando para não demorarem a atingir o objetivo principal naquele momento. Fez isso umas três vezes, até que ela mandou trazer a qualhada! Agora foi pior, quando a qualhada chegou, ele agarrado com a bacia, aí cantava: `` Meu Jesus aos vossos pés, a miséria nos conduz...``, daí parava de caminhar e obviamente de cantar, para em seguida tomar duas colheradas de qualhada, engolia e continuava, ...`` pelas vossas cinco chagas, daí-nos chuva meu Jesus!`` Fez isso algumas vezes, até que  a senhora, tomou a bacia de qualhada. Quando ela fez isso, ele não cantou mais nada! Se quiseram ir foi sem bendito!
Nonato era um meninão, presepeiro. Ele costumava juntar as baratas numa sacola e depois ia queimar no muro de casa e dobrava a risada ao vê-las estralar no fogo, e dizia: -`` Morra danada, para nunca mais você perturbar minha mãe e eu!`` Andava pela rua e juntava notas de cigarro, quando chegava em casa fazia uma bola que dia a dia crescia,era seu divertimento, mas gostava muito de ouvir o barulho do mar numa concha que o tio trouxe de Natal-RN, para ele. Segundo Neuma, ele passava o dia todo sentado escutando aquele barulhinho na sala. Ele contou ainda que Nonato, jogava as pratas no cacimbão de sua casa, só para ouvir o barulho na água, e as notas ele queimava no muro. Era perdido dar dinheiro para Nonato ele queimava e depois perguntava: -`` Fiz bem ou fiz mal?``.
Dona Alice mãe de Toinho da bodega, certa vez pediu para Nonato ir entregar o almoço do seu marido do outro lado do rio, mas recomendou, que tivesse cuidado e não comesse  o pirão, ele então saiu e atravessou o rio, mas como não resistia a comida, depois que atravessou, parou debaixo de uma oiticica, sentou-se e comeu todo o pirão, depois pegou o agridar de barro lavou-o, arreou as calças e  banhou a bunda dentro do agridar! Após a travessura, ele regressa para a casa de Alice, deixando o homem sem comida no roçado. Quando foi indagado devido a demora na entrega, ele contou a dona Alice tudo que aprontara e, sempre seguido da pergunta: -``Fiz bem ou fiz mal?
Quiu de Tomazinho lembrou que uma vez Nonato deu corda no relógio do velho Zé Leopoldo (É o pai de Jurandy, casado com a filha de Avelino Queiroga, e foi delegado muitos anos aqui por Pombal-PB, apadrinhado por Janduhy Carneiro, pois era administrador na fazenda Camaragibe de sua propriedade em Cajazeirinhas-PB, hoje pertence a Cristovão Amaro), e foi reclamado pelo proprietário do relógio. Então correu para a casa de Tomazinho e perguntou a dona Juvina sua esposa: -`` Eu dei corda no relógio de Zé Leopoldo, fiz bem ou fiz mal?`` Ela disse que não era certo, e ele saiu.
Sua paixão por relógio era imensa, pois ela passava todos os dias para olhar o relógio da casa de dona Celina( esposa de Joquinha Queiroga, in memoria), e dizia para ela: -`` Dona Celina, quando esse relógio desmantelar a senhora me dá ele?``
Gostava de relógio com pendulo, desses de parede. Dizia para Neneta, a sobrinha que morava com ele, sempre que ela ia viajar: -`` Traga um relógio da bola branca para mim!`` Segundo a sobrinha ele mesmo pregou o relógio na parede de frente a sua cama.
Chegou Nonato na casa de Ninir, mãe de Tico Show, radialista, que  na época  era moçota, então correu para o muro brincar perto do cacimbão, daí a pouco ele volta e fala para a tia: -`` Joguei a calunga de Ninir dentro do cacimbão, amarrada pelo pescoço ela fez, tibungo, tibungo! Fiz bem ou fiz mal?!``
Nonato, tinha muita vontade de se confessar com o Frei Damião, então por ato de suas missões por Pombal-PB, ele entrou na fila e começou a dizer suas cavilações, então O padre  chamou sua mãe e pediu: -`` Quero que a senhora tenha muito cuidado nele, pois o juízo dele é igual ao de uma criança e será sempre assim!``
Assis da farmácia do povo lembrou que bastava dar um pigarro perto de Nonato que ele urinava no meio da rua. Este fato foi mencionado também por Neuma Paiva, e custou, segundo ela, algumas horas na cadeia velha. Neuma disse: -`` Nonato foi preso porque estava urinando na rua, umas mulheres denunciaram a policia, que o prendeu, mas também o torturou, eram alguns policiais perversos nesse tempo. Para se ter idéia, deram tanto nos dedos de Nonato, que todos as suas unhas ficaram minando sangue e caíram! Maroquinha minha cunhada foi fazer uma visita na cadeia, e viu Nonato lá, então correu e chamou seu Zuza Nicácio(dono da perfumaria e criador a Associação Comercial de Pombal), como ele gostava muito do jovem ordenou sua imediata soltura, e os macacos da policia(termo utilizado pelos cangaceiros na data), obedeceram seu Zuza, sendo ele foi levado para o hospital para fazer os curativos, permaneceu na casa de dona Joana e só foi para casa  de sua mãe depois que as unhas sararam.
Zé de Paiva  disse que sua mãe teve Febre Paratífica, e  que derrubou todo o cabelo. Do outro lado da Rua do Comércio a filha de João Regina, também estava com a mesma doença, então chamaram Dr. Janduhy Carneiro, que examinou as duas e disse a dona Joana: -`` Olhe, sua filha não vai escapar dona Joana, a de João Regina sim vai ficar boa!`` Zé de Paiva disse: -`` Minha avó, fez uns cuzimentos com a alfazema brava, deu para minha mãe, no outro dia ela colocou para fora um bocado de impurezas, e ficou curada, graças a Deus!  A filha de João Regina partiu,  Nonata viu o caixão e ele então disse: `` ô Ninir a filha de João Regina ta dentro do caixão!`` Minha mãe caiu desmaiada! Então minha avó perguntou por que ele havia dito? E ele então disse: `` Ela tinha de saber! `` Depois do fato ele saiu, mas pelo outro lado, pois morria de medo de caixão!
A Nonato o meu muito obrigado, por todos os beneficios, pois em tudo contrubuiu para o engrandecimento da história desta nossa Pombal-Pb. Suas atitudes ingênuas proporcionaram momentos de alegria ao nosso povo e aos que te compreendiam. Que o Deus da vida te dê a recompensa, mostre a sua luz e  te conceda a paz!
                                                                                 Texto Paulo Sérgio

Um comentário:

  1. Parabéns, vc está si demonstrando um grande historiador, pois resgatar essas figuras folclóricas de Pombal é um trabalho que exige fôlego. Saiba que eu tb fiz Nonato correr algumas vezes principalmente quando o encontrava no beco(naquele tempo) dos Correios urinando, aí dava uns gritos e ele vazava.
    Meu caro mais uma vez, parabens.
    Carlos Medeiros

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