quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

José Guilhermino de Santana (Zezinho Sapateiro), 16 de janeiro de 1910 a 21 de outubro de 1981

      Zezinho Sapateiro, natural desta cidade de Pombal, e mais precisamente da Rua de Baixo. Era filho legítimo do casal Guilhermino José de Santana e  Ana Maria de Santana, teve por irmãos Benigno Santana, Saturnino Santana (grande maestro), Custódio e Francisca (ambos in memória).Quando criança, muito cedo trabalhou para auxiliar aos pais, e não diferente das demais crianças do seu tempo, demonstrou muito pouco afeto pelos estudos, e assim sendo, ficou analfabeto, assinando apenas o seu nome, tudo era para encarar a labuta do dia a dia, e as dificuldades demasiadas do homem sertanejo de origem humilde.
Aos dezessete anos, Zezinho aprendia o ofício de sapateiro, onde anos depois tornou-se um grande profissional na arte do couro, pois ele fabricava sandálias currulépes ( fabricada com sola e pneu de caminhão), ainda concertos nestas peças,  ou em calçados diversos, alças de malas, além da fabricação de cintos e outras peças. O fato de ser analfabeto, não o impediu de lutar e alcançar seus objetivos, como se tornar músico e membro da orquestra local( o era com muito orgulho, por profissão e convicção, levando muita alegria aos filhos desta terra de Maringá, com seus companheiros Adamastor Gouveia, Toinho, entre outros, pelas ruas desta cidade), aonde o seu irmão Saturnino, que anos depois veio a ser maestro regente,  mesmo  sendo semi-analfabeto. Agora Sasturnino profissionalmente era o melhor, no concerto de motores de partida, segundo Jerdy Nóbrega.
Dra. Petronila recordou: -`` Dona Toinha, costumava dizer que seu Zezinho quando rapaz, era muito namorador, que tinha várias namoradas, ao mesmo tempo, inclusive ela também! Então certo dia o grupo de músicos foi em um fusca para tocar noutra cidade, salvo o engano a cidade era Malta-PB. Nesse meio tempo entre a saída do grupo de músicos e sua chegada ao destino final, um amigo envia para a casa dos pais de Zezinho um telegrama, cujo teor trazia a seguinte frase: - Zezinho morto, saudades! E todos os conhecidos ficaram aperreados e de plantão esperando o corpo para velar, as namoradas chorando, a mais conformada era dona Toinha! O que aconteceu, é que o digitador elaborou o texto breve engolindo o ‘’de’’ pois na realidade deveria dizer o tal telegrama: Zezinho, morto de saudades! Quando os moços regressaram encontraram muita gente ao redor de sua casa.
O Sapateiro era analfabeto, mas os amigos, Zeilto Trajano, Zé Avelino, José  Fernandes(filho de Dr. Jeferson), e outros que andavam pela alfaiataria de Adamastor, sempre o colocavam para ler atas, cujo teor ele iniciava por sua conta, usando a criatividade para tornar engraçado. Era uma espécie de incremento adicionado ao teor do documento, arrancando grandes gargalhadas dos presentes, até que se retirasse, pondo fim a reunião.
Casou-se no religioso no dia 31 de dezembro de 1939, com a jovem Antônia José de Sousa (nascida em 28 de Junho de 1919, até 06 de maio de 2011, ela era filha do casal José Adelino de Sousa e dona Mariana Francisca de Sousa).  Este unido casal teve nove filhos: Antônio, José de Arimatéia, Geralda, Gracinete, Maria do Socorro e Rosa de Fátima (estes in memória, como seu Zezinho tinha intolerância a lactose, seu organismo, não tinha a enzima que dissolvia o leite, os guris herdaram esta deficiência,  mas ninguém sabia, e ao deixar o leite do peito, era só ingerir leite de vaca que adoeciam desidratando até não surpotarem mais, então partiam), tinha ainda Mércia (que foi a grande companheira de dona Toinha até seu ultimo dia sobre a Terra, mas contou com o apoio leal de sua cunhada Petronila e sua sobrinha Mariana), ainda Maria das Graças e Francisco Santana (Dr. Santana). Segundo Mércia, dona Toinha teve muito trabalho para criar ou fazer escapar estes três, que foram sustentados com Leite condensado, leite de jumenta, e de cabra, sucessivamente, mas apenas três porções, pois quando passava disso adoeciam.
Zezinho e Antônia, tiveram de casar em 18 de fevereiro de 1956 civilmente, quando Graça sua filha, precisou se matricular na escola  Normal, era isso ou não entraria no curso, ainda existia o agravo de os meninos não serem registrados, e se fossem registrados naquela ocasião, ficariam todos como filhos ilegítimos(constando apenas o nome da mãe)!
Certa feita Zezinho Sapateiro procurou o Dr. Atêncio Bezerra (in memória), para uma consulta, o diagnóstico foi gastrite. Nisso o médico disse ao paciente: -‘’ Você deve tomar muito leite!’’ Então o homem olhou para o seu médico e indagou: -‘’ Como é que eu vou tomar leite, se não posso ver uma vaca que eu já me borro todo, doutor?’’
Antônio de Cota, o comerciante mais antigo da cidade, em exercício, revelou em tom cômico: -‘’Eu compro um sapato, e passo seis meses para engraxar ele, e algumas vezes, jogos fora, pois nem graxa ele pega, já ta todo sarrabuiado! Agora Zezinho Sapateiro, todos os dias, quando chegava na sapataria, ele tirava os sapatos, colocava em cima da caixinha, e engraxava. Ele trabalhava de sandália, pois os sapatos dele eram apenas para andar, e me lembra muito bem deste fato, dele chegar dar o polimento no calçado, guardar depois de lustrado e lustrar (com um paninho), ao chegar a hora de voltar para casa. Eu nunca o vi com os sapatos sujos! E continuou dizendo: -‘’ Ele era um bom homem e vizinho tranqüilo, moramos próximo e nunca ouvi uma queixa dele com ninguém’’.
Mércia, sua filha, comentou que em casa Zezinho, era bastante sério, talvez para não perder o moral junto dos filhos, mas na rua, ou no seu ambiente de trabalho, todos os amigos davam conta das anedotas e brincadeiras, que contava e fazia com todos, era bastante extrovertido, basta lembrar das atas que criava na alfaiataria.
Afrânio de Pedro Corisco, disse que a sapataria de Zezinho tinha uns espelhos que ele colocava para enfeitar o ambiente, e no meio destes espelhos havia um bem fininho. Então chegou um camaradinha e perguntou a Zezinho: -‘’Seu Zé, e esse espelho fino para que é? Então ele respondeu bem sério, não essa aí é para espremer espinhas!’’
Mercia disse: -‘’ Santana ainda estudava em João Pessoa-PB, passava as férias aqui em Pombal-PB, e quando ele saía para outra temporada de estudos,  como papai sabia que o filho gostava de tomar umas biritas, então ele percorria todos os botecos da cidade, perguntando cheio de gracinhas: `` Ei, meu filho ficou devendo aqui?!’’
Quando era no carnaval saía sempre no bloco do Sujo, fundado também por Manoel Bandeira (in memória), mas antes da construção do Pombal Ideal Club, ele junto com Manoel de Donária, Adamastor Gouveia, Tié, Saturnino, o gordo de Cabine ( todos in memória), e Diar de seu Júlio, iam buscar músicos de sopro fora, em Catolé-PB, Sousa-PB, Patos-PB e em outras cidades, que traziam para se apresentar na Sede Operária, palco de diversos eventos importantes e bonitos em nossa cidade.  Para ver o carnaval acontecer, seu Zezinho dedicava-se muito no mês de janeiro, dirigia-se quase todos os dias até a prefeitura, para solicitar do prefeito em exercício Dr. Avelino, dinheiro para executar o projeto de diversão comunitária, pois nesse período, era intitulado de ``O Carnaval dos Pobres``, e ficava uma fera quando recebia pouca coisa, chegava resmungando que havia rodado tanto tempo para só receber aquela quantia! Decepções a parte, o carnaval dos pobres acontecia, em alto estilo e festividade, e por lá consumiam lança perfume com a maior naturalidade, complementada a farra num grupo imenso de pombalenses festeiros.
Mercia disse : -`` Quando agente pedia para ir, participar lá na Sede, nós tudo pequeno ainda, papai dizia que não prestava para a gente ir não, porque lá só tinha ponta de osso( no seu linguajar, por lá só tinha bêbado e desmantelo), mas quando foi um ano a gente saiu  e ficou num beco só olhando pela janela aquele povo brincar lá dentro.``
 O amor pelo filhos era tamanho que certa  vez por causa do filho Santana discutiu com Eron(in memória), que na data era membro do bloco Formigão(da família Formiga), o homem acusava o menino Santana de ter furado um tarol do seu bloco, na cisma dos dois, se estranharam, bateram boca, pois Santana negava a acusação e o acusador segurava, e parece até, que depois deste lamentável fato, não mais se falaram.
Em 1971, foi sorteado na loteria estadual ganhando um fusca 0 Km, de cor verde e calotas de alumínio,  e ainda uma boa quantia em espécie, que foi resgatar em João Pessoa-PB. Quando regressou sua filha Graça teve de ir para Sousa-PB para descontar o cheque e abrir uma conta para depositar a quantia, pois ainda não tinha agência bancária em nossa cidade, lembrou Mércia. Contam que foi grandiosa a festa por razão da premiação do velho sapateiro, pois quando chegou aqui, com o seu prêmio, poucos carros existiam em nossa cidade, e por este motivo os amigos organizaram e a banda desfilou no centro da cidade em sua homenagem, uma comemoração justa e bela ao amigo leal. Dias depois, um popular procurou seu Zezinho Sapateiro e todo entusiasmado disse: -`` O senhor devia vender este carro e comprar um mais barato!`` No mesmo passo respondeu o piadista: -`` Mais barato do que este, meu caro, só se for de plástico!`` Aí ninguém agüentou, os que estavam presentes caíam na gaitada!
A Zezinho Sapateiro, o meu muito obrigado, por seus inúmeros benefícios  prestados ao nosso município de Pombal - PB. Obrigado pelos festejos e belos desfiles que promoviam, arrancando aplausos e críticas por parte dos filhos desta terra amada. Que Deus, o Senhor da vida, te conceda a sua recompensa e também a sua  paz.
Texto Paulo Sérgio

3 comentários:

  1. Belo texto, entretanto, carece de uma correção, na passagem:
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    "Quando era no carnaval saía sempre no bloco do Sujo, fundado também por Manoel Bandeira (in memória), mas antes da construção do Pombal Ideal Club, ele junto com Manoel de Donária, Adamastor Gouveia, Tié, Saturnino, o gordo de Cabine ( todos in memória), e Diar de seu Júlio, iam buscar músicos de sopro fora, em Catolé-PB, Sousa-PB, Patos-PB...".
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    O maestro Tié, meu pai, graças à Deus, goza de boa saúde, está vivo e continua morando em Pombal-PB. Atenciosamente, Mezzofani.

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  2. Que bela biografia! Muito parecido com a vida de meu avô José Santana da Silva, que era sapateiro e analfabeto. Antes de seu falecimento perguntei-lhe a origem de nosso sobrenome. Ele me respondeu dizendo, que provém de seu pai, João Santana da Silva ao qual era natural da cidade de Pombal advindo de uma suposta família Santana. Quem sabe ainda não somos parentes? Abraços André Felismino Santana da Silva.

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